sexta-feira, 5 de abril de 2013

A BEIRA DA LOUCURA


A BEIRA DA LOUCURA

O pessoal lá de casa anda reclamando que não me agüenta mais.
Que ando nervoso, irascível, intolerante, não admitindo contestações, nem que contrariem minhas opiniões.
Pobre de quem ouse discordar ou ao menos sugerir que “a coisa não foi bem assim”, que talvez exista outra solução, inclusive na discussão sobre essa maldita lei das domésticas.
Reclamam do meu tom de voz, pois basta uma pequena indagação para que eu multiplique os decibéis do meu arrazoado, distribuindo grosserias a quem estiver nas proximidades.
Minha mulher, a única que não se intimida, alem de me esculhambar nessas ocasiões nervosas, admite que com a idade avançada, talvez eu esteja ficando bipolar, ou apenas um velho rabugento.
Alguns dias atrás, Regina me confidenciou que Fernanda, minha caçula (que finalmente está grávida e vai me presentear com uma neta), comentou que seria oportuno marcar uma consulta com um psiquiatra, pois pelo meu procedimento recente, talvez seu pai estivesse ficando louco.
Confesso que tenho culpa no cartório.
Porem, com atenuantes, pois não é fácil assimilar num curto prazo, a perda da mãe, de um irmão e ainda por cima ter a situação financeira complicada, com inventários e ações na justiça tentando recuperar parte dos prejuízos.
Se não bastassem essas justificativas para explicar meus eventuais desvios de conduta e manifestação extemporânea de falta de lucidez, existe sem dúvida um razão principal.
Começo agora dia 10, meu check-up anual de rotina.
Alem da batelada de exames, raios X, ultrassonográfias, ecodopler e “pornográfias”, culminando com a retirada de dezenas de tubos do meu precioso sangue, o que realmente de dá nos nervos, é a ante-agonia do exame da próstata.
Com certeza, essa é a principal causa do meu mau humor recente, coisa que nenhum psiquiatra dará jeito, a não ser que empreste seu fiofó para ser cutucado pelo meu urologista.
Tenho dormido mal, com o sono entrecortado de pesadelos, dando graças de Deus ao acordar, constando que o sofrimento era apenas sonhos, esquecidos de imediato assim deixo a cama.
Essa obrigação anual de ter seu “derrière” invadido por um dedo estranho, alem de um martírio para os não iniciados(espadas como o velhote aqui), é uma demonstração cabal de que a medicina precisa evoluir muito nesse campo prostático , eliminado de vez a necessidade de submetermo-nos a esse exame humilhante e dolorido.
É obvio que existem opiniões contrárias, pois tenho amigos que gostam, nesse caso especifico, de se submeter a uma segunda e terceira opinião.
Gosto não se discute, mas meu fiofó sempre teve mão única, de dentro para fora.
Tudo que vem de fora para dentro contraria a lei da natureza(estou escrevendo por mim).
Acometido de um baixo-astral masoquista, vou riscando na folhinha os dias que passam, abreviando minha visita forçada ao temido e sádico urologista.
O terrível dia D.
O dia da dedada.
Tenho certeza, que se sobreviver a mais esse tenebroso episódio, o pessoal de casa poderá contar com dias de bonança.

José Roberto- 05/04/13





4 comentários:


  1. Não fique deprimido, pois somos solidários em sua dor e sofrimento.
    A dedada é inevitável, você goste ou não.

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  2. Quando leio essa sua arenga, dando voltas para justificar sua tensão pré-menstrual, fico na dúvida se você realmente abomina ou espera com ansiedade o cutucão do Dr. Kededo.
    Não precisa ter vergonha, pois como você mesmo afirma, muito dos seus amigos repetem o exame mensalmente.

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  3. Apesar de ser um exame terrivelmente chato, é importante que você e seus amigos coroas façam o exame de toque retal, pois esse exame é indispensável para atestar a boa forma da próstata, ou para garantir diagnósticos prematuros.
    Não se amofine e deixe a coisa rolar.

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  4. Parto, a Próstata e a Vingança

    Ela com 19 e eu com 20 anos de idade.

    Lua-de-mel, viagens, prestações da casa própria e o primeiro bebê, tudo uma beleza.

    Anos oitenta, a moda na época era ter uma filmadora do Paraguai.

    Sempre tinha ou tem um vizinho ou mesmo amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambinha por um precinho muito bom!

    Hora do parto, ela tinha muita vergonha, mas eu, teimoso, desejava muito eternizar aquele momento.

    Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.
    Não, amor! Que vergonha!

    Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme.

    Perdi a conta de quantas cópias eu fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos.

    Meu filho e minha esposa eram os meus orgulho e tesouro.

    Três anos se passaram aí nova gravidez, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro, tudo como antes.

    Como ela "categoricamente" me disse que não queria que eu a filmasse dessa vez, sem ela esperar, invadi a sala de parto e mais uma vez com a câmera ao ombro cumpri o mesmo ritual.

    As pessoas que me conhecem sabem que em mim havia naquele momento apenas o amor de pai e marido apaixonado nesse ato.

    O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.
    Agora eu com 50 ela com 49.
    Nada que se comparasse ao fato de ela, nessa semana, num instinto de vingança, invadisse a sala do meu urologista, com a câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata.

    Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando:

    - Ah! Doutoooor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

    Meus olhos saindo da órbita fuzilaram aquela cachorra, mas a dor era tanta que não conseguia nem falar.

    O miserável do médico, pra se exibir, girou o dedão!!! Ah! eu na hora vi o teto a dois centímetros do meu nariz.

    E a minha mulher continuou a gritar, como se fosse um diretor de cinema:

    - Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar dessa vez. Vou dar um close agora...

    Na hora alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

    Agora amigos, estou escrevendo este e-mail pedindo aos amigos, parentes e outro mais que se receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim.

    Eu pago a taxa de reembolso.

    (Luiz Fernando Veríssimo)

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