A VOZ DO BRASIL
No meio de todo esse tumulto que atravessamos, essa gritaria
histérica sobre as queimadas na Amazônia, eis que recebo um email de meu velho e
querido amigo, Laércio Saponga.
Em sua curta mensagem sugeria que eu fizesse um comentário
sobre a “Voz do Brasil”, que a seu ver, deveria ser extinta ou transferida para
o horário das onze a meia-noite.
Só mesmo o irriquieto Saponga para se preocupar com a Voz do
Brasil, que não ouço há décadas e nem lembrava que ainda existia.
Como não atender o pedido de um amigo tão querido,
companheiro de nossa inesquecível “república” em Itanhaém, onde jovens e
solteiros aprontamos muito, nos bons tempos da CESP.
Quando Sérgio(outro velho e querido amigo) informou que
Laércio havia sido transferido para Itanhaém e viria morar conosco, fiquei meio
chateado, pois lembrava da figura em Rio Claro, sempre com o mesmo agasalho
vermelho, andando rápido e olhando desconfiado . Não ia muito com o tipo do
sujeito.
Todavia, Sérgio que conhecia Laércio há tempos, ambos de
Itajubá, colegas de turma, vendo minha cara azeda fez questão de me
tranquilizar, afirmando que Saponga era boa gente e que iria se enturmar
conosco.
Dito e feito.
Laércio chegou e logo de cara acabou com minhas defesas,
provando que era ótima pessoa, inteligente, com um humor natural incrível e com
muitos casos alegres para contar.
Dei-lhe as primeiras lições de pesca no mar e nos tornamos
habitues nessa empreitada.
Cultivamos o hábito e mesmo depois de casados e assentados, saiamos para pescar na Barra de Itanhaém, no
Costão e Barra de Guaraú, em Peruibe. Boas pescarias de robalo.
De vez em quando, arriscávamos algumas saídas com Sr.
Joaquim, no barco Luciana, para pescarias em alto mar.
Laércio era uma figura. Engraçado naturalmente, suas tiradas
eram ótimas, espirituosos.
Em nosso último encontro há alguns anos, em Campinas, notei
que com a idade e com a vida, ficou um pouco mais sério, mas percebi aquela
velha chama da juventude ainda latente em seu peito.
São tantos casos sobre Laércio, que vou mencionar apenas
dois, o restante fica para um texto específico que escreverei algum dia sobre
nossa “república”.
Laércio era já era noivo e tímido com as mulheres, todavia
convivendo com “sem vergonhas” como eu, as vezes botava as manguinhas de fora.
Nos finais de semana, deitado peladão, pedia um copa d’água
para uma de nossas empregadas, a assanhada Irene, que ameaçava contar ao “Dr.
Sérgio”, o controlador das despesas. Nunca passou disso, pois Saponga era extremamente
fiel.
Outra ocasião, acordou todo molhado, pois sonhou que estava
urinando num toco queimado e mijou-se todo.
Bem, nossos casos com Saponga dariam um livro, com passagens
proibidas para menores, que não vale a pena nem lembrar para não irritar nossas
digníssimas esposas.
Voltando a preocupação de meu amigo com a “Voz do Brasil”,
fico pensando se o danado está se auto-imolando, gastando tempo em escutar as
baboseiras que ninguém mais ouve, pois até nos longínquos rincões da Amazônia a
TV com as parabólicas, sepultou esse horário radiofônico perdido.
Acredito que nem mesmo os familiares dos políticos que
narram suas falsas realizações tenham saco para ouvir essas besteiras, pois
convivendo com eles, sabem que são mentirosos contumazes, alem de mulherengos e muitas outras coisas
demeritórias que não canso de realçar.
Querido amigo, esse programa chatíssimo ao invés de acabar,
deveria mudar de nome, pois em hipótese alguma é “A Voz do Brasil”, mas sim a oportunidade de políticos e demagogos gastarem
sua lábia e nossa grana, pois esse horário não é cedido gratuitamente, mas
compensado com redução de impostos.
Por enquanto velho amigo, esperando que o país tome novos
rumos, o único jeito de ficar livre desse martírio auto imposto, é desligar o
rádio.
Saponga. Escute uma boa musica, leia um bom livro(tenho
várias sugestões), tome umas doses de scotch e deixe o barco correr.
Todavia, não esqueça de aparecer enquanto ainda temos vigor
e humor, para rir de nossas palhaçadas.
Com muitas saudades, um forte abraço.
Gigi.
José Roberto- 27/08/19
Nenhum comentário:
Postar um comentário