segunda-feira, 26 de junho de 2017

HISTÓRIAS PORTUGUESAS

HISTÓRIAS PORTUGUESAS

O  terrível incêndio em Portugal, na região de Leiria, causando dezenas de mortes, me fez lembrar de um antigo colega de trabalho dos meus tempos de CESP.
Era  final de 1974, quando fomos informados que nossa diretoria estava recebendo mais um assessor especial, que realmente era especial,  pois vinha meio fugido da Revolução dos Cravos, que apeara Salazar do poder em abril desse ano.
Para meu desgosto, fui notificado que o português iria trabalhar mais ligado a minha Divisão, pois estávamos desenvolvendo alguns estudos sobre custos marginais em obras de distribuição e segundo informações, o portuga era bom em cálculos.
Fiquei ressabiado, pois não tinha o mínimo interesse em receber auxílio de uma pessoa desconhecida, que não era da nossa área, pois o Sr. Afonso Lemos Proença até ser deposto pela Revolução, era o alcaide(prefeito) da cidade de Leiria.
Proença, como viemos a chamá-lo, era um cinquentão simpático e bem aparentado, que em pouquíssimo tempo conquistou a  todos, pois era uma pessoa simples, afável, e alem de tudo um cobra em matemática, que conseguia provar, se quisesse, que dois mais dois eram igual a cinco.
Foi realmente um reforço e uma alavanca para nossa equipe, pois já dispúnhamos de um excelente estatístico, cujo único problema era mantê-lo sóbrio, pois era chegadíssimo a uma manguaça.
Viajamos juntos inúmeras vezes, onde Proença com maestria, demonstrava os avanços de nosso trabalho sobre custos marginais.
Eu apenas fazia figuração, pois o cobra no assunto era mesmo o portuga.
Nesse meio tempo, fiquei sabendo de detalhes de sua vida particular, pois Proença era casado, tendo deixado em Portugal a esposa e um casal de filhos adolescentes.
Como a situação na “terrinha” acalmou-se em pouco tempo, sua esposa exigia seu retorno, mas Proença não tinha pressa em voltar.
Havia comprado um pequeno apartamento nos arredores do Pacaembu, no qual havia instalado uma mulata, pois o gajo, desde sua chegada ao nosso país ficou completamente enlouquecido pelo remelexo de nossas cabrochas, tendo “passado o visto” em diversas, até ficar enrabichado por uma bem sarada de mais de metro e oitenta.
Sua mulher deve ter notado alguma mudança, pois mesmo após Proença ter retornado a Portugal para uma visita aos familiares, a insistência para o retorno definitivo era grande, mas sem resultado.
Proença continuou trabalhando e enrolando a família, retornando novamente a Portugal para outra visita e continuando com seu chaveco, que ainda não era oportuno seu retorno.
Parecia que tudo transcorria normalmente até que a Sra. Proença apareceu sem aviso na CESP, deixando o português quase sem fala, que tratou logo de instalá-la num hotel das proximidades, pois sabia que sua hora era chegada.
Não sei como transcorreram as negociações, mas rapidamente, Proença transferiu seu apartamento “porteira fechado” para um patrício, inclusive a mulata, que já estava acostumada com a mordomia, os afagos e o sotaque lusitano.
Retornou definitivamente a Portugal e pouco tempo depois eu estava vindo para o Rio.
Por um incrível coincidência, conversando  com uma secretária da Eletrobras, fiquei sabendo que ela havia estado em Portugal, mais precisamente em Leiria, e que havia conhecido o Proença, que novamente, havia sido eleito prefeito da cidade.
Nunca mais tive notícias do bom amigo português, embora lembrasse algumas vezes de nossa agradável convivência, de seus casos e de sua enorme competência na área de cálculos.
Lembrei-me dele devido ao fatídico incêndio, que começou nas matas de Leiria, e que as autoridades portuguesas, por  incompetência ou burrice, ao ordenar a evacuação da área fecharam a estrada principal de pista dupla, liberando apenas uma estrada vicinal estreita, cheia de curvas, que transformou-se numa armadilha, responsável pela maioria das vitimas que morreram queimadas ou sufocadas pela fumaça.
Lembrei-me também de outra história tragi-cômica, contada pelo amigo.
Segundo ele, o corpo de bombeiros de Leiria tinha comprado um novo equipamento, de primeira linha.
Para demonstrar a eficácia dos equipamentos, foi montada uma demonstração em área publica, onde dentro de uma pequena casa especialmente montada para o evento, foi colocado um bombeiro voluntário,  sendo  posteriormente incendiada .
Os bombeiros se atrapalharam com os equipamentos novos,  atrasaram o resgate, e o pobre bombeiro voluntário morreu assado na frente de uma imensa platéia.
Tivemos um caso recente mais ou menos similar, quando a governo  convocou a mídia, para documentar o lançamento de um moderníssimo drone desenvolvido pela Marinha lusitana.
Um grande fiasco, pois o drone mal foi lançado, mergulhando em seguida nas águas do Tejo.
Apesar do fato gerador ter sido triste, oportunidade para relembrar os bons tempos, pois o atual é uma merda,

José Roberto- 26/06/17



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