quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ARRUMANDO A CASA


ARRUMANDO A CASA

 

Posso dizer que não sou nenhum exemplo em arrumação, sou “limpinho” mas meio desleixado.

Ainda bem que casei com uma mulher ordeira, extremamente organizada, especialista em arrumar malas, operando verdadeiros milagres, caso contrario, minha casa seria uma bagunça.

Como todos os de idade avançada, não gosto de dispor das coisas, mesmo daquelas que perderam a utilidade, preferindo guardá-las para uma pouco provável eventualidade futura.

Em casa, minha mulher resolve a questão. Sem delongas, manda tudo para o lixo.

Já no meu escritório, quem manda sou eu.

Bem, pensei que mandava, até que meu filho, em férias, resolveu fazer uma arrumação em meu território restrito.

Estranhou as pilhas de papeis sobre a grande e única mesa de minha sala.

Expliquei-lhe, que cada “montinho” tinha sua razão de ser.

Um deles referia-se as minhas constantes brigas com a receita federal; outro acumulava pendengas com empresas de telefonia; mais outro, acertos com clientes recentes; outro ainda de envelopes usados e o maior deles, uma montanha de correspondência de um antigo sócio, que jamais se interessou em recolhê-las.

Meu filho é extremamente organizado a ponto de irritar, não permitindo bagunça ou nada de estranho em seu quarto. Puxou a mãe e sem dúvida, um tio, meu irmão mais velho, Toninho.

Recordo, que dormíamos no mesmo quarto e a cômoda do mano era um esmero de organização.

Numa das gavetas superiores guardava numa ordem militar, seus documentos, objetos pessoais de estimação, um canivete, um radinho de pilha e a inesquecível foto da noiva, que olhava com carinho todas a noites antes de dormir.

Meu sádico prazer de adolescente, era abrir a gaveta e virar o retrato ao contrário ou de ponta cabeça, atiçando a raiva do irmão mais velho que sempre me prometia uns “croques”.

Toninho, para ficar livre dos meus ataques, tratou de colocar uma fechadura na gaveta, impedindo meu acesso.

Para continuar sacaneando-o, adotei a tática de balançar a cômoda inteira, tirando tudo do lugar.

Se bem me lembro, devo ter levado uns bons tapas por minha ousadia, pois o mano era bem maior e mais forte.

Voltando ao problema do escritório, meu filhote, incorporado por algum espírito arrumador, apesar de minha resistência, iniciou uma imensa faxina, enchendo sacolas a granel, de revistas antigas, envelopes velhos, correspondências caducas, exames clínicos de mais de dez anos, e inclusive pastas de antigos clientes, com os quais não mantinha qualquer vínculo a mais de 20 anos.

Empacamos quando tentou se livrar de alguns antigos trabalhos feitos nos bons tempos da CESP, nos anos setenta, e alguns, dos áureos tempos da Eletrobrás, peças importantes do meu passado, das quais jamais irei me desfazer.

Enquanto escrevo esse texto, o filhote ordeiro aguarda e lê com parcimônia o jornal, torcendo para que encerre logo minha lida, para retornarmos a faxina e a nossos embates.

Fico com o coração apertado, pois tenho receio de estar mandando para o lixo, parte expressiva de meu passado profissional.

Com o passar da idade, nos apegamos a pequenas coisas, sem importância aos olhos de outrem, mas que para nós representam realizações e ecos da época em que éramos fortes.

Racionalmente, constato tratar-se simplesmente de temores típicos da velhice, inerente a cada um de nós, impossíveis de serem evitados.

Mas que dói, dói!

 

José Roberto- 19/09/12

 

2 comentários:

  1. ATÉ QUE ENFIM!!! Essa sua bagunça no escritório sempre me estressou!!! Sonhava em arrumar tudo em pastas etiquetadas!!! Muito bem Juca!!! Deve estar sendo uma verdadeira sessão de descarrego! Bjs, MF

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  2. Escreva sua biografia ou então o seu perfil, desde que começou a entender a vida, depois jogue fora tudo aquilo que não incluiu, pois certamente não será importante para você e nem para os outros.

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