terça-feira, 9 de junho de 2015

DESVIOS DE ENERGIA NA ÁREA DA LIGHT

DESVIOS DE ENERGIA NA ÁREA DA LIGHT

A primeira página de O Globo do último domingo, estampava a foto de um poste repleto de gambiarras, tirada em alguma favela do Rio de Janeiro.
A empresa estima as perdas, motivadas por milhares de “gatos”, em aproximadamente 20%(vinte por cento) do total da energia consumida em sua área de concessão, acarretando um acréscimo médio na conta dos consumidores normais(eu e você), de 17%(dezessete por cento).
Como bons otários, pagamos pela energia desviada nos morros e favelas, que não cansam de se expandir.
Impossível atribuir culpa pela não inibição desses furtos de energia aos eletricistas ou fiscais da Light, pois se os pobres coitados tiverem a ousadia ou loucura de subir num desses postes repleto de gambiarras e rabichos, com um alicate na mão, com certeza será abatido a tiros.
O problema se agravou ,quando a Light resolveu levar a rede secundaria para o interior das favelas, permitindo o livre acesso dos traficantes a essas redes e a proliferação do furto de energia, impossível de ser coibido;
Escrevi um texto sobre o tema em março de 2008, nominando inclusive o “gênio” responsável pela mudança no sistema de medição, permitindo a ocorrência desses fatos que nos assombram e penalizam, bem como estimulando o crescimento das favelas, que passaram a contar com energia farta e praticamente gratuita.
Apesar de alongar o assunto, transcrevo a seguir o texto mencionado.

José Roberto- 09/05/15

UMA HIPÓTESE SOBRE O CRESCIMENTO DAS FAVELAS

Vou relatar um fato histórico, que acredito tenha contribuído de forma significativa para o crescimento acelerado das favelas do Rio de Janeiro, em especial das maiores, situadas em morros, tais com Rocinha, Vidigal, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e muitas outras.
Até meados de mil novecentos e oitenta e cinco, a energia elétrica fornecida para as favelas existentes nos morros era medida em grosso, ou seja, o medidor era instalado na entrada no morro com medição em alta tensão, resultando na existência de apenas uma única conta,
Após esse ponto de entrega a responsabilidade era dos usuários. A energia era distribuída pelas casas nas favelas sem qualquer cuidado técnico, como ocorre até hoje, porém existia um importante fator que limitava a expansão das redes, pois a energia que corria pelos postes das favelas era de baixa tensão e após trezentos metros, as perdas e a queda de tensão eram muito elevadas, impedindo o funcionamento de aparelhos e equipamentos elétricos.
Cada favela tinha seu “gerente da luz”, pessoa encarregada de fiscalizar, autorizar novas ligações e responsável pela arrecadação dos valores de rateio que possibilitava o pagamento da conta única da Light.
Portanto não havia riscos para a concessionária,  nem a possibilidade de furtos e ligações clandestinas, considerando que a medição era única, em grosso, na entrada no morro.
Nas raras vezes em que ocorria o corte por falta de pagamento(bem simples na época) e o morro ficava as escuras, era mais que provável o “apagamento” do gerente da luz, por não ter arrecadado a tempo ou por ter desviado o dinheiro.
De imediato era indicado pelos chefões um novo responsável, para que a conta fosse paga e a energia restabelecida o mais rápido possível.
Com o fornecimento de energia limitado a expansão das favelas era contida, pois o pobre pode abdicar de todos os confortos da vida moderna, menos da televisão. É impensável deixar de ver o Silvio Santos, o Gugu, o Datena e os bispos da Igreja Universal e derivadas.
Porém, um fato novo veio modificar essa situação.
Indicado por injunções políticas para ocupar a Diretoria Adjunta de Distribuição da Light, o Sr. José Luiz Alquéres, obscuro funcionário da Eletrobrás, apesar de não ter qualquer vivência nessa área, teve logo de saída,  a brilhante idéia de levar a rede de alta tensão para dentro das favelas, estendendo as redes secundárias e fornecendo diretamente a energia elétrica para os moradores do local, passando a fazer ligações e emitir contas individuais, alegando razões de “cidadania”.
É compreensível que o desmembramento das medições viesse a ocorrer no futuro, porém de forma ordenada, após a urbanização das favelas, com a abertura de ruas e construção de redes obedecendo as normas técnicas.
Essa medida intempestiva e precipitada, originou uma série de problemas para a concessionária que perduram até hoje e são praticamente impossíveis de serem solucionados.
Consequentemente, a instalação da rede de baixa tensão nos morros foi o presente de “Papai Noel”  da Light para a comunidade, que agradeceu de imediato com o surgimento de milhares de “gambiarras”, “gatos” e todos os demais tipos de ligações clandestinas.
A redes elétricas foram se estendo morro acima como se tivessem vida própria, facilitando a edificação de novas construções e devastando a mata.
Com a emissão de contas individuais, os valores dos débitos em carteira aumentaram em razão geométrica e os cortes foram praticamente abolidos, pois os eletricistas não são doidos nem suicidas para ousarem interromper o fornecimento de energia elétrica para o “puxadinho” de um favelado. Seriam abatidos prontamente.
Recordo, que durante o período de racionamento no início dos anos noventa, enquanto lutava com meus familiares para pouparem energia vigiando para que nosso consumo mensal ficasse dentro da quota estipulada, da janela de meu apartamento assistia o festival de luzes ao longe, na favela do Vidigal.
O racionamento só valia para o pessoal da planície e para quem pagava suas contas.
E o pior de tudo, é que os débitos em carteira, os “gatos”, desvios de energia e inclusive as perdas técnicas, são computados no cálculo das tarifas e repassada a todos os consumidores.
Como de praxe, levamos na “tarraqueta”.
Tenho a firme convicção, de que essa medida impensada,  foi um fator de peso que estimulou a expansão das favelas, obviamente em paralelo com o descaso e omissão dos poderes públicos municipais e estaduais, preocupados apenas com os votos em potencial dessas comunidades, que no decorrer do tempo se transformaram em verdadeiras cidades, dominadas com mão de ferro pelos traficantes.
E por incrível que pareça, o pai dessa idéia, o Sr. José Luiz Alquéres, depois de ter rodado pela direção de diversas empresas, sempre “por cima da carne seca”, é o atual Presidente da LIGHT(deve ter um padrinho muito forte).
Fatalidade ou destino?

José Roberto-12/03/08


3 comentários:

  1. Texto longo mais muito oportuno, pois retrata a parte ruim da história do setor elétrico.
    Uma idéia infeliz que custou muito aos cariocas e ao país.
    Não podemos esquecer, que a manutenção da Light anda muito ruim, com faltas constantes de energia, principalmente na orla da Lagoa;

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  2. Essa nao e mais estatal. Diga o nome dos atuais proprietarios pra gente saber a quem dirigir as criticas. Quanto 'a solucao de medicao em alta na entrada da favela, deveria ser reativada para diminuicao das perdas - nao vejo outra solucao acompanhada de medidas de pgto pre pgo para o consumo alem do limite, nao correndo o risco de nao pgto e mais, as ativaçoes e desativaçoes via radio, para evitar a presença do pobre coitado do eletricista no meio da favela.

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  3. Como diz o dito popular " agora a Inês é morta". A eletricidade é um itém fundamental na vida de qualquer um . Não se vive sem ela. Tal e qual o telefone o consumo de energia elétrica tem de ser pré-pago, principalmente nas favelas, tendo em vista as dificuldades operacionais de instalação e manutenção de redes de distribuição, bem como da medição do consumo de energia elétrica. Com toda a certeza a introdução de energia elétrica nas favelas só faz crescer ainda mais as favelas.

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