segunda-feira, 24 de abril de 2023

ATÉ A PRÓXIMA, CARLINHOS.

 

                                              (EU, RICARDO, MARIO E CARLINHOS-ULTIMO A ESQUERDA)

ATÉ A PRÓXIMA, CARLINHOS.

 

Ao contrário das muitas narrativas gloriosas e exageradas, após retornos de Caravelas-BA, dessa vez está sendo difícil encontrar palavras para relatar a dor que oprime meu velho coração.

Após uma viagem agradável, iniciada em Itanhaém, com meus sobrinhos me apanhando no Rio por volta da 03,30 da madrugada do dia 21, sexta-feira, partimos felizes e despreocupados para Caravelas, antegozando a comilança, a manguaça, os mergulhos(poucos), as pescarias de robalo, que nessa época são fartos na imensa foz do rio que nomeia a velha e pequena cidade, enfim num clima de camaradagem que só quem conhece e participa de eventos semelhantes, sabe a importância desses “breakes”, para recarregar as baterias do coração e da alma.

Com a comitiva reduzida, pois dessa vez éramos apenas seis, Eu, Ricardo, Renato, Mario, Chupeta e Carlinhos, enchendo a pança com exagero, degustando os 300(trezentos) salgadinhos variados, deliciosos, encomendados por Carlinhos de uma famosa quituteira de baixada santista, aportamos em Caravelas por volta das 17,00 h da sexta-feira.

Nossas paradas técnicas e estratégicas limitaram-se apenas para encher os tanques e esvaziar as bexigas. Embora alguns de nós(eu principalmente)  com a barriga convulsionada necessitasse desentocar o bagre, desistindo da empreitada ao constatar a péssima higiene dos sanitários, deixando com algum sacrifício, para desovar no final da jornada.

Os deliciosos 300 salgadinhos foram praticamente devorados durante a viagem, com pouquíssima sobra.

Após descarregar as tralhas com ajuda do caseiro Ditinho, tomamos algumas cervas para relaxar, se ajeitando na confortável casa do meu sobrinho, onde desfruto da mordomia de ter uma suíte exclusiva, cortesia do querido Yellow.

Conforme previsto por Ricardo, que adquiriu um forninho especial para o preparo de pizzas, caríssimo, Carlinhos/Peba, encarregado de trazer a massa já pronta, iniciou o preparo dos demais ingredientes, pois embora não estivéssemos com muita fome, estávamos ansiosos para provar e constatar a qualidade das pizzas cozidas no forninho a gás, cuja temperatura atinge 500 graus.

Confesso, como glutão convicto e irrecuperável que comi demais, pois as pizzas ficaram realmente deliciosas, muito melhor que aquelas habitualmente compradas pelo I Food.

Devido ao cansaço, comemos muito, mas bebemos moderadamente. Me recolhi por volta da 21,00 h, enquanto Carlinhos e os demais, ficaram acordados até um pouco mais tarde.

Seguindo a tradição, as manhãs de sábado são reservadas para visitar a feira em Caravelas, esclarecendo que estamos alojados na Barra, situada aproximadamente a uns 10 km do núcleo central da cidade.

Eu e Ricardo, como de hábito, acordamos cedo, preparamos o café e saímos para comprar pão, enquanto o resto da turma ia despertando.

Por volta da 08,00 h, como Carlinhos não havia levantado, estranhando o atraso, Ricardo foi acordá-lo, encontrando-o deitado, aparentemente dormindo, com as dois braços sobre a nuca. Chamou por ele diversas vezes, sem sucesso, tocando em seu braço e levando um tremendo susto, constatando que estava gelado, talvez em virtude do ar condicionado.

Acendendo a luz, verificou que Carlinhos embora com aparência serena, tinha um tom de pele branco opaco, aproximando-se para averiguar com mais cuidado, constatando que nosso querido amigo tinha partido durante a madrugada, sem qualquer alarido, talvez para um descanso maior e merecido.

Chocado, deu-nos a notícia e alguns não acreditaram, achando que era brincadeira. Eu notei pela expressão transtornada de meu sobrinho, que o caso era de extrema seriedade, entrando no quarto para dar uma olhada no querido amigo, tocando em seu pulso e sua jugular, constatando pela temperatura corporal e falta de sinais vitais, que Carlinhos, desafortunadamente “havia nos aprontado, partindo sem alarde, para aventuras mais amenas nas águas plácidas do céu”.

A tristeza desabou sobre nós feito uma tormenta em alto mar, como tripulantes de uma pequena traineira enfrentando ondas violentas, estarrecidos, engolfados por uma imensa dor e tristeza.

Carlinhos/Peba é um velho e querido parceiro, grande amigo de meu sobrinho Ricardo, convivendo próximos desde os tempos dos bancos escolares.

Carlinhos completou apenas o segundo grau, tendo começado a trabalhar, tentando se firmar com uma pequena relojoaria. Casou e teve uma filha, atualmente com 25 anos.

Após Ricardo graduar-se em Odontologia, firmando-se na profissão, estimulou e deu ajuda a Carlinhos para que fizesse o curso de Protético.

Após conclusão do curso técnico, recebeu guarida e local de trabalho na clínica de Ricardo, onde aprimorou seus conhecimentos protéticos, prestando serviços aos família Barbi e a outros dentistas de Itanhaém.

Inicialmente um grande pescador de robalos, daí seu apelido, Peba, juntando-se a turma, aprendeu a mergulhar tornando-se um bom caçador, companheiro presente em todas as aventuras, tanto em Caravelas, quanto em Itanhaém, onde os mergulhos são mais constantes.

Carlinhos era uma boa alma, grande companheiro, alegre, prestativo, com um jeito especial de narrar suas aventuras subaquáticas, descrevendo com precisão e muitos gestos, seus movimentos para rastrear e abater os preciosos bodiões, garoupas e robalos.

Costumava imitá-lo na gozação, amplificando o movimento de suas mãos, sugerindo que com as mãos amarradas, teria muitas dificuldades de se expressar. A meu ver, deveria ter como segunda profissão, a carreira de “intérprete de libras”.

Com o peso da tristeza em nossos ombros, tivemos um trabalho insano para vencer a burocracia e falta de recursos do Samu e Polícia de Caravelas, tentando obter o atestado de óbito e liberar o corpo para translado com a máxima urgência. Mulher e filha angustiados com a infausta notícia.

O corpo de Carlinhos teria que ser removido para Itamaraju, onde seria feita uma autopsia simplista, pois era evidente que a morte foi súbita e fulminante, pois com outros dois companheiros dormindo no mesmo quarto, nenhum gemido ou grito de dor foi ouvido, fato como já dito, comprovado pela expressão serena de seu rosto.

Foram longas e penosas horas, aguardando a chegada do rabecão, a ida a Itamaraju, as negociações para liberação rápida do corpo, a espera, os desgastantes acertos com a polícia e funerária, calvário concluído provisoriamente as 19,00 horas, pegando o caminho de volta, com um pouco de chuva e com o peso extra da tristeza em nossa bagagem.

Temos certeza que Carlinhos partiu rapidamente e sem dor, de um local tranquilo onde pretendia fazer o que muito apreciava.

Talvez, por uma graça concedida por Deus, evitando problemas mais sofridos no futuro,  arranjou-se uma forma confortável de Carlinhos encontrar um novo porto seguro, em local paradisíaco, com fartura de peixes e outros benefícios, livre dos problemas de saúde que o vinham incomodando, conforme soube após sua passagem.

Seu corpo já deve estar em Itanhaém, onde será rapidamente velado pelos amigos e parentes.

Estarei ausente, porem já rezei e rezarei ainda mais por meu querido amigo Peba, que sorridente, lá do alto, acompanha nossos passos, aguardando sem pressa a chegada dos amigos, para grandes alegrias e aventuras, em campos e mares celestiais.

Descanse em paz e vele por nós, enquanto estivermos por aqui.

 

José Roberto- 24/04/23

 

  

 

 

 


5 comentários:

  1. Abraços à família dele.

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  2. Puxa, que triste! Mas parti para sua próxima aventura da melhor forma; junto com os amigos, se divertindo…

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  3. Que a sua fé guie você e que esta dor profunda se torne força para que você possa continuar. Forte Abraço, Paulo.

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  4. AGRADEÇO AOS AMIGOS O APOIO NESSA HORA DIFÍCIL, UM ABRAÇÃO A TODOS

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