VELHO, MEU QUERIDO VELHO

VELHO, MEU QUERIDO VELHO

Ainda ontem minha mulher me olhou e disse: “você está a cara de seu pai”.
A medida que envelheço e olho no espelho, principalmente quando faço a barba, constato que realmente estou muito parecido com meu velho e saudoso pai, ao menos na aparência.
Já disse um milhão de vezes, escrevi outras tantas e um dos meus melhores textos, sem dúvida foi e ainda é, “Tonico, meu pai”, onde dou uma rápida pincelada retratando o homem especial ele foi.
Não tenho a pretensão de ser comparado a meu pai, pois apesar de ter herdado alguns de seus dotes genéticos, impossível igualar sua bondade, educação, delicadeza e honestidade.
Jamais presenciei meu pai levantar a voz ou ser indelicado com minha mãe, merecedora de seu amor incondicional, a quem sempre destinava palavras e gestos de admiração e afeto.
Há uma tendência de todos elogiarem e ressaltarem as qualidades dos entes queridos, principalmente depois que morrem, mas não é o caso de Tonico, que de direito e de fato deixou muitas saudades.
Não recordo de meu pai dizendo algo que não fosse elogio para as noras, da mesma forma sempre delicado com os familiares que o cercavam.
Quando flagrava os filhos fazendo alguma “arte”, algo errado, chamava de leve nossa atenção, nos ameaçando: “vou contar para sua mãe”, que era quem botava ordem na casa.
Uma das coisas que puxei de meu pai foi o gosto pela rotina. Lembro que ele sempre acompanhava o “Reporter Esso”, cuja primeira edição era às 12,55 horas, não para ouvir as notícias, mas para conferir a hora no seu belo relógio de bolso(um Patek Philipe que herdou do meu avo).
Não chego a esse extremo, mas gosto de fazer as coisas conforme programado, seguindo uma rotina diária com poucas exceções, embora como aposentado, não tenha muito o que fazer.
A história de amor entre meu pai e minha mãe é digna de um conto de fadas, pois Tonico estava meio que comprometido com a filha mais velha de meu avo Gimaiel, todavia ao ver a jovem Hercília resplandecente em seus 14 anos, não resistiu a seus encantos, tomando-a como esposa e “vivendo felizes para sempre”.
Durante toda sua vida jamais olhou para outra mulher e ainda bem que teve a sorte de “partir” antes de Hercília, da qual era totalmente dependente.
Meu pai foi um homem simples. Se na vida terrena não deixou grandes feitos alem da marca de sua bondade e retidão de caráter, sua chegada ao céu causou tremendo alvoroço.
Já comentei sobre a pontinha de inveja dos anjos, santos e querubins, ao ver o tratamento especial que Deus reservara a Tonico, cuja chegada era aguardada com pompa e circunstância.
Devidamente assentado em lugar especial ao lado do Criador, Tonico zela por seus filhos e parentes, reservando um cantinho especial para todos.
Com as bênçãos e o exemplo de Tonico, tenho tentado ser um bom pai e apesar das muitas falhas, da impaciência, da eventual irritação por coisas banais, faço o possível para cumprir com minhas sagradas obrigações, mantendo em bom nível as relações familiares.
Espero que a soma de todos os meus erros seja bem menor que a dos acertos, pois sem as qualidades intrínsicas do meu Velho, tentei e tento, dar o melhor de mim.
Deixando de lado o apelo comercial desta data simbólica, é uma homenagem singela que sempre faço aos meus amigos que são pais, ou os que são apenas filhos, sem pejo ou vergonha de ser piegas ou cafona.
Feliz dia dos pais!

José Roberto- 10/08/18