segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

TRAGÉDIAS


TRAGÉDIAS

 

Já tinha escolhido o assunto para baixar o sarrafo nessa porcaria de governo, porem, o trágico acontecimento de Santa Maria, causou comoção nacional, me fazendo lembrar dos horrores dos momentos de pânico.

Em 1964, mal tinha completado meus 18 anos, já dava duro para auxiliar nas despesas familiares e custear a faculdade, labutando no Banco de São Paulo, recém inaugurado, que ficava na Rua XV de Novembro, quase em frente a praça principal de Piracicaba.

Passava um pouco das 13,00 horas quando escutamos um barulho intenso(vrummm) e a energia elétrica foi interrompida imediatamente,

Como o barulho foi muito próximo, pois estávamos a menos de 100 metros do local, saímos para ver o que havia acontecido.

Nuvens de poeira vinham em nossa direção, não dando para enxergar nada, exceto faíscas de fios que haviam partido e serpenteavam pelo chão, colocando em risco os curiosos.

Me afastei da praça até um local que julguei mais seguro, ainda sem saber o que havia acontecido.

Alguns afoitos afirmavam que um pequeno avião havia se chocado com o Edifício Comurba, um imenso prédio em fase final de construção, que ficava exatamente ao lado da praça.

Era um dos orgulhos da Noiva da Colina.

Prédio moderno, em forma de S(deitado), com galerias no térreo e um cinema que já se encontrava em funcionamento.

Por sinal, no dia da tragédia, o matinê que sempre começava as 14,30 horas, tinha como atração o filme “A Vida Pecadora de Kristine Keller”, aquela piranha que ficou famosa no Caso Profumo, ministro inglês, que na alcova, sussurava segredos de estados para essa Mata-Hari, que os repassava aos soviéticos.

Por sorte, o desastre ocorreu por volta das 13,00 horas, com o cinema ainda fechado.

Morreu apenas a bilheteira que estava em seu posto e mais uns 50 operários que trabalhavam na obra.

O esquisito é que ruiu exatamente uma metade do S, virando pó, literalmente.

Não sei o resultado da perícia, mas tudo leva a crer que na construção, ouve generosidade nas porções de areia, em detrimento da quantidade de cimento.

A metade restante, como um esqueleto macabro, resistiu e enfeou a cidade por quase 10 anos, até que um prefeito peitudo, desmontou o monstro na marreta, aumentando os limites da praça.

Após esse grave acidente, o povo da cidade foi acometido de uma fobia contra as alturas, tanto assim, que inúmeros prédios já projetados deixaram de ser construídos, temendo os incorporadores, que não houvessem interessados em adquirir essas novas unidades.

Comentava-se também, que o Edifício Bandeirantes, prédio de apartamentos que ficava bem próximo ao Comurba, projetado pelo mesmo arquiteto e edificado pela mesma construtora, estava balançando, e com certeza teria vida curta.

Pelas voltas que a vida dá, comprei há uns vinte anos atrás, um apartamento nesse mesmo edifício, onde minha querida mãe morou até seu falecimento, no ano passado.

Recordo de duas situações de pânico terrível que passei nessa época, ambas no Cine Politeama, que ficava também próximo ao local, na mesma praça.

A primeira foi quando soltaram um bomba potente, em frente do cinema, durante a sessão noturna.

Foi uma correria geral. Quando dei por mim, estava no banheiro junto com um monte de pessoas assustadas, com medo que o prédio desabasse. Encurralado.

Outra ocasião, foi quando um namorado ciumento deu um violento tapa em sua parceira, iniciando a correria, só que desta vez, mais precavido, corri para a saída, que por acaso era o mesmo local de entrada, pois não me lembro de nenhuma saída de emergência.

Passei um bom tempo sentando apenas nas cadeiras próximas as saídas, até as lembranças arrefecerem e o pesadelo ficar em banho-maria, pois jamais foi esquecido.

Passei também momentos de terror, há muitos anos atrás, quando estávamos numa excursão pelo Estados Unidos e Canadá, com minha mulher e os três filhos, ainda pequenos.

Em Toronto, no 43 andar do Sheratton, a uma da manhã, os alto falantes anunciaram alarme de incêndio.

Apavorado, mas tentando disfarçar e mostrar firmeza, instrui a todos para apanhar apenas objetos pessoais e passaportes, molhando cobertores na banheira, aguardando a ordem para descer as escadas.

Foi um martírio que durou mais de meia hora.

Depois que passou o susto, não consegui dormir.

Fiquei de plantão o resto da noite e soube, que um monte de brasileiros que haviam se antecipado descendo as escadas, dormiram no hall do hotel, se recusando a voltar para os quartos.

Durante a continuação dessa viagem, não mais aceitamos apartamentos acima do décimo andar, ficando sempre ao alcance das escadas Magirus.

Nos momentos de pânico o raciocínio fica embotado, prevalecendo o instinto de preservação.

Imagino a dor , a tristeza e amargura desses pais, que tiveram suas vidas despedaçadas nessa triste encruzilhada fatal, em Santa Maria.

Jamais serão os mesmos, pois foram amputados naquilo que mais prezavam.

Que Deus lhes de a força necessária para continuarem sua jornada, mesmo que capengas.

Com tristeza e espanto dizemos:

Santa Maria!!!!!

 

José Roberto- 28/01/13

 

 

 

2 comentários:

  1. Essa tragédia é de cortar o coração, com a morte de tantos jovens.
    A tristeza dos país, irreparável.
    Nos momentos de pânico não há heróis, é o salve-se quem puder.
    O instinto de sobrevivência prevalece.

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  2. Sonhos e mais sonhos desfeitos por um pequeno artefato, em cuja embalagem está escrita que é proibida a sua utilização em lugares fechados. Daí a acontecer a tragédia foram apenas alguns minutos. Foi uma sequência de erros inadmissíveis nos dias de hoje, depois dos incêndios dos edifícios Andraus e Joelma. O que podemos passar para as famílias é a nossa solidariedade.

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