terça-feira, 10 de julho de 2012

VINHOS


VINHOS



Jamais teria a pretensão de escrever sobre vinhos, se não tivesse lido por acaso, uma propaganda do Supermercado Mundial publicada no O Globo da ultima sexta-feira, anunciando preços especiais para o festival de queijos e vinhos.

Bati os olhos no anúncio e lá estava a garrafa do vinho português, em primeiro plano, com um nome espetacular que sem dúvida, deve justificar o elevado preço: MONTE DOS CABAÇOS.

Deve ser um vinho muito requintado, que os entendidos, ao degustá-lo, sentirão o aroma de colônias, sabonetes, pentelhos e do indefectível xixi.

Coroando esse mutirão de aromas bacantes, destaca-se o onipresente perfume de bacalhau, pois um bom vinho português não pode renegar suas origens.

Brincadeiras e gozações a parte, o vinho realmente tem um nome supimpa, de dar água na boca, induzindo o ávido cliente a correr  ao supermercado para não perder a magistral oferta.

De vinhos não entendo patavina, embora seja um apreciador dos tintos, desde que não custem mais que 30 pratas e desçam macio, sem arranhar a garganta.

Tenho encontrados bons chilenos e argentinos que me satisfazem plenamente(vinhos, obviamente).

Cheguei a gostar do Miolo nacional, logo que foi lançado.

Como fez sucesso, a vinícola cresceu demais, aumentando muito a produção. Para meu gosto, atualmente o vinho está bem fraquinho. Até que dá para engolir, mas nem de longe lembra o das safras iniciais.

Como frisei, tomo aquele que me agrada e que não seja caro, ao contrário de alguns amigos metidos, que também não entendem porra nenhuma, mas como estão cheios de grana, tomam pelo preço.

Quanto mais caro pagam pela garrafa num restaurante, mais satisfeito ficam, e ainda saem arrotando vantagens.

Recordo de uma ocasião que fomos almoçar num restaurante em Niterói, especializado em bacalhau, se não me falha a memória Gruta de Santa Maria.

As entradas e o prato principal realmente eram deliciosos, porem o vinho que tomamos foi uma merda.

A dona, uma portuguesa esperta, percebendo que alguns sentados à mesa exalam cheiro de grana alta, e insinuavam entender de vinhos, ofereceu-lhes um especial, que custava 300 mangos.

Achei o preço absurdo, mas fiquei calado.

O tal do vinho devia estar encalhado há muito tempo, pois sua cor já estava alterada e para completar, repleto de borra.

Com toda “mise en scène” , foi servido um tiquinho para degustação.

Não cuspi na hora porque sou razoavelmente educado, porem foi o mesmo que engolir vinagre azedo, com validade vencida.

Meus amigos ao contrário, com cara de babacas acharam o máximo, bebendo daquele fel sem fazer caretas.

A dona do restaurante tentou nos impingir uma nova garrafa. Como finalmente reclamei, trouxe outra de 200 reais.

Provei novamente e também não gostei. Outra porcaria para engambelar trouxas, metidos a sommelier.

A terceira garrafa foi mais em conta, 100 pratas, um vinho até razoável.

Meus amigos riam de minha pretensa ignorância vinícola, satisfeitos em pagar um nota preta por um vinho, que de pelo meu paladar, nem para tempero serviria.

Ainda por cima, me taxaram de pão duro, dando a entender que minha rejeição nada tinha a ver com a qualidade do vinho, estando apenas relacionada ao preço.

Não gostei do preço e muito menos do vinho.

Um dos presentes nesse almoço, Otacílio “o pequeno gigante de Exu”, metido a entendedor, presenteou-me posteriormente com duas garrafas de um vinho nacional pouco conhecido, Dom Laurindo, de pequena produção, mas de ótima procedência.

Uma das garrafas, reserva especial, havia custado 100 reais, outra mais comum, 30 reais.

Depois de entorná-las, fui obrigado a apresentar-lhe o veredicto: os dois eram bons, mas o de trinta muito melhor.

As pessoas tem que cair na real e deixar de ser obtusas, pois nem sempre o mais caro é o melhor, principalmente no caso dos vinhos.

Voltando a oferta do Mundial, vou abrir uma exceção e comprar uma garrafa, com valor acima do meu teto, R$49,90.

Pretendo degustar esse vinho, com um bom bacalhau, antecedido de uma farta salada de grelos(um tipo de brócolis portuguesa)

Quem sabe, no futuro, possa visitar o país de nossos descobridores, pois coisa rara hoje em dia, estou ávido para ver de perto, a região que produz o “Monte dos Cabaços”.



José Roberto- 10/07/12




8 comentários:


  1. Esse vinho deve ser de primeira, vou comprar uma meia duzia.
    Você tocou no ponto certo, pois a maioria não entende nada de vinhos, apenas se fazem de besta e gostam de pagar caro por porcarias.

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  2. Para compensar a postergação do "Monte dos Cabaços", você acabou comendo "grelos" que, "mutatis mutandis" é do mesmo ramo. Brincadeiras à parte, o monte dos Cabaços é o lar da família com este sobrenome, em Portugal, liderada por Thiago Cabaço, o patriarca e responsável pela vinícola.
    Visentin.

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  3. Estamos cheios, em todos os sentidos, dos pseudos-sommeliers e enólogos, que com certeza já poderiam fazer parte do livro "Tratado Geral dos Chatos", escrito pelo Guilherme Figueiredo.Mas, que o Monte de Cabaços deve ser bom, isto tenho certeza, mesmo não fazendo parte dos chatos "conhecedores de vinhos" de plantão. O negócio é tomá-lo logo antes que desapreça do mercado...

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  4. Monte de cabaços a parte, você descreveu a maioria de meus amigos, que se dizem entendidos de vinhos mas não entendem droga nenhuma.
    Vão pelo preço e se julgam sabidos.

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  5. Bom texto, retratando como as pessoas gostam de fingir conhecer aquilo que ignoram,
    Um bom vinho não depende do preço, como já provou um especialista americano.
    O que vale e o gosto e paladar de cada um, o resto é frescura.

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  6. Zé, sou como vc, adoro vinho tinto, o preço limite de compra para mim fica em torno de R$ 30,00, mas tem um especialissimo que vc deve bebê-lo (ou degustá-lo se preferir) é um Malbec argentino denominado Alamos. Bebi-o a primeira vez num restaurante italiano de frutos do mar, Caruso em Porto Madeiro. É delicioso, tenho certeza que vc e a Regina vão gostar. Acho que vc o encontra no Lidador ou Vilarino (no Centro).
    Abs Ana (dona da Nina e Tobias)

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  7. Minha cara Ana
    Obrigado pela paciência de ler meu blog e em especial pela informação.
    Vou comprar uma garrafa do Alamos para experimentar, desde que custe por volta dos 30 mangos.
    Abraços,

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  8. Não sou conhecedor de vinhos, mas os vinhos Argentinos da uva Malbec são ótimos. Agora só falta encontrar o "Alamos", que penso não ser difícil em SP.

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