segunda-feira, 14 de junho de 2021

SAUDADES DOS JUNHOS DE OUTRORA


 

 SAUDADES DOS JUNHOS DE OUTRORA

 

Ontem, 13 de junho de 2021, dia de Santo Antonio, ano dois da peste chinesa, da varanda do apartamento olhava para um céu escuro, colchão de nuvens com pequenas brechas, onde poucas estrelas insistiam em brilhar timidamente.

Nem mesmo nas favelas, cujas luzes cintilavam no tope dos morros, ao longe, procurei sem encontrar o espocar dos fogos, tradição nessa época, principalmente nas noites de Santo Antonio(13), São João(24) e São Pedro(29.

Junho desde sempre, foi o mês preferido, aguardando as comemorações festivas, em Piracicaba, onde fogueiras crepitavam, bombinhas e foguetes explodiam, colorindo o céu com desenhos e cores maravilhosas.

Juntava minhas minguadas economias, me virava para arranjar uns extras, com o intuito de comprar bombinhas e buscapés, utilizados principalmente para assustar incautos e casais de namorados que se amassavam, abrigados nas entradas protegidas da Construtora Holand, na rua Voluntários de Piracicaba.

Alcides, vizinho e amigo, era o companheiro fiel nessas malvadas empreitadas, onde com 10/11 anos, tanto assustamos como fomos assustados, perseguidos por namorados enraivecidos que para nossa sorte, desistiam logo, obviamente pensando nas parceiras que ficaram atrás.

Descobríamos os locais onde fogueteiros festivos comemoravam essas datas com intensa queima de fogos. Nos aproximávamos misturando com os convidados, sempre na esperança de ser aquinhoados com alguns daqueles rojões que soltavam bolas coloridas e outras prendas, alem dos comestíveis normalmente distribuídos aos presentes(pipoca, amendoim, batata doce, milho verde).

Tempos inesquecíveis, onde comprávamos fora de temporada, com ótima redução de preços, na Casa Becari, pequenos rojões de apenas uma bomba, a serem utilizados em nossas traquinagens.

Pesquisei saudoso, constatando que a Casa Becari ainda existe, no mesmo local, na Rua Moraes Barros, centro da cidade. Será que ainda é propriedade dos dois manos, Adilson e Zelão(amigo do meu irmão Toninho), pois o pai com o qual negociávamos, já deve ter partido?

Adulto, já casado, continuei firme em minhas comemorações juninas, porem sem aprontos, tanto em Atibaia com meu amigo e colega de trabalho Molina, quanto em Itanhaem, com meu cunhado e sobrinhos, onde alem de belas fogueiras nos esbaldávamos com bombas, rojões e buscapés.

A medida que envelhecemos esses deleites e aventuras vão diminuindo de intensidade, porem jamais deixei de participar das festas juninas nas escolas de meus filhos e nos condomínios onde morei.

Também jamais deixei de perscrutar os céus, nas moites não tão frias de junho, aqui na varanda da Lagoa onde moro a tantos anos, correndo os olhos atrás dos lampejos coloridos que sempre iluminaram os céus, principalmente ao longe, nas favelas marcadas como pontos cintilantes, encravadas entre o verde escuro da vegetação que vai rareando.

Ontem, talvez devido a situação anormal que vivemos, acossados por uma pandemia resistente e insidiosa, com o país em marcha lenta, preocupações com a saúde e  falta de grana, com os embates recrudescidos entre traficantes/milicianos e a polícia, a queima de fogos foi substituída, pelo barulho dos tiros e das balas traçantes(luninosas) que cruzavam os céus.

Triste sinais dos tempos.

 

José Roberto-14/06/21

 

 

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