quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

OBESO

OBESA

Confesso que venho me corroendo de vergonha, pois cometi uma grande injustiça, provando mais uma vez, que vou ficando velho e não aprendo e que experiência pouco vale ou vale nada.
Reconhecer erros não é tarefa fácil, mas mesmo a duras penas e com o rabo entre as pernas, é a única forma de expiar nossas cagadas, aliviar a consciência e tentar aprender com mais essa derrapada.
Estávamos em plena comemoração de ano novo no alto da serra, em Araras(Petrópolis), numa ótima casa alugada por meu genro, com alguns poucos parentes e amigos, quando, após degustarmos  deliciosos regabofes e tomar algumas, num canto da mesa jogávamos conversa fora.
Não me lembro exatamente como e a razão, mas uma das convidadas mencionou a palavra obesa, pronunciando o “é” bem aberto, dizendo que aquela era forma correta de se pronunciar a palavra.
O metidão aqui, que se julga sabichão e conhecedor da língua pátria, retrucou na mesma hora, discordando, afirmando que a pronúncia correta da palavra “obesa” era com o “e” fechado, arrotando pretensa sabedoria e dizendo que jamais, desde que se conhecia por gente, tinha ouvido essa palavra ser pronunciada de forma aberta.
A jovem senhora, meio sem graça, replicou dizendo que havia feito um curso e lido alguns livros que explicavam a forma correta de se pronunciar a palavra.
Ao invés de deixar o assunto morrer piorei a situação, exorbitando e sendo pretensioso ao extremo, a ponto de afirmar que livros, já os tinha lido aos milhares, palpitando que a querelante não teria lido nem dez por cento do meu montante.
Essas frases infelizes,  eivadas de orgulho inescrupuloso e vazio, devem ter escapado pela mania de pré-julgar as pessoas sem conhecê-las mais a fundo, alem de ser induzido a cretinice pela influência de Baco, pois já havia tomados umas e outras.
A jovem senhora realmente devia conhecer o assunto, pois um pouco acima do peso talvez tivesse consultado o dicionário para se instruir sobre a denominação e uso correto da palavra(outro pré-julgamento).
Recebi até  um leve apoio de uma amiga que a contragosto ouvia o irrelevante debate,  dizendo que também acreditava que a pronúncia correta da palavra era com o “e” fechado.
Felizmente, minha filha Fernanda, anfitriã e bem mais safa que o pai, matou o assunto, acabando com o mal estar passageiro que pairava sobre o grupo.
Aparentemente, nos dias subsequentes tudo voltou a normalidade e quaisquer arestas foram aparadas.
Retornando ao Rio, a primeira coisa que fiz foi consultar o Google, ficando com cara de merda, pois embora muito pouco utilizada em nosso país, segundo Aurélio e Houaiss , a palavra “obeso”, grafada corretamente sem acento, deveria ser pronunciada com o “e”aberto.
Por sorte, fui salvo fugindo do rebaixamento para a segunda divisão, por Caldas-Aulete, explicando que  apesar de originariamente a pronúncia ser aberta, no Brasil, é normalmente usada na forma fechada(serviu de consolo).
As vezes é bom levar alguns trancos e cacetadas para  que deixemos de ser arrogantes e metidos, pois a pretensão de ser um expert em nossa língua já é um exagero desmedido.
A vida vai nos ensinando.
Precisamos apenas ter a inteligência e sensibilidade de armazenar e recordar esses ensinamentos nos momentos oportunos, evitando que nossas cretinices tomem a frente e nos conduzam a labirintos difíceis de serem contornados.
A verdade nua e crua desse triste episódio, é que fui metido a besta e presunçoso, e que deveria aprender de uma vez por todas, evitando cair em novas esparrelas.
O problema é que sei, menos dias, mais dias, entrarei em outra fria, pois como diz o ditado “burro velho não perde a barda”.

José Roberto- 10/01/18


Um comentário:

  1. Talvez não fosse tão enfático, mas também defenderia a forma fechada.
    nossos ouvidos estão acostumados a isso.

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