quinta-feira, 12 de março de 2020

MARCAS DO TEMPO


MARCAS DO TEMPO

Enfrentei ontem novamente a zona perigosa da região central da cidade, conseguindo mais uma vez retornar incólume.
Não posso continuar abusando da sorte e nem forçar meu anjo da guarda a trabalhar dobrado, pois o centro do Rio e terra de ninguém(camelôs, trombadinhas, trombadões e afins).
O motivo de minha ousadia era justo, pois iria participar de uma reunião dos Aposentados da Eletrobras- Plano BD, que a Fundação Eletros, contrariando direitos adquiridos, tenta empurrar para os fodidos aposentados, o ônus pela cobertura  de prejuízos bilionários causados pela má gestão de diretorias anteriores, tascando em nossos contracheques descontos adicionais, que chegam a representar 30% dos nossos minguados proventos.
Fiquei espantado ao chegar ao local da reunião.
Calculo que uns 200 velhos e velhas ouviam atentamente as explicações de um dos diretores da Associação. Reconheci apenas dois dentre a velharia, que como eu, estavam em condições bem razoáveis, embora com as cinturas mais arredondadas(Vladimir e Carlão).
Esses reencontros depois de 20/30 anos são uma tristeza.
Recordo de outro quando ainda estava na ativa, patrocinado pela CESP(A Cesp Mostra o Interior). Fui convidado e apareci no Parque do Ibirapuera, local do evento.
Na ocasião, ao menos reconheci boa parte dos ex-colegas de trabalho, inclusive uma ex-gostosonas metidas, secretárias da diretoria que me olhavam com o nariz empinado.
Cumprimentando as tribufus trocamos mentiras. Elas dizendo que eu estava muito bem, eu respondendo na mesma toada, sorrindo e pensando: “cacete de mulherada acabada, não dão nem pra meia sola”.
Um  encontro inesquecível foi na comemoração de 35 anos de formado, a única que compareci.
Nossa turma era pequena e uma boa parcela já tinha batido as botas.
Decepção em ver ex-colegas vaidosos, agora barrigudos e carecas; e as ex-apetitosas que nem se dignavam a me dar uma olhadela, trajadas com decoro, respeitáveis senhoras para as quais cederia de bom grado meu lugar no ônibus, porem apenas isso.
Que tristeza...ou melhor, que alegria por estar vivo.
O tempo é inclemente, não perdoa.
É cruel com alguns, benevolentes com outros, por razões que só a vida de cada um pode explicar.
Na reunião do pessoal da Eletrobras, cuja idade média era bem superior aos setenta, pensei: “Se alguém der um espirro, vai ser um Deus nos acuda”
Olha o Coronavirus aí minha gente!!!
Tendemos pensar que estamos em razoável forma, enquanto avaliamos nossos colegas com rigor; estão acabados. Todavia e bem possível que pensem exatamente a mesma coisa, pois muitos me olharam, sorriram e não me reconheceram.

José Roberto- 12/03/20




Um comentário:

  1. É isso mesmo. Acontece com todo mundo. Eu participei de mais de dez encontros de amigos de infância em Juiz de Fora. Como nossas idades foram avançando impiedosamente esses encontros acabaram. Eu acho que até foi melhor, pois cada ano perdíamos um amigo.

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