terça-feira, 16 de outubro de 2018

A RIPOLÂNDIA


Como estou apertado com o tempo, tentando marcar uma data para atendimento na Receita Federal, pois pela Internet não há vagas, lá vou eu novamente enfrentar uma enorme fila, para apresentar meu recurso contestando a multa relativa ao IR 2013, que pensei já estar resolvida.
ESSE TEXTO QUE REPRODUZO É A PURA EXPRESSÃO DA VERDADE, PESADO E IMORAL, NÃO RECOMENDADO PARA MENORES.  PRETENDO EXPLORÁ-LO COM MUITO MAIS DETALHES QUANTO TIVER CORAGEM PARA ESCREVER MINHAS MEMÓRIAS.

JOSÉ ROBERTO- 16/10/18




A RIPOLÂNDIA


Nos bons tempos, quando tinha meus quatorze para quinze anos, com os hormônios aflorando pelos poros e com o libido em franca expansão, sonhava em conhecer a Ripolândia, bairro distante no qual ficavam instaladas todas a putas de Piracicaba(nem todas).
Escutava com atenção as conversas dos mais velhos desfiando as maravilhas do prazeiroso local, destacando a qualidade e competência das biscates locais, em especial de uma tal “Paraguaiana”, que segundo diziam, era a própria capeta nas artes das sacanagens. Fazia de tudo e mais um pouco.
 Tinha sérias limitações para realizar meu sonhado intento, pois as regras caseiras estipulavam que o horário máximo de chegada noturna encerrava-se as vinte e duas horas, senão levava uns cascudos e um sermão de minha mãe, senhora absoluta da família Ferraz.
Como eu era bom de bola e jogava no time principal da Usina Monte Alegre onde morava, convivendo com adultos, tomei ciência de uma excursão ao aprazível lugar num dia próximo, por volta da dezenove horas.
Todo excitado, mal pude esperar pelo dia fatídico, quando finalmente iria me defrontar pela primeira vez com as gentis e desfrutáveis donzelas, mesmo sabendo que correria sérios riscos com a quebra de disciplina, pois provavelmente bateria o ponto atrasado no  retorno ao doce e querido lar.
Bem antes do horário combinado lá estava eu no local de encontro, arrumadinho, farda nova, gumex no cabelo e cheirando a aqua-velva do meu pai, com a qual encharcara meu rosto imberbe.
O meio de transporte era um velho caminhão GMC, dirigido por um dos craques do time.
Junto com umas dez pessoas me aboletei na carroceria e lá fomos nos em direção ao local proibido, que distava uns vinte quilômetros, ficando na entrada oposta da cidade.
A Ripolândia era um conjunto de casas que ocupava aproximadamente uns quatro quarteirões quadrados, parecendo imensa aos olhos de um menino. Uma verdadeira cidade dos prazeres.
Como não havia saneamento, o esgoto corria a céu aberto defronte as casas e a fedentina era de lascar.
Chegando ao local nos espalhamos. Eu e um pretinho chamado Dito Bomba(ganhou esse apelido por ter soltado uma bomba num dos bailes realizados na sede social do UMA) tratamos de acompanhar um conhecido mais velho, Nenê Bocheti(não confundir, esse era realmente o sobrenome de família), que era um dos principais divulgadores da tal de Paraguaiana.
Finalmente chegamos a casa que dava abrigo a tão famosa meretriz.
Numa sala grande e mal iluminada uma dúzia de putas aguardavam sorridentes os nervosos clientes que adentravam ao recinto em busca de seus doces favores.
O que me impressionou nos breves momentos que fiquei em tão aconchegante ambiente, foram os inúmeros quadros sacros e imagens de santos pendurados nas paredes, ao som lamuriento de uma música de fundo que cantava desgraças de uma moça deflorada e o sagrado amor de mãe.
Fui logo barrado pela cafetina que administrava a casa com mão de ferro, conhecida e temida por todos os freqüentadores habituais, atendendo pelo nome de Maria Trinta e Nove.
A mulher tinha uns dois metros de altura por dois de largura. Realmente impunha respeito.
Diziam, que quando uma das putas demorava mais de meia hora para cumprir com seus afazeres, metia o pé na porta do quarto berrando a conhecida frase: “vamos logo muié, nesse tempo eu já tinha servido uns treis).
Como fomos barrados, eu e Dito Bomba nos contentamos em ficar na porta, espiando o movimento pelas frestas até que apareceu uma puta gordinha e barriguda, vestida como um abajur, que era muito engraçada e ficou matando o tempo com os dois frangotes.
Era realmente muito esculachada, pegando no pé do Dito Bomba, repetindo diversas vezes e gargalhando, “que preto quando nascia era igual a filhote de urubu, nasce branquinho, mas bastava olhar no cú para identificar. Se fosse roxo não tinha erro, era preto na certa”.
E assim passamos as horas, conversando com a puta e zanzando pelo fétido local, tentando entrar em outras casas sem sucesso e sem qualquer chance de nos depararmos com a famosa Paraguaiana, o que para nós foi uma grande decepção.
Tempos depois, um pouco mais velho mais ainda curto de grana, retornei algumas vezes durante o dia, conseguindo os favores de uma falsa e obesa loira que atendia pela alcunha de Mazola, que cobrava dos visitantes diurnos apenas um valor simbólico.
Se a noite o fedor era insuportável, imaginem durante o dia com sol quente. Só mesmo um tesão imenso para suportar essa sujeira.
Um anônimo freguês, inspirado, compôs uma bela poesia,  que musicada ficou famosa, uma verdadeira ode as infelizes marafonas.
Me desculpem o palavreado, mas merece ser lembrada “ipsis literis”:
Na Ripolândia, já puseram tabuleta,
quem tem dinheiro mete, quem não tem bate punheta.
Quem tem cinco vai no cú,
quem tem dez vai na buceta”.
Não me lembro se levei algum castigo por ter retornado tão tarde, talvez inebriado pela lembrança das agradáveis e inatingíveis putas e de tão acolhedor local.
Anos mais tarde, já formado e trabalhando fora, tive conhecimento que um prefeito imbecil(talvez um viado enrustido), querendo controlar a freqüência na cidade do pecado, montou uma cancela onde todos eram obrigados a se identificar, exigindo a apresentação de documentos.
A Ripolândia, inesquecível templo das luxúria, não resistiu um mês a essa afronta, fechando definitivamente suas portas.
As putas tristes e desgostosas, espalharam-se pela cidade.

José Roberto- 31/03/08





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