sexta-feira, 1 de março de 2019

RASGANDO A FANTASIA


RASGANDO A FANTASIA

Li ontem, uma crônica contundente do Arnaldo Jabor, sobre o carnaval, mordaz, abordando uma faceta característica do brasileiro  alienado, que se deixa seduzir por migalhas de “pão e circo”.
Se entrarmos no espírito do texto, na atual situação do país não há mesmo motivos para comemorações e risos.
Inebriado por uma sensação surrealista, o povão, endividado e sem emprego, deixa de lado suas aflições para cair na folia, cometendo em quatro dias excessos, que aumentarão ainda mais sua penúria e arrependimentos.
A coisa chega a tal ponto, que até eu, zarolho, vou rasgar a fantasia, de leve, aqui mesmo em casa, pois o chapéu de pirata já ganhei de minha mulher.
Comprei também uns vinhos, umas cervas artesanais IPA, e um montão de cajus(caros pra cacete), para preparar dezenas de “cajus amigo”, batida de especial predileção de Dona Regina e Maria Silvia. Eu também não rejeito esse maravilhoso drink.
No meio de toda essa pretensa farra, martelará na cabeça a pergunta que não quer calar, “tá rindo do que, otário”.
Apesar dos pesares, acho mesmo que temos que rir de nossa própria desgraça, de nossa insensatez, de como permitimos que o país tenha sido esculhambado, vilipendiado e saqueado por tantos e tantos anos?
Ao contrário da racionalidade do texto do Jabor, não sei se vale a pena ser tão objetivo e sério, nesses dias que se avizinham e que causam uma amnésia agradável na maioria dos brasileiros?
Sóbrios ou manguaçados temos mesmo é que desopilar, rir de nossas falhas e burrice , pois amanhã será outro dia, e alem da ressaca teremos que continuar encarando os problemas de sempre, tropeçando, caindo e sacudindo a poeira, “pois acima de tudo o brasileiro é um forte”(parodiando Euclides da Cunha).
Eu, meio fraquinho, vou ficar na varanda vendo os blocos passarem, sambando com Dona Regina, devidamente paramentado, tomando e misturando todos os tipos de manguaça.
E viva a insensatez!
Até quarta-feira de cinzas...

José Roberto- 01/03/19


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