segunda-feira, 20 de agosto de 2018

PAPELÃO DO VELHO


PAPELÃO DO VELHO

Já tínhamos combinado o churrasco umas trinta vezes, todavia, na hora da confirmação sempre havia um dos “craques” da turma que não poderia comparecer e assim íamos remarcando “sine die”.
A muito custo ajustamos os ponteiros para domingo, 19 de agosto.
Presença de todos confirmada, inclusive esposa e filhos para congraçamento geral, pois é meio complicado programar um regabofe num domingo sem levar “as respectivas” a tiracolo(eu pelo menos, não tenho esse alvará).
Como mais velho e patrono da turma do tênis, assumi a responsabilidade pela compra das carnes, acessórios e bebidas, ficando também encarregado pelo comando da churrasqueira.
Convem salientar, que nos três dias que antecederam ao evento, não sei se por conta de umas salsichas ou de bocado de azeitonas pretas que devorei com extrema gula, na quinta a tarde comecei a sentir uma revolução em meu baixo ventre.
De madrugada iniciei minha via sacra rumo ao banheiro, “obrando” umas cinco ou seis vezes até o raiar do dia.
Com o fiofó em brasa iniciei na sexta pela manhã uma rigorosa dieta, pois queria estar em plena forma no domingo, dia do encontro e dos comes e bebes da turma.
Sábado transcorreu na mesma toada, uma cagada aqui, outra ali, com o “jato líquido” transformando-se paulatinamente num bolo fecal mais consistente, mas ainda arenoso, dando a entender que a merda iria endurecer(até rimou).
Noite de sábado para domingo normal, sem visitas ao trono, e de manhã apenas um expelição de dejetos razoavelmente sólidos, confirmando meus prognósticos de melhora.
A partir das 10,00 horas, um leve jogo de duplas, pois minhas pernas descarnadas sentiam ainda sintomas do esforço exigido nos dias anteriores, devido penosa “curribamba”.
Após um rápido banho para retirar a “nhaca”, iniciei os trabalhos por volta das 12,00 horas, acendendo o fogo, preparando espetos com corações e drumetes, entremeando com algumas talagadas de Juggermeister, aguardando a chegada dos parceiros.
Eis que logo depois surgem Miguelito, notório por seu “gancho de direita indefensável” e Marcelo “formiga atômica”, o ligeirinho que vai em todas, acompanhado de sua digníssima.
Pouco depois, todo de branco, cabelo engomadinho e cheirando a lavanda francesa, surge Juarez, o bichado, que depois que apareceu no GNT anda metido pra cacete, só anda nos trinques.
A turma toda já sacou que a dor na panturrilha era puro fingimento, pois a dita cuja deslocou-se atualmente para o ombro e cotovelo.
A conversa, a cervejada e as doses de Jugger foram melhorando num crescente, até que pintou no terreiro a “Síndica”, que instantaneamente endereçou ao velho, seu célebre e controlador “olhar 43”, acompanhada da carioquinha mais bonita do Brasil, Lelê e da primogênita Maria Silvia.
Em sequencia, chegaram a esposa de Miguelito; Paulinho explicadinho também com a respectiva senhora; de contrapeso, como apêndices, meu genro Bruno e minha filhota Fernanda, completando o grupo que marcou presença em tão importante evento.
 Ausentes, os tratantes que inventaram desculpas esfarrapadas para justificar o absenteísmo, Edmar “mãos de tesoura” e Carlos “cacetada” que gosta de castigar a bolinha.
Edmar embromou bastante, alegando por fim que tinha que arrumar a bicicleta da sogra, e Carlos que estava trabalhando no Banco desde as 6,00 horas da manhã.
Desconfio que Carlos estava rasgando e destruindo documentos, pois a Lava-Jato anda prendendo diretor de banco e sabe como é, “quem têm, têm medo”.
Edmar utiliza sempre a mesma desculpa, quando não é a sogra, é o cunhado, ou a obrigatória visita a suas “vitimas”.
Mesmo lamentando a ausência dos dois sacanas, tudo corria bem e a manguaça corria ainda mais solta.
Depois de encher exageradamente o bucho, após três dias de dieta,  de tomar algumas(muitas) doses de Juggermeister e copos e copos de cerva, senti repentinamente que baixou sobre mim uma certa tristeza, um torpor no ventre, um arrepio nas tripas.
Mal tive tempo de levantar e chegar a porta do banheiro, onde despejei praticamente tudo que havia gulosamente ingerido; pedaços semi digeridos de lingüiça, drumete e carne, regados ao ranço de bílis e vapores alcoólicos, que certamente incomodou os convivas, pois hoje de manhãzinha constatei que haviam limpado minha sujeira.
Ainda bem que as mulheres e convidados já haviam se retirado, não presenciando o papelão e o vexame do velho síndico, que tem pavor de vomitar, pois após esse ato humilhante fica imprestável, completamente entorpecido.
Recordo que lá pelas tantas, já escuro, fui gentilmente rebocado ao meu apartamento pelo pequeno Marcelino, pequeno em tamanho mas com braços fortes, um gigante na quadra e em cortesia.
Me lembro “en passant” que Peter, o mais novo participante do grupo apareceu, mas já estava “pra lá de Bagdá” e nem mesmo sei se papeamos.
Cheguei em casa tão amarrotado, que até a patroa ficou preocupada e nem mesmo deu qualquer bronca.
Acordei hoje por volta das três da matina, preocupado com uma provável continuação da caganeira ou com um eventual enjoo, fruto da ressaca.
No trono, constatei que minhas preocupações eram infundadas, pois a textura do “moreno” estava razoável e o estomago em boas condições.
Uma das grandes besteiras que costumamos dizer, é que com a idade vem a experiência.
Balela pura, pois vou ficando mais velho e não aprendo nunca.
Continuo guloso e as vezes descuidado com a “marvada”.
Todavia, pelas mensagens que recebi agora de manhã, parece que apesar dos pesares, valeu a pena.
No próximo encontro prometo ser mais cuidadoso.
Da mesma maneira que não acreditem em promessas de políticos, fiquem desconfiados das promessas do Zé.

José Roberto- 20/08/18











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