quarta-feira, 30 de setembro de 2015

CONVERSA NO BARBEIRO

CONVERSA NO BARBEIRO

Diferente das mulheres, que freqüentam religiosamente os salões de beleza pelo menos uma vez por semana, gastando uma nota preta, nós homens somos bem mais econômicos.
Pelo menos a maioria, se bem que atualmente marmanjos fazem unhas, os pezinhos, depilam o peito, as partes pudentes, hummmmm..,
Eu, como mestre sala do bloco dos velhos espadas, não sou chegado a essas frescuras, sou freguês do mesmo salão há muitos e muitos anos.
Salão de barbeiro, diga-se de passagem, cortando a juba sempre com o bom e caprichoso Vicente, que também já dobrou o cabo da boa esperança.
Para contrabalançar os aumentos acima da inflação, que Vicente sem sucesso tenta justificar, aumentei o intervalo entre as tosas, de quarenta e cinco para sessenta dias.
O danado me depena em vinte e cinco pratas por sessão, esquece que não sou deputado nem senador.
Depois de aparar alguns milhões de quilômetros da minha farta cabeleira nas últimas décadas, somos hoje bons amigos e confidentes.
Da mesma forma que as mulheres vão aos salões para se embelezar e também ou principalmente fofocar, os homens, levados pelo torpor do momento, fazem dos barbeiros seus confessores, trocando segredos, comentando sobre viagens, família, trabalho e inevitavelmente sobre política.
Os barbeiros são os verdadeiros psicanalistas, confiáveis, sérios, discretos, bons ouvintes, diplomados pela vida, arquivos ambulantes das mais diversas opiniões sobre um mesmo assunto.
Sem sair do lugar, são os melhores pesquisadores de campo, avaliando e catalogando na memória fatos e opiniões múltiplas, falando apenas no momento oportuno, sempre concordando com o cliente.
Por falar em memória, a dos barbeiros é igual a dos elefantes, pois conseguem lembrar da nossa última conversa há dois meses atrás, perguntam dos filhos e até de alguns assuntos que nos surpreendem, pois jamais deveriam ser comentados com terceiros.
Só imagino o tamanho do estrago, se um barbeiro do Congresso Nacional resolvesse escrever suas memórias.
Por sinal, esse é um título que falta nas livrarias.
Como freqüentador assíduo, nunca vi ou li nada semelhante.
Fica aí minha sugestão, se houver dentre meus minguados leitores, alguém que se dedique a essa honrosa profissão.
Tivemos nosso encontro no começo da semana e a conversa não teve como escapar dos trágicos e hilários acontecimentos de Brasília.
“E o Arruda hem! Aqueles filmes, a cambada de ladrões, a dinheirada toda, escondida até na cueca, com medo de serem assaltados por outros deputados, e ainda por cima rezam e agradecem a Deus pela propina recebida.
Sacrilégio! Alem de cassados e banidos da política, deveriam ser excomungados pelo Papa!
Vicente não quis deixar barato essa imensa vilania.
Tudo isso comentado em “off”, a boca pequena, ficando apenas entre nos dois.
Dessa vez falou bem mais que o habitual, estava mesmo de saco cheio com nossos políticos de merda. Gostaria de botar a boca no mundo caso não fosse proibido por dever de ofício.
Os barbeiros, assim como os sacerdotes, são impedidos de revelar os sagrados segredos da confissão.

José Roberto- 09/12/09


 OBS: APROVEITANDO MINHA IDA AO BARBEIRO, QUE ME EXTORQUIU 60 PRATAS, RECUPERO TEXTO ESCRITO HÁ SEIS ANOS, NO TERRA BLOG, ATUALMENTE, SEM POSSIBILIDADE DE ACESSO.
José Roberto-30/09/15

2 comentários:


  1. Muito bom que você tenha recuperado esse ótimo texto, leve, muito bem escrito e oportuno.
    Realmente, é mais ou menos isso que acontece com todos nós, quando sentamos na cadeira e nos submetemos aos caprichos do nosso barbeiro, que as vezes, cometem mesmo umas barberagens, principalmente, quando a conversa fica animada.
    Abraços,
    Pedro Paulo

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  2. Lembrei até de uma piada que se passa numa barbearia:
    Dois candidatos mineiros adversários, um da cidade – o “Coroné” -, e outro caipira – o “Mineirim”, se encontram na mesma barbearia.
    Lá sentados, lado a lado, não se falou palavra alguma. Os barbeiros temiam iniciar qualquer conversa, pois poderia descambar para discussão, e o Coroné só andava armado.
    Terminaram a barba de seus clientes, mais ou menos ao mesmo tempo. O primeiro barbeiro estendeu o braço para pegar a loção pós-barba e oferecer ao Coroné, no que foi interrompido rapidamente por seu cliente:
    - Não, obrigado. A minha esposa vai sentir o cheiro e pensar que eu estive num puteiro.
    O segundo barbeiro virou-se para o Mineirim:
    - E o senhor? – indagou.
    - Uai, popassá, sô! A minha muié num sabe memo como é cheiro de puteiro… Nunca trabaiô pur lá…

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