terça-feira, 17 de novembro de 2015

A MORTE DESCE O RIO

A MORTE DESCE O RIO

Li um romance policial com esse título, quando tinha meus 12 ou 13 anos.
Era uma história de crime e mistério, talvez forte demais para minha idade, mas o suspense era ótimo, mantendo-me de olhos arregalados e fazendo com que “devorasse” o livro rapidamente.
Era daqueles que quando a gente começa, não quer parar antes de ler até o final..
Essa tragédia em Mariana, com o mar de lama arrasando um vilarejo, matando algumas pessoas e sumindo com outras tantas, me fez lembrar do título sinistro do livro lido há tantos anos atrás.
A perda de vidas humanas é um fato lamentável e irreparável, pois nada substitui a falta de um ente querido, porem os danos causados ao imponente Rio Doce, constitui-se numa agressão desmedida a natureza e a um importante nicho ecológico brasileiro.
O Rio Doce foi ferido mortalmente.
Suas águas, que já vinham sofrendo com a devastação das florestas ciliares, com a descarga de resíduos das áreas cultivadas muito próximas de suas margens, foram agora sufocadas por essa imensa torrente de lama tóxica.
Se o rio conseguia resistir a duras penas, a essas agressões rotineiras, está se afogando com o barro denso e venenoso, que está cobrindo seu leito com uma capa marom-avermelhada, eliminando o oxigênio das águas e exterminando os peixes e animais que tinham no rio seu habitat natural.
A medida que a imensa manha assassina desce o rio, cidades importantes ao longo de seu curso vão sendo prejudicadas, impedidas de utilizar suas águas tanto para fins de abastecimento, sanitários ou de lazer, pois as águas que antes saciavam a sede e proviam o sustento dos pescadores, são agora emissárias de doenças graves e outros males incalculáveis.
O rio que era uma benção, tornou-se uma ameaça, pois em sua lenta agonia, asfixia tudo no seu interior, contaminando tudo a seu redor.
A ganância humana, o descaso, a falta de respeito e cuidado com a população e com a natureza, levaram uma grande industria de capital brasileiro e australiano e menosprezar nossas leis de proteção ao ambiente, permitindo com a falta de manutenção e vigilância, o rompimento de uma barragem de rejeitos tóxicos, que levou a morte e destruição em sua rota avassaladora.
Nosso governo, o Ibama e outros órgãos estaduais relapsos e corruptos, como de praxe, falharam grotescamente na fiscalização prévia, e após a catástrofe, ameaçam a empresa com multa insignificante de 250 milhões, valor irrisório face aos prejuízos causados no presente e os que advirão no futuro.
Multas que provavelmente jamais serão pagas, pois questionadas durante longo tempo em nossa permissiva justiça, caducarão, caindo no esquecimento, pois apenas 10% das multas aplicadas pelo Ibama são quitadas pelos agressores do meio ambiente.
Com já estou cansado de mencionar, se fossemos um país sério, interviríamos na empresa, obrigando-a a se responsabilizar por toda a limpeza e recuperação do imenso rio, alem de arcar com pesadas indenizações para com todos afetados por esse trágico desastre físico e ambiental.
Nosso governo que não vale droga nenhuma, deveria se basear nas punições aplicadas no caso Exon-Valdez no Alaska, no caso da explosão da Plataforma Deepwater,  no Golfo do México, onde a Exon e British Petroleum, alem de se responsabilizarem durante anos pela limpeza de descontaminação do local, arcaram com multas de bilhões de dólares.
Mas como somos uma republiqueta de bananas, essa desgraça ambiental será levada em banho-maria, ficando o tempo e algumas contas secretas bem fornidas, encarregadas de empurrar o assunto para o escaninho do esquecimento,
O sofrido rio agoniza, seus habitantes aquáticos estrebucham, as cidades ao longo de sua serpenteante rota passam sede, até os insetos se afastam de suas águas conspurcadas.
Mas a natureza é forte e sábia.
Com uma pequena ajuda, talvez em 5 ou 10 anos, o velho Rio Doce recupere seu viço.
Por enquanto, acabou-se o que era doce!

José Roberto- 17/11/15


2 comentários:

  1. Muito oportuno seu texto, mostrando o descaso e despreparo de nossos orgãos ambientais.
    O rio foi ferido gravemente, mas pela força da natureza, num futuro não tão distante, com certeza se recuperará,

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  2. A presidente da república somente teve reações burocráticas diante da desgraça que ainda assola toda a região da cidade de Mariana e por todo o percurso do Rio Doce, que agora de doce não tem nada, mas transmite um gosto amargo na população atingida pela catástrofe.
    A única coisa que a presidente fez foi sobrevoar a região. Não quis sentir a lama nos pés. Talvez porque a ela esteja acostumada com a lama que inunda Brasília. Até agora temos somente “medidas emergenciais”, como liberação de FGTS para os pobres sobreviventes ou mobilização de “autoridades” para adotar medidas cabíveis. Será? A verdade verdadeira é uma só: O povão mais uma vez estará sozinho e pagará com seus esforços as suas despesas.

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