quarta-feira, 30 de julho de 2014

O TANGO DESCE A LADEIRA

O TANGO DESCE A LADEIRA

Nossa primeira aventura internacional foi na Argentina, nos idos de 1976.
Essa viagem deveria ter ocorrido em dezembro de 1971, mas a gravidez tão esperada de minha mulher, alterou os planos, pois nossa herdeira estava a caminho e todo cuidado era pouco.
Quando finalmente aportamos em Buenos Aires, levamos a tiracolo nossos rebentos, Maria Silvia com quatro anos, Junior com dois e de quebra, uma de minhas irmãs.
Viagem custeada com muito suor e economias.
Mesmo estando a Argentina sob regime militar, muito mais severo e repressor que o nosso, ficamos encantados com a capital portenha, com suas ruas limpas, bem iluminadas, alegres.
A Calle Florida era o máximo.
Comércio fortíssimo, lojas bonitas com preços convidativos, restaurantes e um povo bem vestido freqüentando as ruas, pois no verão, desfrutavam da luz do sol até depois da 21,00 horas.
Fiquei impressionado com o numero de pessoas de terno, que passeavam com seus filhos pequenos pelas ruas seguras, até altas horas da noite, que chegava bem mais tarde.
Os argentinos podiam mesmo se gabar, que se sentiam europeus, pois os cafés com suas mesas externas nas avenidas repletas, davam um toque parisiense a cidade. O toque londrino era dado pela Harrods, a única filial da chiquérrima loja inglesa,
Segundo consta, costumavam dizer, que nasceram abaixo do Equador “por un descuido de Dios”.
Voltamos a Buenos Aires há uns dez anos atrás, topando com uma nova realidade que nos chocou.
Calle Florida totalmente decadente, as boas lojas fechadas(inclusive a Harrods), transformadas num bazar de terceira categoria, onde os transeuntes eram assediados por vendedores, tentando impingir artigos de couro de baixa qualidade.
Ao entardecer, com as lojas fechando, sacos de lixo ficavam acumulados na rua, sendo esmiuçados por catadores de papel, plástico e latas, pessoas de pele clara e de boa aparência, premidos pelo desemprego e inflação, buscando seu sustento dessa forma inglória, por falta de opções.
Numa cidade com sérios problemas, as zonas chiques foram transferidas para o porto e outros bairros internos, mas mesmo assim, impossível não sentir a decadência econômica do país, depois de uma seqüência de governos incompetentes e corruptos.
Continuam exemplares as carnes e a boa musica, notadamente o tango, o ritmo nacional, que se renova, se reinventa, com shows que vale a pena ser assistidos.
Todavia, povo que não sabe escolher seus políticos sofre, por culpa própria.
Se temos aqui Dona Dilma que diziam ser ótima gerente, mas que não gerencia droga nenhuma e está causando um sério estrago as contas e ao desenvolvimento do país, nossa vizinha do sul, ainda vai muito pior.
Uma balzaquiana passada, com o rosto talhado por plásticas mal feitas, em dois governos, sucedendo o marido que também foi um péssimo governante, conseguiu subjugar os poderes legislativo e judiciário, cerceando a liberdade de imprensa, tolhendo direitos individuais, perseguindo opositores, adotando uma “democracia bolivariana” de faz de conta, funcionado com ares ditatoriais.
Sob essa tutela equivocada, o país caminha para a insolvência, convivendo com uma realidade virtual, onde os índices são maquiados a gosto do governo, inclusive a inflação, com o povo passando necessidades, ameaçado pelo custo elevado e desabastecimento.
O velho orgulho portenho foi inapelavelmente arranhado, encontrando sérias barreiras para se reerguer.
Até mesmo Messi, o melhor do mundo, falhou ao tentar dar um alento a seus fanáticos compatriotas que “invadiram nossas praias”.
O tango meloso e triste encontra motivos de sobra para renovar suas letras belas e lamuriantes.
Com certeza, dias piores virão.

José Roberto- 30/07/14



5 comentários:

  1. tudo muito certo , só que fomos à Argentina ano passado !!!!
    Bjs.Re

    ResponderExcluir
  2. Hoje, se acontecer o calote da Argentina, o Brasil também será prejudicado, já que temos um comércio muito forte com os "Hermanos". O Brasil tem que se cuidar para não voltar aquela máxima, que está esquecida, mas não morta. "Eu sou você amanhã". Minha família tem uma loja de "Fast Food" em Copacabana, que foi invadida pelos argentinos na Copa, só com um detalhe. Mesmo sendo "Fast food" com pratos individuais, os argentinos, em sua grande maioria, pediam somente um prato e chegavam a dividir até por três pessoas. Eles comentavam que não estavam com muito dinheiro e que a situação está "brava" lá, sendo que alguns perguntavam até em oportunidade de emprego aqui. É isso aí, secou o dinheiro que o Chaves emprestava à Argentina e ela está em maus lençóis. Isto é resultado da ditadura bolivariana, no entanto, segundo os jornais a família de Cristina Kirchner vai muito bem obrigado.

    ResponderExcluir

  3. A situação está muito feia para a Argentina, que estranhamente se deixou subjugar por uma velhota caduca e maluca que está arrasando com o belo país.
    Os argentinos são metidos a besta, embora já tenham baixado a crista, porém não merecem o triste destino que se deseja para o infausto país.

    ResponderExcluir
  4. Apesar de tudo, mesmo em se considerando que tem uma população correspondente a 20% da nossa, nossos vizinhos ocupam a 47 colocação no IDH mundial e infinitamente mais cultos que nós, enquanto nosso país está em 78 (atrás, também, de Chile e Uruguai).
    O orgulho deles permanece e, como dizia meu velho e querido pai : "o argentino é um italiano, que fala espanhol e pensa que é inglês".
    Luizinho.

    ResponderExcluir
  5. Gostaria que a Argentina fosse muito bem, assim daria uma puxada no comercio bilateral com o Brasil que se reduz a cada ano. A preocupaçao e o Brasil, que vai de mal a pior. Na politica externa recebeu uma sacaneada de Israel - grosseira e ofensiva, mas merecida.Na economia o Santander resolveu sacanear, grosseira e ofensiva, mas merecida. Daqui a pouco vem outras gozaçoes. Aquela musica...joga pedra na Geni....Brasil tem de mudar.

    ResponderExcluir