terça-feira, 24 de julho de 2012

LÁGRIMAS QUE REDIMEM


LÁGRIMAS QUE REDIMEM



Escrever o texto de ontem, sobre a morte de minha mãe foi muito difícil.

Normalmente chego ao escritório, sem saber qual assunto a ser abordado. A conversa com amigos, velhas lembranças, uma manchete dos jornais, mais um caso de dólares na cueca, enfim qualquer tema que não seja muito maçante e desperte o interesse de meus raros e fieis leitores.

Ontem, ao sentar diante do computador, sabia de antemão que escreveria sobre mamãe.

Levo normalmente entre 50 e 60 minutos para escrever meus textos, sem minutas, rascunhos, deixando que as palavras fluam com naturalidade.

Muitas vezes, essa espontaneidade me leva a cometer graves erros e omissões, porem, acredito, que o objetivo principal, mesmo que capenga dos meus escritos, no final das contas são atingidos.

Ontem foi diferente!

Chorei pouco no enterro de mamãe, pois sou metido a durão, procurando sempre reprimir as emoções e sentimentos.

Ontem foi diferente!

A medida que teclava as palavras, sentia o rosto afogueado e lagrimas incontidas rolavam por minha face.

Tinha a nítida impressão que o duto lacrimal interrompido, finalmente rompeu-se, como um dique represado, impossível de conter uma enxurrada de emoções.

Levei o dobro do tempo, entre interrupções, fungadas, o nariz vertendo aquela irritante coriza, fazendo sentir saudades do velho lenço de tecido, hoje pouco utilizado.

Com os olhos embaçados tentava caprichar, pois mamãe foi a leitora mais fiel e incondicional das minhas crônicas, a ponto de se vangloriar com as amigas e parentes.

Nos últimos tempos, já fraca e alquebrada, pedia as dedicadas filhas, que imprimissem e lessem para ela os meus textos, dando a impressão de momentaneamente se dopar, diante das perorações impertinentes e as vezes esdrúxulas contidas no meus escritos, mas que a inebriavam com um forte paliativo, minorando suas dores corporais.

Me comovi  extremamente aos escrever essa difícil crônica, que poderia ter sido bem melhor, se não fosse tolhida pela comoção recente.

Tenho o hábito de somente ler os comentários sobre meus textos, a noite, no computador da minha mulher(em casa, sou o único que não dispõe desse artefato mágico) e na manhã seguinte, antes de começar a escrever o blog do dia.

Porem, por ser um tema especial e percebendo que de imediato começavam a surgir comentários dos amigos e parentes, acessei o blog diversas vezes e chorei ainda mais.

As demonstrações de afeto contidas em todos os apartes me tocaram fundo, cada qual a sua maneira, com palavras doces e generosas, mesmo de pessoas que não conheceram mamãe pessoalmente, mas conheceram seus atos e seus frutos.

Hercília partiu, mas não deixou um vazio.

“Saudade é o amor que fica”

Espero que mamãe, lá no céu, tenha gostado do meu texto e nesse exato momento, o esteja lendo para Tonico, em voz alta, como sempre costumava fazer.



José Roberto- 24/07/12




7 comentários:


  1. Você tem demonstrado uma grande sensibilidade, apesar dos textos amargos que escreve as vezes.
    Não tente ser durão, deixe seu coração ser levado pela emoção.

    ResponderExcluir

  2. Belas e tocantess palavras de um coração poeta, que insiste em ser duro consigo mesmo, quando na realidade é um moleirão.
    Continue escrevendo essas coisas maravilhosas e tocantes, pois fazem bem a nossa alma.

    ResponderExcluir
  3. Você fechou com chave de ouro um texto comovente sobre sua querida mãe.
    Que nosssa solidariedade seja seu conforto.
    Abraços,

    ResponderExcluir
  4. Perdi meu pai a uns 20 e poucos anos atrás, com 70 anos. Era um jovem nos dias de hoje. Estava bem, mas ao operar-se de um aneurisma na haorta abdominal, morreu pela cura, no pós-operatório por causa de uma enfisema. Foi uma tragédia para nós tres, eu, minha mãe e irmã. Meu pai era um esteio para a nossa família, com a sua sabedoria, atenção, carinho e afeto incomensuráveis. Não sei como é perder uma mãe, pois ainda a tenho, graças, apesar da ligeira demência senil, por causa dos 94 anos incompletos, por isso me solidarizo com vc e compartilho de seu sentimento de perda, que deve ser enorme. Abs Ana (dona da Nina e Tobias)

    ResponderExcluir
  5. As suas duas cronicas, dedicadas a sua saudosa mãe, foram recheadas da emoção que fluiu de dentro do seu coração. Para aqueles como eu que perderam a mãe, foram palavras de lembranças de tudo que elas fizeram nas nossas vidas.

    ResponderExcluir
  6. Tio, muito joia! Parabéns! JB

    ResponderExcluir