quinta-feira, 21 de julho de 2016

KIMO, NOSSO QUERIDO CÃO

FAZ OITO ANOS QUE KIMO, NOSSO PRIMEIRO E INESTIMÁVEL CÃO FALECEU.
RECUPEREI O TEXTO DO BLOG TERRA OPINIÃODOZE.
FOI UM DOS TEXTOS QUE MAIS TEVE COMENTÁRIOS, ALGUNS QUE ME COMOVERAM MUITO, DE AMIGOS E PESSOAS QUE CONHECERAM KIMO.
PENA QUE NÃO POSSA ACESSAR O BLOG E RECUPERAR OS COMENTÁRIOS QUE DERAM AINDA MAIS VIGOR E EMOÇÃO AO TEXTO, QUE ESCREVI DO FUNDO DO CORAÇÃO.

José Roberto- 21/07/16



KIMO, NOSSO QUERIDO CÃO

Ontem, as 13,30 horas morreu Kimo, nosso velho e estimado poodle.
Completaria 17 anos em outubro e já não ostentava a mesma forma, com a saúde corroída ao longo dos últimos anos.
Dizem que um ano de cachorro eqüivale a cinco, seis, oito dos humanos, o que para os padrões caninos o tornava um ancião.
É estranho sentir essa tristeza, esse aperto no coração pela morte de um animal.
Minha filha caçula está com os olhos inchados de tanto chorar pela morte de seu “filho” querido.
Parece até pecado, uma blasfêmia, dispensar a um animal irracional um tratamento dessa natureza.
Mas Kimo, com suas manias, suas birras, seu aprontos e temperamento imprevisível, havia se tornado um membro da família. Sua partida nos causou grande mágoa.
Lembro perfeitamente do dia em que fui buscá-lo, para dar de presente à Fernanda, num distante doze de outubro.
Sempre fui contra a opção de ter um cachorro em casa, ainda mais num apartamento. Achava uma absurdo e até anti-higiênico, criticando acidamente meus amigos e conhecidos que paparicavam seus cães, tratando-os como gente.
Fui amolecido pela persistência de minha caçulinha, que na semana anterior ao dia das crianças havia perdido duas aves de estimação. Um coleirinha e um pintinho bem amestrado, que a acompanhava por toda o apartamento.
Esse pintinho sofreu um bocado, tinha uma penugem rala devido aos banhos e asseio a que era submetido. Nunca soube que pinto ou galinha gostasse de tomar banho e eu cresci rodeado desses “bichinhos”.
Meu coração empedernido não resistiu aos ternos apelos da filhinha, decidindo comprar o filhote desejado.
Fomos juntos buscá-lo no subúrbio distante e creio que nos tapeaream quanto a sua idade.
Deve ter sido desmamado precocemente, pois alem de minúsculo possuía poucos dentes. Coube na palma da mão da Fê, onde se aconchegou em busca de afagos.
Barrigudinho estava cheio de vermes, pois era alimentado apenas com bananas. Andava rebolando arrastando a barriguinha no chão, era mesmo uma gracinha que logo conquistou a todos.
Demos a ele um tratamento de primeira, com as vacinas, alimentação balanceada, fortificantes, tudo conforme o figurino.
O bichinho crescia a olhos vistos, arteiro e sapeca, roendo tudo que ficava a seu alcance. Recordo que destruiu a mão de diversas “Barbis” da coleção de minha filha. Devorou umas frutinhas de cera, que ficavam sobre uma mesa baixa na sala.
Certa ocasião traçou um tubo inteiro de hipoglós. Tínhamos que ficar de olho, pois o esganado comia tudo que estivesse a seu alcance, depois passava mal.
Era tratado como uma criança pela Fernanda, que conversava com ele, o penteava, vestindo-o com as mais diferentes roupinhas, era um grande companheiro.
Quando nosso filho foi estudar nos Estados Unidos e a família foi junto para conferir a Universidade e suas acomodações, ela se recusou a deixá-lo com estranhos, preferindo ficar em casa desfrutando de sua companhia.
Essa mesma situação repetiu-se em diversas oportunidades. Fê somente concordava em viajar, sabendo que alguém de casa ficava na retaguarda, olhando pelo Kimo.
Ao contrário dos exemplares de sua raça, que são dóceis e amigáveis com estranhos, Kimo aprontou muitas.
Deixava a pessoa entrar tranqüilamente, mas na saída atacava e mordia os calcanhares de todos que não atentavam para nossos alertas.
Nos envergonhou muitas vezes, machucando amigos, sobrinhos, tios, entregadores de correspondência, serventes do prédio. O danado era traiçoeiro, enfrentava até os membros da família sem se intimidar.
Deve ter mordido todos de casa em mais de uma ocasião. Apanhava(de leve) mas não aprendia, tinha mesmo gênio ruim.
Dormia no quarto da Fernanda até a chegado do Vick, um Pug caríssimo que havíamos dado de presente para Dona Dita, minha sogra, mas que trouxemos de volta quando constatamos que não estava recebendo o tratamento adequado.
Dormia no banheiro fora da casa, coisa para vira latas e não para um puro sangue.
Imaginem como as situações mudam. Eu que não gostava de cães em apartamento tinha logo dois!
Percebendo o chamego da dona com o novo filhote, kimo transferiu sua preferência para Regina, passando a seguí-la por todos os cantos e a dormir em nosso quarto.
É impressionante com a gente muda quando tem sempre ao lado um animalzinho de estimação, alegre, esperando por nossa chegada.
Nunca guardou mágoas, mesmo após uns tapas pelas suas traquinagens, sempre estava pronto a nos festejar e agradar.
Com o passar dos anos foi ficando cego, tomado por uma catarata brava, não sendo recomendada uma cirurgia pelo fato de não se dar bem com a anestesia.
Repentinamente ficou surdo feito uma porta. O olfato funcionava bem e era seu grande aliado.
Conhecia perfeitamente a disposição dos móveis no apartamento. Quem não notasse seus olhos opacos nem percebia sua deficiência visual. Movimentava-se com desembaraço, contando com sua velha memória.
Foi graças ao Kimo que meus instintos de moleque malvado do interior foram definitivamente abolidos.
Eu que havia sido um grande caçador de passarinhos, coelhos e outros bichos, gostava de amarrar bombinhas no rabo de gatos e cachorros, tornei-me um moleirão, não podendo cruzar com um vira-latas abandonado, sem sentir uma grande angústia e vontade de trazê-lo para casa.
No início desse ano teve uma trombose, dando-nos um grande susto. Recuperou-se razoavelmente, perdendo parte da agilidade nas pernas traseiras.
Acompanhávamos angustiados o aumento de suas limitações.
Ontem a noite, deu sinais que não estava bem. Teve uma espécie de convulsão rápida mas se recuperou.
As três horas da manhã nos acordou com uma tosse engasgada e falta de ar. Melhorava um pouco e logo depois tinha outro acesso. Percebemos que sua saúde definhava.
Logo cedo, minha filha o levou para uma clínica especializada, sendo diagnosticado problemas no coração.
Ficou internado e em seguida soubemos que havia tido uma parada cardíaca, mas conseguiram reanimá-lo.
Vendo a grande sofrimento de Fernanda com os olhos inchados de tanto chorar, logo após o rápido almoço, fomos a clínica checar qual era seu estado.
Chegamos as treze e trinta, no exato momento em que estava tendo a terceira parada cardíaca, quebrando finalmente sua tenaz resistência.
Foi um grande baque. Um sentimento de perda difícil de descrever.
Estamos de luto, muito tristes. Uma pesada sombra paira sobre nós.
Sabemos que toda essa amargura logo será arrefecida, ficando apenas as boas lembranças do velho e querido Kimo.
Seu corpo sem vida, descansa nos jardins de nosso prédio.

Jose Roberto-18/07/08


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