segunda-feira, 20 de maio de 2019

A FALTA QUE ELE FAZ


A FALTA QUE ELE FAZ

A casa parece estar vazia.
Após quarenta dias, até aquele cheiro azedo espalhado pelos cantos já desapareceu.
Contudo, ainda vejo em relances sua(minha) sombra ao pé da cama, ressonando no banheiro enquanto sentado no trono durante as madrugadas, devorava algum livro.
Meu fiel companheiro no café da manhã, pontualmente as 6,00 da matina, esperando calmamente a meu lado um pedaço de queijo, de presunto ou uma bolacha de chocolate que comprava especialmente para ele.
Acompanhava seu olhar pesaroso quando me preparava para sair, abrindo a porta da quarto e permitindo que retornasse a seu canto, agora ao lado de Regina, que ainda desfrutava de mais alguns minutos de sono, antes de iniciar sua faina diária.
Participava sempre a meu lado, do almoço e do lanche da tarde, pois eu que preparava seu “prato”, com ração e um adicional de frango ou carne, pois o danadinho era enjoado, só comia com alguns incrementos.
Apesar de não ser de uma raça muito inteligente(PUG), Vick tinha seus hábitos e também conhecia muito bem os nossos. Ao término das refeições dirigia-se prontamente para o corredor onde guardo meus charutos e sua sobremesa, um pedaço de chocolate especial para cães que devorava com imenso prazer.
As tardes, ver um filme degustando um charuto sem o bafo de Vick nos meus pés descalços, perdeu muito de seu charme. Sinto imensa falta de sua presença e de seu ronco.
Foi graças ao Vick, que adorava passear e fazer xixi nas arvores de nossa rua que conheci pessoas interessantes, também passeando com seus cãezinhos, como a Ana, o Omar, Dona Ema, dentre outros que sem saber o nome, tornaram-se bons companheiros.
Foram nessas andanças que descobri uma goiabeira diferente, maior que a  tradicional  mas que dá pouquíssimos frutos bastantes perfumados;  a pitangueira que produz o ano todo e um incrível e frondoso tamarineiro, o único que conheci dando frutos adocicados, exatamente o aposto do tamarineiro tradicional, que dá frutos azedos, pois só de lembrar, minha boca se enche de saliva.
Não posso deixar de mencionar a grande jaqueira na “Praça da Macumba”, onde diversas vezes tive que conter Vick e eu mesmo, dada o boa qualidade das ofertas aos orixás(quibes, coxinhas, guaranás...).
Conheci também nessas andanças, um mendigo que carregava  uma caixa de som acoplada a um rádio, acompanhado de um vira-lata de tamanho médio, espertíssimo. Quando nos econtravamos, vinha a meu encontro todo faceiro, pois sabia que renderia algum agrado e algumas rações, pois retornava rapidamente ao apartamento para fazer um pequeno farnel a essa dupla de andarilhos.
Ao aparecer no portão do prédio, o vira-lata gania de alegria, sabendo que sua recompensa estava por chegar.
Estou tentando localizar a dupla, para me desfazer do estoque de ração, chocolates e outras iguarias que eram destinadas ao apetite delicado do Vick.
Meu filho Junior, encarregado de cuidar do Vick em nossas ausências(Vick jamais ficava só, sem alguém da família), sentiu a casa estranha, realmente vazia, em nossa primeira viagem após sua passagem ao céu dos cachorros.
Eu e Regina e os filhos continuamos pesarosos sentindo a falta do Vick,  pois era nossa sombra constante, parceiro de todas as horas.
Parentes e amigos nos aconselham a adotar outro cãozinho para tentar preencher essa lacuna, mas ainda estamos com os corações em luto, sem condições para mais uma épica jornada.
A casa sem meu fiel escudeiro ficou tomada por uma certa melancolia, que somente desaparece com a chegada de nossa neta, quase uma mocinha, prestes a de completar seis aninhos.
Ainda bem que em setembro, alem das flores da primavera, chegará mais um varão em nossa família. Otávio, o esperado irmãozinho de nossa querida Lelê.
Quem sabe, até lá já tenhamos tomado alguma decisão.
Que falta que ele nos faz.

José Roberto- 20/05/19







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