CARAVELAS 2012

CARAVELAS 2012

Passam-se os anos, mas a ansiedade não diminui jamais.
Contamos os dias de janeiro, até chegar o dia D.
Dessa vez iríamos de carro, na camioneta de meu sobrinho Ricardo, saindo de Itanhaém na quinta, dormindo no Rio, me apanhando e partindo na sexta de madrugada, rumo a Caravelas.
Estranhei que viessem tão carregados para uma viagem tão longa, pois alem do sobrinhos Ricardo e Renato, acompanhavam a dupla Iberê e Gil,mergulhadores iniciantes mas veteranos na “manguaça”.
Como sênior da turma, assegurei meu lugar na frente, revezando com Ricardo no comando da Mitsubishi.
Saímos de madrugada, pois Ricardo dormiu em casa, para apanhar os três aventureiros que se esbaldaram na tarde/noite carioca, fazendo uma maratona pelos bares da zona sul.
Como zumbis, o trio nos aguardava insones e grogus, na porta de um prédio bem próximo ao meu apartamento.
Entraram, se aninhando no banco traseiro de pronto, para um longo “roça-roça”,
A viagem transcorreu normalmente até Campos, onde paramos para um rápido café.
Os manguaçados não se deram bem com os salgadinhos ingeridos as pressas, pois logo após o reinicio da peregrinação, começaram as paradas forçadas para vômitos extemporâneos e cagadas repentinas.
Após incontáveis paradas, bufantes expelidos na surdina sufocando os ocupantes, um deles, recordista com duração de quase dez minutos de odores de caranguejos podres, emanado por fiofó anônimo, chegamos finalmente em Caravelas com razoável atraso, estafados, mas inteiros.
De avião, via Porto Seguro, aguardávamos a chegada de outro bando, capitaneados pelo urso peludo Cássio, seu fiel assistente e escudeiro Deniz(pênis), o desconhecido Rodrigo Flexa e o campeão salvadorenho de mergulho, super Mario Bross.
A fome e o cansaço nos impediu de recepcionar a equipe peluda, forçando-nos a antecipar a degustação da portentosa muqueca de camarão preparada pelo Dr. Amarelo, buscando em seguida, o merecido descanço no ninho do Ditinho(herança recebida do generoso e correto Guto, que deverá chegar para o carnaval e acertar suas pendências com os pescadores locais-“podes crer amizade!!!”).
A absoluta maioria da nossa comitiva pareceu estar muito mais interessada em encher a cara e o bucho, que mergulhar. O consumo de derivados do álcool foi de estarrecer.
Das três saídas que demos para o mar, as duas primeiras foram bem fracas, em especial a segunda, onde mal conseguimos os peixes para o muqueca, no barco.
A única que lembrou os velhos tempos, foi a terceira, com um dos raros barqueiros da região, que não é mergulhador.
Encontramos em águas rasas, cardumes generosos de garoupas, dentões e budiões, que engordaram nossas fieiras e garantiram alguns files, para serem trazidos como recordação.
Analisando o reduzido sucesso de nossos mergulhos nos últimos anos, chegamos a triste conclusão, de que os barqueiros, todos mergulhadores, estão nos levando para áreas batidas, já exauridas de espécimes pelos gananciosos mergulhadores, que matam todos os peixes de carne branca, vendidos aos comerciantes locais como filés de budiões ou garoupa.
Embora o resultado da pesca tenha sido sofrível, o consumo de cervas, vodkas e uísque bateu recordes, engrossada pela notável aptidão do novato Flexa, da boa forma do urso peludo, do imbatível Beruel, do campeão salvadorenho que provou sua categoria no consumo da manguaça, do Gil, bom em cana e vômitos, sem esquecer dos Drs. Amarelo e Dada, pós graduados em filtrados e destilados.
O único que se comportou, bebendo com moderação e recato, foi o sensato sênior, que faz o presente relato.
Vale a pena mencionar, que Dr. Amarelo, não perdeu a mania, que enche o saco de todos, de trazer guaiamuns vivos, para engorda e posterior degustação em Itanhaem.
Ficamos sabendo, por estudiosos locais, que o “gaiamum” e o mais “porco” dos espécimes , proliferando ao redor de fossas e latrinhas, ou seja, adora ter entre suas pinças, um belo charuto de merda.
Talvez seja essa, a razão da estranha predileção do Amarelo por essa espécie de caranguejo.
Impossível deixar de mencionar as peixadas, os pirões, e o divino caldo de “mutacangas”, repasto inigualável, preparado pelo mestre cuca Amarelo, consumido com fervor por este escriba, em célere disputa com o “espanhol” Mario Bross.
O retorno foi tranqüilo, sem maiores problemas, salvo o imenso congestionamento na entrada do Rio, antes de chegarmos a Ponte.
Aguardo notícias de Ricardo e sua troupe, que mais folgados, rumaram direto para Itanhaém, enfrentando mais 570 Km de estradas, em plena noite, já um tanto desgastados.
Quanto a turma do urso peludo, espero que tenham tido um feliz regresso, já sabendo via telefone, que até Porto Seguro, tudo correu nos trinques.
Mais uma vez em Caravelas, para recarregar baterias e preparar nossos sacos, para um novo e longo ano de labuta, trabalhando duro para sustentar nossas famílias, o governo e nossos safados políticos.
Mal retornamos e já começamos a pensar em como será nossa próxima vez.

José Roberto- 03/02/12