segunda-feira, 17 de outubro de 2016

AO MESTRE, COM CARINHO

NOTA- TEXTO RECUPERADO DO BLOG TERRA OPINIAODOZE, ESCRIITO HÁ OITO ANOS, REEDITADO EM HOMENAGEM AOS LEGÍTIMOS PROFESSORES, AQUELES QUE EXERCEM A NOBRE PROFISSÃO COM DEDICAÇÃO E AMOR.
SR. COTRIM FOI UM EXEMPLO DIGNO DESSE SACERDÓCIO.
O QUERIDO MESTRE FALECEU EM SETEMBRO DE 2013.
ATUALMENTE, ENSINA OS ANJOS DO CÉU.


AO MESTRE, COM CARINHO

Hoje, quinze de outubro, dia do professor, lembrei com saudades do meu antigo mestre, que influenciou minha vida de uma forma profunda e contundente.
Benedicto Antônio Cotrin foi meu professor de português durante todo o ginásio e científico, conseguindo com extrema paciência e com sua grande cultura, me iniciar no caminho das letras e da literatura.
Há muito tempo longe de Piracicaba, perdi o contato com o velho mestre, tentando buscar notícias mais recentes, recorri ao “Google”.
Emocionado, descobri uma entrevista ao Jornal “A Província”, feita em 10/07/2006, na época com oitenta e dois anos.
Vendo sua foto e lendo na íntegra suas claras e didáticas declarações, fiquei  comovido, senti uma aperto no peito, uma saudade imensa e uma tristeza de doer.
Recordei suas maravilhosas aulas no Colégio Salesiano Dom Bosco, quando desde a primeira série, insistia sempre nas redações semanais, tarefa que no início fazia obrigado e a contragosto.
Todos os alunos tinham um caderno próprio para essas redações, que eram lidas e corrigidas com extrema paciência pelo mestre.
A melhor ou a mais original, era escolhida para ser lida em voz alta na aula seguinte, num misto de vergonha e orgulho para o jovem autor.
Era incrível como todos gostavam de suas aulas. Sabia como ninguém cativar nossa atenção, lendo trechos de livros, poesias, abrindo nossas mentes virgens e sedentas para o deslumbrante e mágico mundo da literatura.
No científico, com a turma mais madura, normalmente ministrava duas aulas em seqüência, por incrível que pareça, esperadas com ansiedade.
Nessa fase discutíamos os clássicos, os movimentos e fases da literatura, dando ênfase aos grandes escritores portugueses.
Durante alguns anos fomos vizinhos e abusando de sua bondade, recorri a ele, para me auxiliar em tarefas de latim e francês, línguas que dominava plenamente alem de outras, em especial o grego.
Portanto, alem da relação professor-aluno nos tornamos próximos.
Como seu admirador, me esforçava para corresponder as expectativas, lendo bastante e caprichando nos textos semanais.
Acredito ter logrado êxito, pois sempre fui um dos primeiros em sua matéria, ocorrendo o mesmo com relação a história e geografia. Nas restantes(no científico tínhamos doze matérias, inclusive latim e espanhol) era mediano, passava raspando.
 Durante o período da faculdade, costumava visitá-lo, em especial no dia do professor, fazendo sempre questão de levar uma lembrancinha. Lembrancinha mesmo, mas dada de coração, pois meu reduzido orçamento não permitia maiores extravagâncias. 
Ele também se emocionava com essas pequenas demonstrações de carinho e apreço, pois amava seus alunos.
Pela entrevista, fiquei sabendo que lecionou até 1998, passando após essa data, a dedicar-se exclusivamente ao Direito Penal, em virtude de uma promessa feita após um sério acidente sofrido por seu filho, que teve as pernas amputadas(sempre foi católico praticante).
Sr. Cotrim, dando novo rumo a sua vida, passou a advogar para os pobres, aqueles que não tinham recursos financeiros para contratar um defensor.
No fórum de Piracicaba, era conhecido como o advogado das causas perdidas, daquelas que ninguém queria pegar, por ser difícil, ou pela falta de dinheiro dos envolvidos.
Como professor, respeitava os alunos, conseguindo dessa forma que o respeitassem. Sempre exerceu a autoridade, porem sem jamais confundí-la com autoritarismo, impunha-se pelo s carisma, conhecimento, paciência e bondade.
Mesmo levando em conta a enorme diferença entre sua cultura com a dos pupilos, jamais demonstrou qualquer arrogância, sabendo que o tempo aplainaria essa distância.
Lembrando do velho mestre, me vejo menino sentado na carteira, captando ansioso suas palavras e vibrando de orgulho quando lia alguma das minhas redações.
O velho coração bate acelerado, recordando os títulos sobre os quais exercitávamos nossa literatura incipiente: “Sinal Esperado”, “Caminhos de Areia”, “A Espada”, “Cicatrizes”, dentre muitos outros pescados em minha cansada memória.
Éramos obrigados a dar asas à nossa imaginação, escrevendo sobre temas mais difíceis e abstratos, indispensáveis para o alargamento de nossos horizontes.
Acredito que conseguiu atingir seus objetivos.
Decorrido tanto tempo, tentarei reparar minhas faltas, buscando informações com meus familiares sobre o Sr. Cotrin,  esperando que ainda viva com saúde, continuando a  defender os pobres.
Minha eterna gratidão ao velho e querido mestre.
Meu Deus, quanta saudade!

José Roberto- 15/10/08




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