quarta-feira, 19 de junho de 2019

A ILHA DAS MELANCIAS


A ILHA DAS MELANCIAS(OU DAS BANANAS)

Apropriei-me do texto sem qualquer autorização por considerá-lo magistral, uma hipérbole, uma analogia precisa de um país que conhecemos muito bem, que teima em continuar em sua mesmice cartorária e de privilégios, com os novatos e os de sempre dando as cartas, políticos olhando para o próprio umbigo enquanto a nação é consumida pela voracidade dos impostos que sustentam a imensa e ineficaz máquina pública.
O autor da oportuna parábola poderia ainda ser mais exato, se ao invés de melancias tivesse escolhido bananas.

José Roberto- 19/06/19

A ILHA DAS MELANCIAS
Era uma vez um arquipélago no Pacífico Sul. Um dia, um grupo de pessoas desembarcou em uma ilha desabitada com a idéia de fundar um novo país. Os novos moradores logo descobriram que naquela ilha nasciam melancias deliciosas. Naturalmente, veio a idéia de cultivá-las, e em pouco tempo cada família da ilha tinha sua plantação de melancias. Havia fartura para todos.
Lógico que as pessoas desejam outras coisas além de melancias. Aos poucos, algumas famílias foram mudando de ramo: alguns se especializaram em construir casas; outros, em confeccionar roupas; também surgiram sapateiros, ferreiros e carpinteiros. Mas como a melancia continuava sendo a comida do dia-a-dia, foi natural que ela também virasse a moeda de troca. O sapateiro trocava um par de botas por dez melancias, o carpinteiro pedia vinte melancias por uma cadeira, e assim por diante.
Nem todos os serviços tinham o mesmo preço: um casaco bonito e com enfeites custava mais melancias que um casaco simples. Mas cada um escolhia o que achava melhor, e ninguém brigava. Pode-se dizer que todos viviam felizes.
Um dia, desembarcou um forasteiro na ilha. Ele subiu em um caixote e começou a discursar. Os moradores daquela ilha estavam desprotegidos, disse ele. Não havia ninguém que cuidasse deles e evitasse que eles sofressem injustiças. Era necessário criar regras, e normas, e era preciso haver pessoas encarregadas de fiscalizar se as regras e normas estavam sendo cumpridas.
O forasteiro era “bom de papo”, e em pouco tempo havia convencido a maioria das pessoas. Criou-se então o cargo de fiscal de melancias, que ficou encarregado de medir, pesar, avaliar e carimbar todas as melancias antes que estas pudessem ser comercializadas. De cada cem melancias, ele ficava com uma, como pagamento pelo seu serviço.
Também surgiu o fiscal de plantações, que garantia que os pés de melancia fossem plantados da forma considerada correta; o fiscal de chapéus, que exigia que todos ao trabalhar na plantação, usassem o modelo de chapéu previamente aprovado, para evitar que o pescoço ficasse queimado de sol; o fiscal de horários garantia que ninguém trabalhasse mais do que o número de horas permitido; e o fiscal de transporte inspecionava as carroças e concedia licenças para que se pudesse transportar as melancias.
Como nenhum destes fiscais plantava nada, todos eles recebiam uma parte das melancias plantadas pelos demais. Para garantir que ninguém estava deixando de contribuir, surgiu o fiscal de arrecadação de melancias. Para definir quantas melancias cada um deveria pagar, criou-se um comitê. Para fiscalizar o comitê, criou-se uma assembléia, e para definir normas para a assembléia criou-se um conselho. às vezes o conselho não concordava com a assembléia, e então criou-se uma justiça, com tribunais de primeira, segunda e terceira instâncias.
Neste ponto, algumas pessoas começaram a reclamar. Diziam elas que havia cada vez mais gente comendo, mas cada vez menos gente plantando melancias, e que se as coisas continuassem assim, não haveria melancia para todos.
A moral da história é a seguinte:
Algumas pessoas acham bom ter um governo grande, outras não. Mas não se pode negar um fato: governos não produzem melancias, eles vivem às custas das melancias que os outros produziram.



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