O PRESIDENTE DA SUÍÇA
MARCELO BERTOLUCI -
Você sabe que o presidente dos
EUA é o Trump. Sabe que na França manda o Macron e na Alemanha a Ângela Merkel.
E o presidente da Suíça, você sabe quem é? Alias, você sabe se a Suíça tem
presidente?
Existem
poucos países no mundo com um governo pequeno. É normal. Governos crescem
sozinhos, de forma tão natural como o crescimento das plantas e dos animais.
Crescem aos poucos, tanto que as pessoas muitas vezes não percebem. O
gigantismo dos governos acaba sendo visto como algo tão casual como uma árvore
na calçada: ninguém pensa que ela já foi apenas um broto saindo do chão.
Governos
mandam em si mesmos, e é assim que eles crescem. O prefeito ou o governador
criam uma secretaria. O secretário cria várias sub-secretarias. Os
sub-secretários criam seções, e chefes e sub-chefes de seção. Cada chefe, e
cada sub-chefe, e cada secretário e sub-secretário contratam pessoas, e
encomendam carros com motorista, e as suas salas crescem e ganham
ar-condicionado e sofás. Tudo com uma simples canetada. O dinheiro para isso
simplesmente aparece, pelo menos na visão deles. Na verdade, o dinheiro saiu do
meu bolso e do seu.
Quando
as pessoas percebem, existe alguém dizendo quanto sal elas podem pôr na comida,
ou que tamanho deve ter a janela de suas casas. Alguém determina o que seus
filhos devem aprender na escola – e as pessoas são obrigadas a mandar os filhos
para a escola que o governo manda. Aos poucos, cada detalhe da vida das pessoas
passa a ser regulado por departamentos que ninguém sabe direito de onde vieram
nem onde ficam, mas que receberam este poder através de uma intrincada rede de
leis, decretos, portarias, normas e instruções.
Há
dois motivos que levam as pessoas a aceitarem e até pedirem que o governo mande
em suas vidas.
O
primeiro é o medo. O mundo tem se tornado complicado, e as pessoas sentem
receio de tomarem suas próprias decisões. É mais fácil fingir-se em uma
infância eterna, onde há um papai e uma mamãe tomando conta de nós.
O
segundo é a ganância. O governo sempre finge estar dando coisas de graça, e as
pessoas gostam de fingir que é verdade. É óbvio que cada centavo que o governo
dá para uma pessoa foi tomado de outra pessoa, via impostos, mas não faz mal.
Algumas pessoas decidem simplesmente não pensar nisso. Como o governo garantiu
que elas não aprendessem muito sobre matemática e raciocínio lógico na escola,
fica fácil. Outras pessoas até sabem que aquilo que ganham está sendo pago por
todos, mas tentam fingir que estão levando vantagem, e que os outros estão
pagando mais que elas mesmas.
As
duas formas são constantemente propagandeadas pelo governo, através de seu
controle sobre o que se ensina nas escolas, sobre o que é divulgado na
imprensa, sobre o que é mostrado nas novelas, filmes, músicas, peças de teatro,
livros, revistas. Todo governo tem alguma forma de dar dinheiro para
“celebridades”, desde que estas falem o que ele quer. E as pessoas tendem a
acreditar cegamente naquilo que as celebridades falam. Sem se dar conta, as
pessoas passam a ter um medo instintivo de ficar desprotegidas, e qualquer
idéia sobre diminuir o governo causa um susto.
Mas
eu estava falando da Suíça. A Suíça desmente todas os argumentos de quem
defende governos grandes. Na Suíça, cada cidade e cada região tem enorme grau
de autonomia, e as decisões são tomadas pelo consenso da população, ou via
plebiscitos. Os impostos são baixos, e a interferência do governo sobre os
negócios também. Para horror de alguns, a população é fortemente armada, e não
apenas no âmbito civil: após prestar o serviço militar, os cidadãos suíços
permanecem na reserva e guardam arma e munição em casa. O envolvimento da
população com as forças armadas é tão grande que um político disse certa vez:
“A Suíça não tem um exército, ela É um exército”.
Outra
coisa interessante: qualquer pessoa pode organizar um abaixo-assinado contra
uma lei, e conseguindo 50.000 assinaturas um plebiscito é automaticamente
realizado para a população decidir se revoga ou não a lei. Por outro lado, o
Judiciário não pode julgar nada a respeito de qualquer decisão do Legislativo
(ao contrário de certo país da América do Sul onde a oposição perde a votação
na Câmara ou no Senado e daí pede para o STF anular a lei).
Vale
a pena citar uma piada local: “Não temos corrupção porque quando alguém quer
subornar um político, não encontra nenhum”. Todos os “três poderes” da Suíça
são bastante reduzidos, porque a população não tem o costume de pedir que o
governo resolva seus problemas. Ninguém anda atrás de deputados para pedir
favores, ninguém acha que “deviam fazer uma lei” para resolver seus problemas.
E assim a Suíça é um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Para
não deixar você na curiosidade: A Suíça tem um parlamento dividido em duas
casas (Conselho Nacional e Conselho dos Estados), eleito por voto direto a cada
quatro anos. Este parlamento elege sete pessoas (não necessariamente políticos)
que formam o Conselho Federal, que é o Executivo. Cada um é responsável por um
departamento do governo (como se fosse um ministro), e ao mesmo tempo os sete
formam a presidência. A cada ano, um destes sete é eleito presidente do
conselho, que não tem mais poder que os outros seis: sua função é só
representar o conselho nos atos oficiais. O atual presidente, cujo mandato vai
até 31/12/2019, é Ueli Maurer.
NOTA:
Um ótimo texto, apropriado sem autorização para mudar de assunto, que serve
para nossa reflexão.
José
Roberto- 16/08/19
Bom dia Gimael, obrigado pelo excelente texto. Quiçá o povo brasileiro acordasse para reivindicar um governo, legislativo e judiciário pelo menos mais enxutos. Abs
ResponderExcluirUm abraço ao querido e velho amigo Carrapato Chaves.
ExcluirGima