CONVERSA NO BARBEIRO
Diferente das mulheres, que
freqüentam religiosamente os salões de beleza pelo menos uma vez por semana,
gastando uma nota preta, nós homens somos bem mais econômicos.
Pelo menos a maioria, se bem
que atualmente marmanjos fazem unhas, os pezinhos, depilam o peito, as partes
pudentes, hummmmm..,
Eu, como mestre sala do bloco
dos velhos espadas, não sou chegado a essas frescuras, sou freguês do mesmo
salão há muitos e muitos anos.
Salão de barbeiro, diga-se de
passagem, cortando a juba sempre com o bom e caprichoso Vicente, que também já
dobrou o cabo da boa esperança.
Para contrabalançar os
aumentos acima da inflação, que Vicente sem sucesso tenta justificar, aumentei
o intervalo entre as tosas, de quarenta e cinco para sessenta dias.
O danado me depena em vinte e
cinco pratas por sessão, esquece que não sou deputado nem senador.
Depois de aparar alguns
milhões de quilômetros da minha farta cabeleira nas últimas décadas, somos hoje
bons amigos e confidentes.
Da mesma forma que as
mulheres vão aos salões para se embelezar e também ou principalmente fofocar,
os homens, levados pelo torpor do momento, fazem dos barbeiros seus
confessores, trocando segredos, comentando sobre viagens, família, trabalho e
inevitavelmente sobre política.
Os barbeiros são os
verdadeiros psicanalistas, confiáveis, sérios, discretos, bons ouvintes,
diplomados pela vida, arquivos ambulantes das mais diversas opiniões sobre um
mesmo assunto.
Sem sair do lugar, são os
melhores pesquisadores de campo, avaliando e catalogando na memória fatos e
opiniões múltiplas, falando apenas no momento oportuno, sempre concordando com
o cliente.
Por falar em memória, a dos
barbeiros é igual a dos elefantes, pois conseguem lembrar da nossa última
conversa há dois meses atrás, perguntam dos filhos e até de alguns assuntos que
nos surpreendem, pois jamais deveriam ser comentados com terceiros.
Só imagino o tamanho do
estrago, se um barbeiro do Congresso Nacional resolvesse escrever suas
memórias.
Por sinal, esse é um título
que falta nas livrarias.
Como freqüentador assíduo,
nunca vi ou li nada semelhante.
Fica aí minha sugestão, se
houver dentre meus minguados leitores, alguém que se dedique a essa honrosa
profissão.
Tivemos nosso encontro no
começo da semana e a conversa não teve como escapar dos trágicos e hilários
acontecimentos de Brasília.
“E o Arruda hem! Aqueles
filmes, a cambada de ladrões, a dinheirada toda, escondida até na cueca, com
medo de serem assaltados por outros deputados, e ainda por cima rezam e
agradecem a Deus pela propina recebida.
Sacrilégio! Alem de cassados
e banidos da política, deveriam ser excomungados pelo Papa!
Vicente não quis deixar
barato essa imensa vilania.
Tudo isso comentado em “off”,
a boca pequena, ficando apenas entre nos dois.
Dessa vez falou bem mais que
o habitual, estava mesmo de saco cheio com nossos políticos de merda. Gostaria
de botar a boca no mundo caso não fosse proibido por dever de ofício.
Os barbeiros, assim como os
sacerdotes, são impedidos de revelar os sagrados segredos da confissão.
José Roberto- 09/12/09
OBS: APROVEITANDO MINHA IDA AO BARBEIRO, QUE ME EXTORQUIU 60 PRATAS, RECUPERO TEXTO ESCRITO HÁ SEIS ANOS, NO TERRA BLOG, ATUALMENTE, SEM POSSIBILIDADE DE ACESSO.
José Roberto-30/09/15