segunda-feira, 3 de julho de 2017

MEU AMIGO PATERNOST

MEU AMIGO PATERNOST

Retornando ontem de Itanhaém,  recebi consternado a notícia da morte de meu velho amigo, companheiro de trabalho e de mergulhos, Pedro Paternost.
A pancada no peito foi tão grande que fiquei  fora do ar por instantes, quase perdendo a entrada da linha vermelha, pois estava dirigindo e a triste notícia tinha sido repassada por minha mulher, que recebera um watsapp comunicando o ocorrido.
Chegando em casa, tentei afoitamente contato com antigos colegas da Cesp que ainda moram em Atibaia, sem sucesso, conseguindo finalmente contatar com outro velho amigo e companheiro, Celso Chaves, que reside em São Paulo e que já tinha conhecimento do triste evento.
Pedro, após atirar nas pernas do irmão(Boris), de quem cuidava desde a morte dos pais, há mais de 15 anos, foi morto pela polícia, pois segundo consta, se recusou a entregar a arma, sendo morto pelos policiais que atenderam ao chamado do irmão que havia sido ferido.
Desde que  mudou para Atibaia após a morte da mãe,  Pedro assumiu a incumbência de cuidar do irmão mais novo, Boris, de 59 anos que tinha algum tipo de retardo mental, incapaz de cuidar de si próprio, pois nunca havia trabalhado de forma regular, sempre dependente.
Pelas poucas ocasiões que tive contato com ambos, me pareceu que viviam em plena harmonia, obviamente com Pedro conduzindo as conversas e tudo o mais, e o mano Boris sempre concordando com tudo, sorridente e tranquilo.
Estiveram em minha casa a pouco mais de um ano, de passagem para Vitória, onde Pedro tinha um apartamento e uma casa na praia.
Trouxeram de presente uma estranha e bela planta, que floresce apenas uma vez por ano, e a maravilhosa flor se abre de forma esplendorosa  durante uma ou duas noites, para depois sucumbir.
Pedro tinha o hábito de me ligar quase todos os dias.
Ultimamente, havia notado que algumas vezes enrolava  a voz, como se tivesse meio dopado, pois devido a suas inúmeras doenças, tomava muitos remédios que poderiam comprometer sua dicção e raciocínio.
Conversávamos sobre nossas antigas pescarias e mergulhos, pois foi ele quem me apresentou Caravelas, no sul da Bahia, local obrigatório de nossas aventuras desde 1981.
Mergulhamos também inúmeras vezes na região de Itacurúça e Ilha Grande, depois que comprei um pequena lancha em 1983.
Fomos parceiros de trabalho durante muitos anos, pois o conheci em 1970 em Atibaia, onde trabalhei até o final de 1973.
Vim para o Rio em agosto de 1978 e Paternost  já havia se mudado para Vitória, trabalhando na Escelsa.
Convidei-o para integrar minha equipe recém formada na Eletrobras, em meados de 1979, após o que, alicerçamos nossa amizade reforçada com os mergulhos, vício que havia adquirido a pouco tempo em Itanhaém, junto com meu sobrinho Ricardo, morrendo de inveja ao ver Gatinho arpoar dezenas de maravilhosos robalos, enquanto pescávamos apenas os pequeninos.
Pedro não era de falar muito, mas era um bom técnico e um companheiro leal, tendo ótima índole, sempre levando numa boa nossas gozações, pois foi engordando e ficando preguiçoso, mergulhando pouco, sempre ao lado do barco, matando muitas vezes belas garoupas e badejos, atraídos pelos restos dos peixes que limpávamos para trazer apenas os filés.
Pedro detestava encrencas, evitando discussões tanto no trabalho como na vida particular.
Talvez, nos últimos tempos, acossados por problemas do coração, das diabetes, problemas intestinais e próstata, Pedro tenha sido levado a uma forte depressão, pois em nossas últimas conversas, reclamava muito da saúde debilitada, das constantes viagens a São Paulo para consultas e exames, e dos problemas que tinha com a Eletros, cada vez mais chata por ocasião dos reembolsos.
Sentia que ele não estava bem, principalmente por não ter amigos de fato,  próximos, que pudessem aliviar sua solidão.
Morreu de uma maneira besta, difícil de engolir e assimilar.
Sentirei sua falta, pois acredito que tenha sido um dos poucos que realmente entendeu e captou sua maneira enrustida de ser.
Até o pessoal de casa achava meio estranho a consideração e paciência que tinha com o velho amigo. Segredos da verdadeira amizade entre homens.
Paternost finalmente descansou, pois seu final de vida estava sendo muito difícil, mas sua passagem foi um rito brutal e equivocado.
Todavia, temos que respeitar e tentar entender os desígnios de Deus, que resolveu antecipar a chamada de Pedro para dentro de seu reino, pois esqueci de mencionar, que nos últimos anos, havia se convertido inteiramente ao catolicismo.
Que meu velho amigo descanse em paz.
Nossas lembranças permanecerão firmes enquanto meu velho e alquebrado coração aguentar, pois de tempos em tempos, recebe uma lancetada, mas vamos tocando o barco, pois ainda, se Deus quiser, há muito mar a navegar.
Sentirei sua falta.

José Roberto- 03/07/17


PS-Foto acima de março/1985 (Itacuruça) e abaixo, Carvelas, jan/1984.

3 comentários:

  1. Não entendi, Zé o seu amigo morreu por causa de um tiro da polícia, que não entendeu que ele estava protegendo o irmão Boris? É isso mesmo? Se for isso que peça que o destino o pregou, protegeu tanto o irmão sua vida inteira e morreu por que a polícia achou o contrário. ����������

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  2. É ISSO MESMO. NÃO SEI E NINGUEM SABERÁ A RAZÃO DO DESENTENDIMENTO ENTRE AMBOS, POIS O BORIS ERA INFANTIL E O PEDRO, TALVEZ PUDESSE ESTAR NERVOSO, COM JÁ VIVIA, DEPRIMIDO, E TALVEZ CHEIO DE REMÉDIOS TENHA TOMADO ALGUMA BEBIDA ALCOOLICA. DÚVIDA QUE PERDURARÁ PARA SEMPRE, POIS COMO JÁ AFIRMEI, PEDRO SEMPRE CUIDOU DO IRMÃO.

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    1. Por favor, entre em contato via e-mail com veronica.paternost@gmail.com ou pelo FB com Lucia Paternost. Agradeço

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