quarta-feira, 4 de junho de 2014

ESPELHO, ESPELHO MEU...

ESPELHO, ESPELHO MEU.

Desde sempre gostei de fotografias.
Recordo, que nos idos de 1964, comprei a muito custo, uma máquina fotográfica Kodak Rio 400, acredito, a primeira câmera fabricada no Brasil.
Era uma carroça, sem recursos, mas foi utilizada durante muitos anos, pois a segunda, comprei em 1978, uma Olimpus Reflex, na primeira viagem que fiz a Manaus, a trabalho.
Talvez, por sentir falta de fotos da minha infância, pois tenho pouquíssimas, documentei com fartura todas as fases e o crescimento de meus filhos.
Álbuns e mais álbuns povoam os cantos escuros dos armários, de vez em quando requisitados, para matar saudades e reavivar antigas lembranças.
Lembro, que aos poucos, fui trazendo da Zona Franca, objetivas, lentes, filtros e até mesmo comprando alguns livros práticos, para melhorar minhas técnicas, mas reconheço que nunca cheguei a ser um bom fotografo.
A bamba da família é minha mulher, que talvez cansada da minha falta de inspiração, entrou firme no ramo, se especializando para valer, antes da chegada da era digital.
Reticente de início, Regina logo se adaptou as câmeras digitais, que em pouco tempo tomaram conta do mercado, banindo o velho sistema de filmes e revelações.
Em paralelo, tornou-se perita em fotoshop, adotando como hobby a recuperação de fotos antigas, mas o que realmente fez sucesso, foi o retoque nas fotos pessoais, transformando amigas e conhecidas em verdadeiras pitéus.
O assédio e volume de pedidos era grande até a chegada da neta, para a qual todas as atenções foram dirigidas.
Após a entrada triunfal da pequena Letícia em nossa família, as fotos se multiplicaram, tanto pelos Iphones, quanto pelas câmeras modernas da minha mulher, que mostram os mínimos detalhes de tudo que foca.
A chegada do maldito HD realmente deve ter mexido no ego das pessoas.
Eu mesmo, que nunca fui vaidoso, quando me vejo numa foto tirada com uma dessas malditas câmeras HD, fico meio constrangido ao constatar de forma nua e crua, os estragos causados pela idade avançada.
Até que no espelho me enxergo mais jovem, em melhor forma, mas na foto HD todas as imperfeições, manchas, pintas, cicatrizes, espinhas e poros abertos, são realçados com destaque.
Sempre brinquei que espelho de barbeiro é especial, melhora o corte, deixa o caimento bonito, diferente de quando vemos nosso reflexo na primeira vitrine, ao sairmos do salão onde fomos tosquiados.
Essa é a dura realidade.
Os espelhos são até bem generosos, mostrando talvez aquilo que queremos ver.
Já essas câmeras HDs, com seus milhões de Mega Pixels, enxergando mais que o olho humano, são inclementes, retratam até o que não deveriam, chegando perto até mesmo da nossa alma.
Se sinto algum desconforto, imagino as mulheres, vaidosas e competitivas por natureza.
Devem odiar esse tal de HD impiedoso, se recusando a serem fotografadas por essas geringonças que machucam o ego e causam desconforto.
Só se devidamente retocadas, com um fotoshop caprichado.
Os modernos celulares já estão entrando nessa fase de propiciar ótimas fotos, porem, mais cuidadosos, dispondo de recursos automáticos para “ajeitar” as imagens, reduzindo os duros impactos em seus usuários.
Temos a mania de nos comparar com colegas de faculdade, do trabalho e sempre que vemos fotos desses velhos amigos pensamos: “pô, estou bem melhor que esse cara, mas inteirão, mais conservado”.
Essa é nossa válvula de escape, se bem que muitos machões não gostarão de admitir que percam tempo com essas mesquinharias.
Se pensamos assim, difícil imaginar o vai pela cabeça das mulheres!
Um terrível dilema.
Espelho, espelho meu....

José Roberto- 04/06/14



Um comentário:


  1. Bom texto, filosofia barata mas encarada de forma inteligente.
    abraços

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