O SORRISO DO MEU PAI

O SORRISO DO MEU PAI

Posso imaginar meu pai, lá no céu, com aquele maravilhoso sorriso estampado no rosto, fazendo festas e agrados para minha mãe, recém chegada, recebida com pompa e circunstância.

Com o cartaz que desfruta junto ao “Maioral”, papai exigiu que tudo ficasse nos trinques, no maior capricho, mesmo sabendo que a solenidade acarretaria uma pontinha de ciúmes nos anjos e demais habitantes do reino celestial.

Alguns anjos e arcanjos chegaram mesmo a comentar a boca pequena: “Esse Tonico, realmente é o cara!”

Se na terra, papai conquistou a todos com sua bondade, simplicidade, caráter e honestidade, no céu deve ter sido ainda mais fácil, porque esse povinho daqui debaixo é de amargar.

Tenho certeza, que papai deve ter redobrado o cuidado para com os filhos, pois sem nossa matriarca ficamos definitivamente órfãos, no sentido amplo e lato da palavra.

Como pai extremoso, diante dos fatos, Tônico deve ter usado sua influência para acionar uma equipe extra de anjos da guarda, destacados unicamente para vigiar e proteger sua prole, de forma a tornar mais amena nossa dura e longa jornada.

Papai, vela pelos seus!

Com a proximidade do dia dos pais, as lembranças se avivam, ainda mais nesse momento, quando ainda não decorreu nem um mês da partida de Hercília.

Recordo de uma passagem contada por um irmão mais velho, que pego fumando, foi repreendido levemente por papai, que ameaçou contar essa transgressão à mamãe.

O mano retrucou, que se papai o “entregasse”, também seria delatado, pois o havia visto fumando escondido, pois estava proibido de fumar, considerando que recentemente havia sido operado de uma ulcera estomacal.

Com aquele sorriso maroto e cúmplice, fecharam o acordo e o grave delito não chegou ao conhecimento de mamãe, a verdadeira “capo” da família.

Papai era assim, uma pessoa essencialmente boa, ingênua, desprovida de segundas intenções ou de qualquer resquício de maldade.

Nunca teve voz ativa junto aos filhos, embora jamais o tenhamos desrespeitado. Quem estabelecia as condições, regras, o “modus operandi e vivendi” familiar, sempre foi a mamãe.

Impossível não lembrar de papai com muito carinho e aperto no coração, pois nos sentimos privados de sua presença física, tão confortante e generosa.

Sem tentar fazer média, não consigo lembrar de atos que desabonem sua conduta. Papai foi um homem bom!

Volto a lembrar de seu sorriso, que tinha uma luz especial, envolvendo a todos que o cercavam, inclusive os bebês, que retribuiam de imediato, o excesso de carinho que exalava daquele enorme coração.

Sou o filho mais parecido com meu pai.

Todos os dias ao fazer a barba, me olho no espelho noto as semelhanças.

Recordo do dia que tentei imitá-lo nesse ato, bem menino, ganhando um belo corte na face.

Tento as vezes, imitar seu amplo sorriso, embora não tenha os requisitos para tal.

Papai, aqui vai um beijão.

Por favor estenda-o a mamãe, que está a seu lado, segurando sua mão.

“Bença pai”.

José Roberto- 10/08/12