segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PALAVRÕES

PALAVRÃO

Minha mulher vive me dizendo: “Quando não tiver assunto não escreva, pois você exorbita dos palavrões quando está enchendo lingüiça”.
Talvez essas não sejam as palavras exatas, mas quanto ao sentido não tenho dúvidas, pois ela diz ficar envergonhada quando disparo palavrões e obscenidades nos meus textos.
Devo ter algum pequeno desvio de caráter(atentem para o detalhe: pequeno), pois adoro dizer palavrões e conversar sobre baixarias com minha turma de velhotes safados(também no bom sentido), pois conforme já tive oportunidade de esclarecer, com a idade as inibições sumiram, libertando tendências pouco recomendáveis, que jaziam acorrentadas nos escaninhos secretos de minha mente.
É obvio que socialmente, sou ou tento ser educado, agindo “mais ou menos” dentro das regras de etiqueta e civilidade.
Embora exista opinião divergente, justificada pelo meu pseudo passado de “menino de rua”, considero meu desempenho social bastante aceitável, noves fora os cutucões que recebo, quando “a patroa” julga que estou passando dos limites.
Mas cá entre nós, um palavrão na hora certa lava a alma!
Quando você da aquela canelada na mesa de centro que alguém deixou fora de lugar, bate a cabeça na quina da janela, dá uma topada num degrau, existe alívio melhor que um “puta que pariu”?
Quando você se aborrece com alguma cagada de um filho, amigo, ou parente, um “porra ou caralho” não ajuda dissipar a raiva?
Ou então quando você quer elogiar alguma coisa, um bom prato, um vinho especial, nada com encher a boca dizendo: “é de foder” ou mesmo “é do caralho”!
Atualmente, esse palavreado grosseiro e chulo não é privilégio dos mais velhos, sendo por demais comum na conversa dos jovens, inclusive das mulheres.
Há pouco tempo, quando estávamos retornando de uma viagem, eu e minha mulher ficamos espantados com duas mocinhas que conversavam animadamente, num tom relativamente alto, distribuindo “porras, caralhos, é de foder” e outros adjetivos cabeludos a torto e a direito. De cada dez palavras que pronunciavam, metade eram palavrões, num recinto repleto de pessoas de todas a idades, sem dar “a mínima” aos vizinhos.
Conheci duas pessoas imbatíveis no uso de palavrões.
Um deles foi meu saudoso amigo Norberto, que em reuniões com colegas e subordinados, desfiava um rosário de palavrões intermináveis, de uma forma tão natural que todos aceitavam sem a menor restrição e constrangimento.
Recordo, do tempo que éramos estudantes, certa vez sua mãe afirmou que se orgulhava da educação do filho, principalmente pelo fato dele jamais dizer palavrões. Tive que engolir essa quietinho, para depois esculachá-lo em particular.
Outro foi o Tácio, velho amigo de quem não tenho notícias, que de óculos, ar professoral, com uma cara de sério e compenetrado, ao telefone debulhava palavrões capaz de fazer corar o mais safada das secretárias.
Naquela época, na Cesp, as divisórias das salas não alcançavam o teto e as conversações eram ouvidas pelas pessoas das salas vizinhas, que se deleitavam com a verborragia indecorosa do sisudo colega.
Aprendi muito com esses bons e velhos amigos, e tento dentro do possível, caprichar, provando que “os bons exemplos” não foram em vão.

José Roberto- 26/08/11



 NOTA- TEXTO RECUPERADO DO BLOG TERRA OPINIAODOZE, QUE SE MANTEM EXTREMAMENTE ATUALIZADO.

José Roberto- 21/12/15

Um comentário:

  1. Tive um chefe que a qualquer hora dizia "ai que foder-se e tomar quina que es la mejor medicina"

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