O DECLÍNIO DO FIEL ESCUDEIRO

O DECLÍNIO DO FIEL ESCUDEIRO

Hoje pela manhã, quase levei Vick, meu fiel escudeiro, para receber cinzas na igreja mais próxima, esperando talvez um milagre, pois meu amigão anda muito abatido.

Nesse carnaval que terminou, Vick quase não saiu de casa, demonstrando pouco ânimo para deixar seus cantinhos prediletos.

Alem do peso da idade, 13 anos, que para cães, especialmente da raça Pug é um bocado de tempo, o velho parceiro dá sinais de cansaço, de ter perdido o vigor e seu espírito marrento.

Nas poucas vezes que descemos até o jardim do prédio, retornava resfolegando, demorando muito tempo para que sua respiração voltasse ao normal, mesmo em sala refrigerada.

Desisti de vez das caminhadas mais longas, das nossas voltas pela Praça da Macumba e vizinhanças.

Caminhadas e aventuras que ficaram no passado.

Mesmo no encontro com cães amigos e rivais, Vick tem mostrado quase uma indiferença, passando ao largo, sem cheiradas e sem rosnados.

Tentei sem sucesso, a descida carregando-o no colo, na ida e na volta, porem a dificuldade na respiração continuava sendo exatamente a mesma, talvez devido ao excesso de calor que tem castigado o Rio.

Alem desse cansaço extremo, percebo que ele me encara com uma certa melancolia, com um tristeza em seus olhos que já enxergam pouco.

O apetite que era muito bom, também definhou, recusando até mesmo as iguarias proibidas que sempre lhe dei escondido, temendo a reprimendas de Dona Regina, pois certamente não lhe fazem bem, causando alergias e outros problemas.

Um sintoma de não anda bem, é o rabinho esticado, pois em condições normais, o rabo do Vick, como de todo Pug, sempre fica enroladinho.

Temendo que esteja com alguma dor, refletida por seu triste olhar, estamos lhe ministrando doses diárias de analgésicos, que pelo jeito, não estão apresentando resultados satisfatórios, pois o desconforto continua.

Minha mulher notou, que hoje pela manhã, Vick teve muita dificuldade para urinar, o que talvez seja uma nova complicação.

Estamos agendando uma rápida visita ao veterinário, que como sabemos por antecedência, pedira vários exames, radiografias, ultrasonografias, para constatar o obvio.

Vick está velho, padecendo dos males da velhice.

Não deixa de ser uma tristeza, um aperto no coração, pois a família inteira adora esse cãozinho feio/bonito, que alegrou nossa casa e nos fez companhia durante tantos anos.

Olhando para ele há pouco, antes de descer para escrever esse texto, noto apenas um triste olhar, sem ao menos se levantar e me seguir até a porta, como sempre fez.

Meu fiel escudeiro está cansado.

Rezo para que ainda não esteja pensando em nos deixar.

José Roberto- 10/02/16