COMEMORAÇÃO E EFEITOS COLATERAIS

COMEMORAÇÃO E EFEITOS COLATERAIS

Já havia escrito que comemoraria com imenso prazer, após confirmação visual da prisão do perigoso marginal Mula Nove Dedos, degustando um Scotch especialmente reservado para tão esperada ocasião.

Como a palhaçada em São Bernardo demorou tanto, cansei e tomei apenas umas poucas talagadas, deixando o grosso da manguaça para domingo, após as acirradas disputas no tênis.

Acordei animado, ficando ainda mais satisfeito quando lá pelas 8,30 da matina, chequei no nosso grupo do WhatsApp que o jogo prometia, com presenças confirmadas de Juarez Bichado, Paulinho Explicadinho, Marcelo Mosquito Elétrico e eu, Zé o Velho, o Matusalem da turma.

Miguel o craque lusitano, apresentou justificativas aceitáveis, alegando que era aniversário do sogro e que daria apenas uma passadinha rápida para um alô e talvez uns goles.

Edmar  pau mandado, não tem dado notícias. Talvez  esteja cumprindo pena em regime fechado por algum apronto, ou mesmo sem culpa, por ordem da patroa.

Desci devidamente municiado com um bom carregamento de cervejas, sendo surpreendido ao acondicioná-las no freezer da churrasqueira, pela bela visão de um litro de Jagermeister , trazido por Paulinho.

Duplas formadas, Paulinho e Juarez contra eu e Marcelo. Já certo que faturaria mais uma taça, como de costume, não contava com o imponderável.

Juarez carreirinha, que tem dor em tudo quanto é junta, estava um capeta.

Ou dormiu com a bunda descoberta virada para o morro, ou tomou alguma substância altamente dopativa, pois o danado estava elétrico, jogou como nunca, um jogo que não era dele.

Ou estava incorporado por alguma entidade tenista(vi uma vela acesa atrás da churrasqueira), ou era mesmo efeito do dopping.

O Cara acertou smashes dificílimos do fundo da quadra, voleou impecavelmente, acertando praticamente todos os voleios, ao contrário do habitual quando não acerta nem dez por cento.

Até que conseguimos endurecer o jogo, mas a contragosto, tenho que afirmar que tomamos na tarraqueta.

Para compensar essa armadilha do destino, atacamos as cervas com avidez e eu especialmente o Jagermeister, que é docinho, mas de elevado teor alcoólico.

Obviamente, bebemos todas comemorando a prisão do Mula, torcendo, para que o resta da turma dos políticos corruptos tenham logo, o mesmo destino.

Devo ter subido meio zonzo, pois esqueci a toalha, munhequeiras que me foram entregues no dia seguinte, lembrando que ainda teria que preparar um macarrão ao alho e óleo e camarão frito, últimos pacotes que trouxe de Caravelas.

Ainda bem, que antes de descer, já tinha deixado tudo encaminhado.

Fernanda minha filha, meu genro e minha netinha,  apareceram para o almoço e  apesar da cara emburrada de Dona Regina, consegui concluir as tarefas culinárias com êxito, sem me queimar, e até com bom resultado.

Talvez manguaçado eu até cozinhe melhor, apesar de não me lembrar muito bem do almoço, recordando apenas apreensivo com a cara enfezada de minha mulher.

Nem me lembro das despedidas, pois após o regabofe fui para a sala de TV, acendi um charuto e peguei no sono, acordando apenas quando minha filha Maria Silvia me alertou sobre o charuto quase caindo e minha camisa repleta de cinzas.

Sou um perito em dormir com o charuto aceso, sem me queimar, embora já tenha estragado diversas camisas.

O problema foi o sermão de Dona Regina, que recriminou meu papelão, embora acredito que não tenha feito de mais, a não ser ficar um pouco mais alegre que habitualmente.

De quebra, a patroa ameaçou aparecer de sopetão, quando após os jogos a turma estiver saboreando as cervas e algo mais forte,  para me dar uns cascudos e uma lição de moral.

É bom que todos fiquem de sobreaviso, pois Dona Regina pode convocar a outras mulheres para esse arrastão.

Esqueci de mencionar, que Miguel apareceu rapidamente para tomar apenas uns poucos goles, pois tinha que “tomar a benção do sogro”,  e que Paulinho levou também um queijo, que pelo jeito já devia estar com o prazo vencido, alegando ser um queijo raro italiano, rançoso para cacete.

Até que foi um bom domingo, lamentando apenas a derrota da melhor dupla, por um acidente da natureza que dificilmente se repetirá, pois como dizem, um raio (e um despacho) não cai duas vezes no mesmo lugar.

Esqueci de exigir o exame anti-dopping do Juarez.

Bebi com certo exagero para esquecer a derrota e para comemorar a tardia prisão do Mula.

O restante  que não recordo, debito na conta dos efeitos colaterais.

José Roberto- 10/04/18

E.T.- Na correria esqueci de mencionar o Carlos, pois o danado anda sumido. Dizem que está com problema de "espinhela caida",  Moço mas já bichado.  Não sei se pegou do Juarez a bichação, mas preciso me cuidar. Vou pesquisar se existe alguma vacina, pois em velho tudo é mais complicado.