quarta-feira, 12 de julho de 2017

MOQUECA CAPIXABA

A MOQUECA CAPIXABA

Fui apresentado a deliciosa moqueca capixaba, se não me falha a velha e cansada memória, em 1976.
Nessa época trabalha na Cesp em São Paulo e fui participar de uma reunião na Escelsa-Cia de Eletricidade do Espírito Santo, em Vitória, patrocinada pela empresa anfitriã, sob coordenação do então jovem amigo Sérgio Pereira(atualmente meio velho, mas firme como uma rocha).
Após exaustivo dia de trabalho, Sergio nos levou para um pequeno restaurante na Barra do Jucú, local simples com chão de terra batida, mas com uma comida que era o verdadeiro jantar dos deuses.
O prato básico era a moqueca, de peixe,  camarão e de lagosta.
Confesso que fiz feio, demonstrando ser um verdadeiro caipira, pois recordo que comi pratos imensos dos três tipos, feito um verdadeiro esganado morto de fome.
Achei a moqueca uma delícia, em especial a de camarão e de peixe, pois como matuto de origem, não sou muito chegado a lagosta, prato chique para metidos que fingem ter paladar refinado.
Não que desgoste do crustáceo, mas prefiro o camarão.
Alguns anos depois, já morando no Rio, trazendo para minha equipe o amigo Pedro Paternost, que até então morava em Vitória e trabalhava na Escelsa, fiquei ainda mais chegada ao prato típico capixaba, pois Pedro, glutão inverterado, era também amante desse apetitoso manjar.
Pedro sabia inclusive os locais onde a famosa panela de barro era fabricada, indispensável para o preparo do rico acepipe. Todas as vezes que passávamos pela cidade durante nossas incursões de mergulho à Caravelas, na volta, comprávamos algumas para nosso uso e deleite.
Antes de usar a panela pela primeira vez, era necessário queimá-la, colocando um pouco de óleo de cozinha em seu interior, levando-a ao fogo, até que todo óleo fosse absorvido pela panela, impermeabilizando-a e fazendo com que tudo que nela fosse cozido, tivesse um sabor específico.
Esse ritual causava uma fumaceira danada. Depois da primeira vez, impregnando o apartamento durante horas, passei a realizá-lo em Itanhaém, num barracão nos fundos da casa da minha sogra.
Tínhamos o hábito(eu e Pedro), de tempos em tempos  juntar mais um ou dois amigos e fazer uma noitada de moqueca e manguaça.
Ou era no apartamento do Pedro que morava sozinho, ou no meu, quando Regina estava passando alguns dias em Itanhaém.
Iniciávamos os trabalhos tomando uísque durante todo o preparo, entremeado com algumas cervejas.
A moqueca capixaba não leva dendê, apenas azeite de oliveira, que rega e dá um toque especial  nos ingredientes, tomate, cebola, pimentão, coentro ou salsa, alho e obviamente camarão ou peixe, ou um mix de ambos.
Inebriados pelos odores durante o cozimento, e meio alegres pelas bebidas, nos preparávamos para atacar o celestial manjar, acompanhado de arroz branco e do pirão que é outra delícia.
Passávamos então para o vinho, digno acompanhante dessa magistral refeição, tomado sem qualquer moderação  até ficarmos com o bucho completamente lotado.
Eu comia para valer, bebendo de forma relativamente moderada, exceto quando a reunião era em casa, quando entornava o caldo de vez, porem Pedro era sem qualquer sombra de duvida o campeão, motivo pelo qual sua vasta barriga estava sempre em constante evolução.
Muitas vezes nem lembrava das despedidas e de como cada um conseguiu chegar bem em suas casas. Bons tempos sem a pentelha Lei Seca.
Agora que Pedro se foi, recordo com saudade desses tempos despretensiosos, curtindo momentos agradáveis, papeando sobre mergulhos e outras besteiras, desfrutando um da companhia do outro, atitudes que alegraram e aqueceram nossas almas.
Atualmente continuo fazendo as moquecas,o pirão e até o arroz que acho delicioso,  agora  tudo mais incrementado, pois com o tempo aprimorei meus dotes culinários e adoro cozinhar.
Sinto apenas falta dessas reuniões calorosas e informais, pois os amigos do grupo se dispersaram, Pedro no céu e outros mais longe, ou distanciados por novas atividades.
Reavivar essas boas lembranças faz bem a nossas almas envelhecidas.


José Roberto- 12/07/17

4 comentários:

  1. gimael,meus dotes na cozinha ,pratico em UBATUBA ,quando com amigos de CAMPINAS ,fazemos 1 semana de TENIS e bebidas .Sua memoria ,lembrando encontros de trabalhos nos idos de 70 ,está impecavel.Abraços.

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  2. Caro amigo
    Avelha memória rateia, mas dá pro gasto.
    Abcs
    Gima

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