sexta-feira, 6 de maio de 2022

MINHA MÃE


 

MINHA MÃE

 

Como de costume, não deixo a data passar em branco, mesmo sabendo ser praticamente impossível não cair em lugares comuns e alguma pieguice, mas mãe e mãe e a minha foi maravilhosa.

A história de minha mãe começou cedo. Filha de um libanês anarquista, refugiado político e de uma mineira tranquila de Itajubá-MG, tinha 14 anos quando caiu nas graças de meu pai.

Meu pai, filho de uma família rica e tradicional de Capivari-SP, estava de casamento acertado com uma irmã mais velha de minha mãe, se não me engano chamada Lucila.

Quando foi visitar e conhecer a futura noiva, Tonico, meu pai, então com 17 anos, bateu os olhos na filha mais nova apaixonando-se imediatamente.

Levou algum tempo para contornar o “problema”, mas finalmente conseguiu o alvará para a troca, casando as carreiras com Hercília, uma adolescente de 14 anos.

Como a família de meu pai era numerosa em Capivari, sendo o dono do cartório um parente, para ter condições legais de casamento, a idade do casal foi aumentada em 2 anos para cada um.

Casaram, tiveram 8 filhos, o mais velho morreu prematuramente, e com os demais, viveram felizes para sempre.

Tonico foi um marido exemplar. Dedicou a minha mãe, até sua morte em 1984 , uma amor invejável. Amou Hercília sem parâmetros, tanto nos momentos difíceis, que foram muitos, como no início, os anos de bonança.

Meu pai sempre foi um péssimo homem de negócios. Puro de coração e honesto, acabando em pouco tempo com a polpuda herança que recebeu.

Hercília não teve alternativa senão tomar conta do pouco dinheiro da família, pois meu pai passou de empresário a empregado e ficou extremamente feliz por livrar-se desse encargo.

Portanto, todas as minhas lembranças são de minha mãe, cuidando das contas apertadas da casa, cortando aqui e ali, tentando fazer a grana durar o mês inteiro.

Nunca vi meu pai reclamar, pois nascido em berço esplendido, com muitas mordomias, tinha que labutar duro. Satisfazia-se em amar cada vez mais minha mãe.

Obviamente, minha mãe também amava meu pai, porem era “mais pé no chão”, e mesmo assim procurava sempre fazer sua vontades.

Lembro, que tomei gosto pela leitura desde pequeno, vendo minha mãe ler romances, a tardinha, em voz alta para meu pai, que gostava mais de ouvir que ler. Talvez nem prestasse muita atenção ao conteúdo, gostando mesmo de ouvir a voz de Hercília.

Minha mãe foi uma lutadora, um exemplo de mulher que tentou dar uma boa educação e formação aos filhos, batalhando duramente contra adversidades e o dinheiro curto.

Hercília cursou apenas o primário, que nos velhos tempos era ótimo, dando uma  base solida para tornar-se uma autodidata, pois escutava noticias no rádio, acompanhava a política, obviamente instada pelo sangue libanês e lia muito.

Recordo que cursando a faculdade, nos anos de 1963, 1964, acompanhávamos atentos a situação política conturbada do país, e aplaudimos quando os militares assumiram o poder, restaurando a lei e a ordem em todo o território nacional.

Conseguiu que todos os filhos escolhessem e tivessem um diploma que lhes assegurasse uma vida digna.

Em Piracicaba, onde viveu por muitos anos, sempre foi uma mulher atuante. Presidente da Obra do Berço por longo tempo, síndica do prédio onde morava até perto dos 90, uma mãe sempre pronta a dar o colo aos filhos e aos netos que a adoravam.

Partiu em 2012, aos 101 anos, para se encontrar com Tonico, que aguardava ansiosamente sua chegada há um bom tempo.

Está muito bem instalada, ao lado do marido, a direita de São Pedro, de onde, em vigília constante, olha por seus filhos, netos e bisnetos.

Bença Mãe!

 

José Roberto- 06/05/22

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário