FAZ OITO ANOS QUE KIMO,
NOSSO PRIMEIRO E INESTIMÁVEL CÃO FALECEU.
RECUPEREI O TEXTO DO BLOG
TERRA OPINIÃODOZE.
FOI UM DOS TEXTOS QUE
MAIS TEVE COMENTÁRIOS, ALGUNS QUE ME COMOVERAM MUITO, DE AMIGOS E PESSOAS QUE
CONHECERAM KIMO.
PENA QUE NÃO POSSA
ACESSAR O BLOG E RECUPERAR OS COMENTÁRIOS QUE DERAM AINDA MAIS VIGOR E EMOÇÃO
AO TEXTO, QUE ESCREVI DO FUNDO DO CORAÇÃO.
José Roberto- 21/07/16
KIMO, NOSSO QUERIDO CÃO
Ontem, as 13,30 horas
morreu Kimo, nosso velho e estimado poodle.
Completaria 17 anos em
outubro e já não ostentava a mesma forma, com a saúde corroída ao longo dos
últimos anos.
Dizem que um ano de
cachorro eqüivale a cinco, seis, oito dos humanos, o que para os padrões
caninos o tornava um ancião.
É estranho sentir essa
tristeza, esse aperto no coração pela morte de um animal.
Minha filha caçula está
com os olhos inchados de tanto chorar pela morte de seu “filho” querido.
Parece até pecado, uma
blasfêmia, dispensar a um animal irracional um tratamento dessa natureza.
Mas Kimo, com suas
manias, suas birras, seu aprontos e temperamento imprevisível, havia se tornado
um membro da família. Sua partida nos causou grande mágoa.
Lembro
perfeitamente do dia em que fui buscá-lo, para dar de presente à Fernanda, num
distante doze de outubro.
Sempre fui contra a opção
de ter um cachorro em casa, ainda mais num apartamento. Achava uma absurdo e
até anti-higiênico, criticando acidamente meus amigos e conhecidos que
paparicavam seus cães, tratando-os como gente.
Fui amolecido pela
persistência de minha caçulinha, que na semana anterior ao dia das crianças
havia perdido duas aves de estimação. Um coleirinha e um pintinho bem
amestrado, que a acompanhava por toda o apartamento.
Esse pintinho sofreu um
bocado, tinha uma penugem rala devido aos banhos e asseio a que era submetido.
Nunca soube que pinto ou galinha gostasse de tomar banho e eu cresci rodeado desses
“bichinhos”.
Meu coração empedernido
não resistiu aos ternos apelos da filhinha, decidindo comprar o filhote
desejado.
Fomos juntos buscá-lo no
subúrbio distante e creio que nos tapeaream quanto a sua idade.
Deve ter sido desmamado
precocemente, pois alem de minúsculo possuía poucos dentes. Coube na palma da
mão da Fê, onde se aconchegou em busca de afagos.
Barrigudinho estava cheio
de vermes, pois era alimentado apenas com bananas. Andava rebolando arrastando
a barriguinha no chão, era mesmo uma gracinha que logo conquistou a todos.
Demos a ele um tratamento
de primeira, com as vacinas, alimentação balanceada, fortificantes, tudo
conforme o figurino.
O bichinho crescia a
olhos vistos, arteiro e sapeca, roendo tudo que ficava a seu alcance. Recordo
que destruiu a mão de diversas “Barbis” da coleção de minha filha. Devorou umas
frutinhas de cera, que ficavam sobre uma mesa baixa na sala.
Certa ocasião traçou um
tubo inteiro de hipoglós. Tínhamos que ficar de olho, pois o esganado comia
tudo que estivesse a seu alcance, depois passava mal.
Era tratado como uma
criança pela Fernanda, que conversava com ele, o penteava, vestindo-o com as
mais diferentes roupinhas, era um grande companheiro.
Quando nosso filho foi
estudar nos Estados Unidos e a família foi junto para conferir a Universidade e
suas acomodações, ela se recusou a deixá-lo com estranhos, preferindo ficar em
casa desfrutando de sua companhia.
Essa mesma situação
repetiu-se em diversas oportunidades. Fê somente concordava em viajar, sabendo
que alguém de casa ficava na retaguarda, olhando pelo Kimo.
Ao contrário dos
exemplares de sua raça, que são dóceis e amigáveis com estranhos, Kimo aprontou
muitas.
Deixava a pessoa entrar
tranqüilamente, mas na saída atacava e mordia os calcanhares de todos que não
atentavam para nossos alertas.
Nos envergonhou muitas
vezes, machucando amigos, sobrinhos, tios, entregadores de correspondência,
serventes do prédio. O danado era traiçoeiro, enfrentava até os membros da
família sem se intimidar.
Deve ter mordido todos de
casa em mais de uma ocasião. Apanhava(de leve) mas não aprendia, tinha mesmo
gênio ruim.
Dormia no quarto da
Fernanda até a chegado do Vick, um Pug caríssimo que havíamos dado de presente
para Dona Dita, minha sogra, mas que trouxemos de volta quando constatamos que
não estava recebendo o tratamento adequado.
Dormia no banheiro fora
da casa, coisa para vira latas e não para um puro sangue.
Imaginem como as
situações mudam. Eu que não gostava de cães em apartamento tinha logo dois!
Percebendo o chamego da
dona com o novo filhote, kimo transferiu sua preferência para Regina, passando
a seguí-la por todos os cantos e a dormir em nosso quarto.
É impressionante com a
gente muda quando tem sempre ao lado um animalzinho de estimação, alegre,
esperando por nossa chegada.
Nunca guardou mágoas,
mesmo após uns tapas pelas suas traquinagens, sempre estava pronto a nos
festejar e agradar.
Com o passar dos anos foi
ficando cego, tomado por uma catarata brava, não sendo recomendada uma cirurgia
pelo fato de não se dar bem com a anestesia.
Repentinamente ficou
surdo feito uma porta. O olfato funcionava bem e era seu grande aliado.
Conhecia perfeitamente a
disposição dos móveis no apartamento. Quem não notasse seus olhos opacos nem
percebia sua deficiência visual. Movimentava-se com desembaraço, contando com
sua velha memória.
Foi graças ao Kimo que
meus instintos de moleque malvado do interior foram definitivamente abolidos.
Eu que havia sido um
grande caçador de passarinhos, coelhos e outros bichos, gostava de amarrar
bombinhas no rabo de gatos e cachorros, tornei-me um moleirão, não podendo
cruzar com um vira-latas abandonado, sem sentir uma grande angústia e vontade
de trazê-lo para casa.
No início desse ano teve
uma trombose, dando-nos um grande susto. Recuperou-se razoavelmente, perdendo
parte da agilidade nas pernas traseiras.
Acompanhávamos
angustiados o aumento de suas limitações.
Ontem a noite, deu sinais
que não estava bem. Teve uma espécie de convulsão rápida mas se recuperou.
As três horas da
manhã nos acordou com uma tosse engasgada e falta de ar. Melhorava um pouco e
logo depois tinha outro acesso. Percebemos que sua saúde definhava.
Logo cedo, minha filha o
levou para uma clínica especializada, sendo diagnosticado problemas no coração.
Ficou internado e em
seguida soubemos que havia tido uma parada cardíaca, mas conseguiram
reanimá-lo.
Vendo a grande sofrimento
de Fernanda com os olhos inchados de tanto chorar, logo após o rápido almoço,
fomos a clínica checar qual era seu estado.
Chegamos as treze e
trinta, no exato momento em que estava tendo a terceira parada cardíaca,
quebrando finalmente sua tenaz resistência.
Foi um grande baque. Um
sentimento de perda difícil de descrever.
Estamos de luto, muito tristes.
Uma pesada sombra paira sobre nós.
Sabemos que toda essa
amargura logo será arrefecida, ficando apenas as boas lembranças do velho e
querido Kimo.
Seu corpo sem vida,
descansa nos jardins de nosso prédio.
Jose Roberto-18/07/08