Fiquei sabendo a data da viagem na maravilhosa peixada que
meu sobrinho Ricardo ofereceu a turma, numa quinta-feira no início de janeiro.
Com exceção de Mario Moreno, retido em Piracicaba por conta
do ofício, ocupado em “arrancar dentes” de uma dezena de clientes, todos do
grupo estavam presentes e mais alguns convidados.
Anualmente, a expedição à Caravelas conta com baixas e
renovações, sempre mantendo o corpo principal, eu, meus sobrinhos(Ricardo,
Marcelo, Renato, Rodrigo), Carlinhos Peba e o campeão de mergulho de El
Salvador, o quase brasileiro, Mario
Moreno.
Ricardo é o organizador, que define as datas em função das
marés mais oportunas, quem cuida de todos os acertos, hotéis, barcos, etc.
Degustando a espetacular peixada feita com o toque de mestre
do meu sobrinho, conheci José Fernando,
eminente médico sanitarista de Mongaguá, que eliminou as pragas da
cidade, expulsando pernilongos, muriçocas, mutucas e mosquitos pólvoras, que
aterrorizados, procuraram asilo na vizinha Itanhaém.
A conversa fluiu facilmente, pois impossível não haver
interação entre apreciadores de um bom charuto, um bom conhaque e do velho e
tradicional Scotch.
Difícil foi comunicar, com o coração partido, minha
impossibilidade estar com a troupe, nessa tão esperada e desejada aventura.
Motivos particulares inadiáveis, me tolhiam de participar de
mais essa expedição de mergulho, ritual cumprido há mais de trinta anos.
Como consolo, alem de repetir a peixada três vezes, degustei
calmamente um Monte Cristo(antes) e um Romeu e Julieta(depois), entremeados com
pequenos goles de um ótimo conhaque, generosa oferta de meu sobrinho.
Regressei ao Rio com aquela sensação de perda, de uma
oportunidade que se esvaiu entre as brumas de um mar revolto.
O velho lobo do mar, retido em terra firme.
Pouco antes da partida, as 19,00 horas do dia 15 passado,
recebo uma mensagem de Ricardo informando que estão prestes a cair na estrada.
Respondo de imediato, desejando boa viagem e muita atenção.
Acordo de madrugada e imagino onde estarão.
Será que já fizeram a tradicional escala no Posto Flecha, na
entrada de Campos?
A outra parada obrigatória é num Posto depois de Vitória,
famoso por vender ótimas panelas de barro, por seus quitutes e uma variada
oferta de bons produtos. Sempre lotado.
Notícias com mais detalhes, receberei após reencontrar meus
sobrinhos, mas de antemão, sei que os peixes estão rareando, devido a pesca
predatória feita pelos caiçaras da região. Já realcei esse fato nos textos dos
anos anteriores.
Sei que Ricardo, conhecendo essas carências mergulha pouco,
preocupado em caprichar nas moquecas feitas e devoradas no barco. Está mais
ansioso em visitar no domingo, a feira de Caravelas, onde renova seu estoque de
farinha, alem de comprar dúzias de Guaiamuns, transportados vivos para
Itanhaém, onde são cevados e degustados aos poucos.
Marcelo e seu filho Digão, levam o mergulho mais a sério,
tentando garantir a moqueca do dia e alguma sobra. Digão, quase
dentista(conclui o curso no final do ano) é o mais jovem e o mais esforçado.
Como não pegou os tempos áureos de Caravelas, tenta com garra demonstrar que é
um bom aluno.
Mario Moreno é outro entusiasmado.
Impedido de treinar em Piracicaba, pois o rio praticamente
secou(conseguiu matar apenas alguns cascudos), tenta tirar o atraso nas águas
claras e tépidas dos corais baianos. Tem nome e reputação a zelar, no Brasil e
em El Salvador.
Renato, um dos mais experientes mergulhadores da turma,
também não quer saber de esforços. Mal cai na água, limitando-se o conversar e
pesquisar sobre “passarinhos”, talvez seu principal hobby.
Carlinhos Peba, cultivando uma bela pança, alem de mergulhar
com gosto não perde chance para ficar de prosa com os barqueiros, ilustrando
com gestos o bate papo.
É o rei da mímica.
Tenho certeza, que consegue se comunicar em qualquer língua
com seus gestos histriônicos e bem humorados. É uma figura!
Acredito que José Fernando tenha ocupado meu lugar de velho
conselheiro. Como não mergulha, deve ter ficado no convés molhando iscas,
queimando alguns charutos e obviamente, tomando alguns goles.
Deve ter ficado alguns dias em terra, para conhecer as
atrações da bela e antiga cidade.
Difícil mesmo é ficar de longe, elocubrando todas essas
peripécias, lamentando não estar
presente nessa aventura que faz parte da minha rotina, imaginado situações que
adoraria ter vivido e presenciado.
Não posso me dar ao luxo de perder essas oportunidades.
Sei que o retorno foi tranqüilo.
Inicio agora, um novo e longo ciclo de espera.
José Roberto- 23/01/15
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E.T. Capeando o texto, foto da turma.
Zé
ResponderExcluirAcompanho suas crônicas há muito tempo, e me divirto com os casos nos mergulhos de Caravelas.
Fico até com vontade de pedir uma carona.
Lamento saber que você falhou esse ano, por questões pessoais, mas mesmo assim, nos deu um texto agradável.
Tenho certeza que ano que vem, os casos serão reais.
Abcs.
Pedro Paulo
Mario Moreno é homônimo de um dos mais célebres comediantes do cinema mexicano e do mundo, o inesquecível Cantinflas.
ResponderExcluirÉ, velho amigo, solidarizo-me com seus lamentos porque na nossa idade não podemos, mesmo, perder eventos desse porte. Console-se porque, na minha opinião, seus maravilhosos sobrinhos e queridos amigos, perderam na mesma proporção...com a sua ausência!
Luizinho.
Amigo Luizino
ExcluirVocê sempre tão oportuno e generoso, típico de um velho mineiro de boa cepa.
Abcs
Zé