quinta-feira, 11 de setembro de 2014

FOI UM TEMPO QUE PASSOU

FOI UM TEMPO QUE PASSOU

Ontem, a família toda esteve reunida para um almoço festivo em comemoração ao aniversário do Junior.
Após o almoço, Lelê vencida pelo cansaço, recolheu-se com a avó para uma merecida soneca, Maria Silvia foi para seu quarto e Jú se mandou para a rua, para tratar de assuntos particulares.
Ficamos eu e Fernanda na sala de TV, papeando e assistindo o trágico jogo de Basquete, entre Brasil e Sérvia.
Após um início de terceiro quarto horrível, desistimos do jogo e embalamos na conversa.
Fê é uma verdadeira matraca. Fala “pelos cotovelos”, mas também é uma ótima ouvinte, principalmente escutando os casos contados pelo pai.
Reconheço que sou conversador, gosto de um papo na fila do banco, do supermercado, na sala de espera do consultório médico, com o motorista de táxi. Meu filho, para me espicaçar, costuma me chamar de “Forrest Gump”, o contador de histórias.
Veio a baila o assunto sobre diferença de idades,  da simplicidade das coisas passadas, das grandes mudanças, das adaptações que  nós, seus pais, tivemos que assimilar.
Lembrei, que nas escolas, “Grupo Escolar” como eram chamadas, todas em perfeita ordem, limpeza e conservação, sentávamos em carteiras duplas, com um buraco no meio, na parte superior, para colocação do tinteiro.
No primeiro ano, só usávamos o lápis.
A partir do segundo ano primário, passávamos a utilizar a famosas canetas de pena metálica, que a cada quatro ou cinco palavras precisavam ser molhadas no tinteiro, retirando-se o excesso com cuidado, para não borrar o caderno. Para minimizar esse problema, contávamos com o mata-borrão, que infelizmente, muitas vezes nos socorria tardiamente.
Escrever com essas canetas requeria uma certa delicadeza, pois aqueles de mão pesada como eu, alem de estragar com rapidez a penas, produziam uma escrita falha e dupla, devido o excesso de pressão, que abria o bico(ponta) das penas.
A primeira caneta tinteiro comum, hoje démodé, foi uma Champion, ganhei quando estava no quarto ano. Já existiam as famosas Canetas Parker 21 e 51, porem muito caras.
A salvação da lavoura, a chegada da esferográfica, pelo que me lembro, só ocorreu pra valer quando já estava no ginásio. Não sei precisar a época, mas aceitei a novidade com grande alívio.
Divagando, lembrei de outro invento que recebi com muita satisfação.
Não lembro do dia, mas recordo que foi em 1975, já morando em São Paulo, trabalhando na Cesp, quando um colega apareceu com um aparelho de barbear descartável francês.
Minha experiência com aparelhos de barbear começou de forma equivocada.
Com uns seis anos, presenciei meu pai fazer a barba e achei o ritual interessante.
Retornei sorrateiramente ao banheiro e tentei imitar meu velho. O resultado foi um corte, cuja pequena e quase invisível cicatriz carrego até hoje em meu rosto.
Nunca me dei bem com os antigos aparelhos que utilizavam laminas descartáveis. Por mais cuidado que tomasse, sempre apareciam alguns cortes doídos, chatos e sanguinolentos.
Comprei do colega o aparelhinho francês e achei uma maravilha, embora um pouco caro, comparado com as laminas descartáveis.
As primeiras barbas sem escoriações. Uma Beleza.
Adotei a modernidade sem arrependimentos ou delongas.
Narrando para minha filha essas passagens antigas, eventos que ocorreram há tanto tempo, numa época em que a vida era realmente muito mais singela, transmitindo nosso espanto diante de inovações que hoje são corriqueiras,  a maioria das quais evoluíram sobremaneira ou caíram em desuso, constatamos que somos espécies pré-históricas, diante do estado atual da arte.
Difícil para os mais novos entender nosso espanto, nossa admiração, por coisas tão simples, mas que foram os primeiros passos a caminho da revolução tecnológica, da qual, somos as derradeiras testemunhas oculares.

José Roberto- 11/09/14


Um comentário:


  1. Quem ler o texto pode pensar até que é uma xaropada saudoso dos mais velhos, todavia, que viveu a época, tem certeza que esses eventos simples, foram coisas gigantes e maravilhosas, que nos assombraram e facilitaram nossas vidas.
    Você deve ter ainda muito a contar.
    Abraços,
    Pedro Paulo

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