quinta-feira, 13 de março de 2014

PENÚRIAS DA IDADE AVANÇADA

PENÚRIAS DA IDADE AVANÇADA

Já li essa frase um milhão de vezes e sou forçado a reconhecer sua profundidade: “A Velhice é Uma Merda”.
A medida que envelhecemos, depois de trabalhar duro por anos e anos, justamente quando nos preparamos para desfrutar madorramente da merecida aposentadoria, é aí que justamente aperta o calo.
Ao invés de nos deleitarmos preguiçosamente numa rede, pescar num final de tarde ensolarada, jogar futebol e brincar com os netos, viajar por locais que sonhávamos quando o dinheiro era curto, desperdiçamos parte preciosa do tempo útil que nos resta, nos salões de espera de médicos, laboratórios, hospitais e dentistas.
Inclui dentistas em cima da hora, porque devo a eles a razão deste texto.
Quando o sortudo atinge os cinqüenta/sessenta, é obrigado a se submeter a um “porrilhão” de exames, sendo subtraído de litros e litros de sangue, de garrafas e garrafas de xixi, latas de fezes e todos os fluídos pensáveis e impensáveis, capazes de serem extraídos de um corpo humano já bastante depauperado.
Sobre esses exames e muitos outros, pretendo escrever qualquer dia, um texto específico, pois o assunto que quero abordar é sobre dentes.
Desde que me reconheço por gente, sempre tive um “cagaço” danado de dentistas, portanto, sempre cuidei da dentadura com carinho e esmero, evitando ao máximo, as sofridas visitas aos boticões assassinos.
Sempre tive orgulho de ter mantido, a duras penas, todos os dentes, apesar dos desgastes causados pelo tempo e excesso de uso.
Orgulho que desmoronou no final do ano passado.
Desde que meu sobrinho Ricardo, companheiro de pesca e mergulho, se formou no sádico ramo da odontologia, tenho abusado de seu tempo e paciência, pois tratar de um velho cagão dever ser um saco.
Em julho/13, com uma irritação na gengiva, procurei uma dentista do meu plano de saúde, a quem recorro algumas vezes para limpeza e remoção das cracas, que solicitou uma montanha de radiografias para poder diagnosticar o problema.
De posse das fotos, alertou que deveria ser um problema de canal, recomendando que procurasse um especialista.
Juntei e a papelada e me mandei para Itanhaém, para que meu sobrinho, atualmente o melhor dentista da baixada santista, desse o seu veredicto.
Na cadeira de sacrifícios, depois de mais radiografias com equipamentos de ultima geração e alguns futucões, o terrível diagnóstico: Não era problema de canal, mas sim de perda óssea. Meu pobre dente estava com os dias contados.
Essa incerteza durou até dezembro, quando fomos passar o ano novo em Itanhaém.
O dente, velho e frágil, não resistiu a gula e a comilança da data festiva.
Coube a meu querido sobrinho, a tarefa inglória de extrair meu orgulho dentário.
Como não quis saber de implante, Ricardo optou por fazer um dente falso, apoiado no siso e no antepenúltimo, que ainda se encontravam em boa forma.
Ainda bem, que o extraído era lá do fundão, área esteticamente menos afetada.
Foi feita de imediato um trio provisório, que deveria ser usado até a moldagem do definitivo.
Evitando uma viagem Rio/Itanhaém, essa moldagem foi feita em Caravelas, meio nas coxas, mas com a reconhecida competência do meu sobrinho, que teve a paciência de levar uma caixa com todos equipamentos e medicamentos necessários, inclusive um motorzinho porreta e intimidador.
Esperava que o provisório agüentasse até a semana santa, quando em companhia de toda a família, inclusive da netinha, pretendíamos curtir nossa casa no litoral paulista.
Quis o destino que as coisas fossem diferentes.
Na quinta-feira, antes do Carnaval, estava almoçando quando notei que minha mordida estava diferente.
Terminei o almoço com cuidado e ao escovar os dentes percebi que havia engolido a danada da “perereca”.
Apavorado liguei de imediato para meu sobrinho.
Fui aconselhado a manter o “buraco” muito bem escovado e limpo, para evitar contaminações e alguma carie, até a instalação das próteses definitivas, o mais rápido possível.
Ensaiei peneirar minhas fezes para recuperar a perereca.
Depois de examinar com muito cuidado, minhas três primeiras “cagadas” após o infausto acidente, chegando até a me animar, quando vi um “marinheiro” de tamanho médio boiando na latrina, o único dentre os demais depositados no fundo, perdi a coragem.
Já estava com um pedaço de cabo de vassoura na mão, pronto para agredir o balouçante “marinheiro” quando fraquejei, pois sei que a fedentina seria de amargar.
Quando se rompe a película invisível que protege o cocô, um cheiro horrível emerge das fezes nauseabundas, num fenômeno físico/químico que deveria ser estudado mais a fundo.
Pise no cocô de cachorro para tirar a prova dos nove. Intocado fede muito pouco, mas depois de pisoteado, eliminar a catinga é dureza!
Cheguei a temer que a perereca ficasse entalada na saída do fiofó, talvez, enroscada na “prega rainha”, ainda entocada.
Felizmente, deve ter escorregado sem nenhum dano a minhas partes baixas.
O resultado do fracasso na recuperação do “provisório”, foram duas semanas comendo com extremo cuidado, mastigando devagar, apenas de um lado, prejudicando a degustação dos alimentos.
Problema finalmente eliminado na terça-feira, em Itanhaém, pelas mãos cuidadosas de meu sobrinho.
Embora desvirginado em minha dentição, já posso comer e morder sem maiores cuidados.
Volto a ser um novo velho homem,

José Roberto- 13/03/14





2 comentários:


  1. Concordo que ficar velho é uma barra muito pesada.
    Porém, como você, jamais deveremos perder o humor diante do nosso calvário.
    Bom e divertido texto.
    Pedro Paulo

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  2. Se o Ricardo é o melhor atualmente, o Renato segue de perto os passos do irmão. Um caso típico de DNA familiar...
    Luizinho.

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