A ILHA DAS MELANCIAS(OU DAS BANANAS)
Apropriei-me do texto sem qualquer autorização por
considerá-lo magistral, uma hipérbole, uma analogia precisa de um país que
conhecemos muito bem, que teima em continuar em sua mesmice cartorária e de
privilégios, com os novatos e os de sempre dando as cartas, políticos olhando
para o próprio umbigo enquanto a nação é consumida pela voracidade dos impostos
que sustentam a imensa e ineficaz máquina pública.
O autor da oportuna parábola poderia ainda ser mais exato,
se ao invés de melancias tivesse
escolhido bananas.
José Roberto- 19/06/19
A ILHA DAS MELANCIAS
Era uma vez um arquipélago no Pacífico Sul. Um dia,
um grupo de pessoas desembarcou em uma ilha desabitada com a idéia de fundar um
novo país. Os novos moradores logo descobriram que naquela ilha nasciam
melancias deliciosas. Naturalmente, veio a idéia de cultivá-las, e em pouco
tempo cada família da ilha tinha sua plantação de melancias. Havia fartura para
todos.
Lógico que as pessoas desejam outras coisas além de
melancias. Aos poucos, algumas famílias foram mudando de ramo: alguns se
especializaram em construir casas; outros, em confeccionar roupas; também
surgiram sapateiros, ferreiros e carpinteiros. Mas como a melancia continuava
sendo a comida do dia-a-dia, foi natural que ela também virasse a moeda de
troca. O sapateiro trocava um par de botas por dez melancias, o carpinteiro
pedia vinte melancias por uma cadeira, e assim por diante.
Nem todos os serviços tinham o mesmo preço: um
casaco bonito e com enfeites custava mais melancias que um casaco simples. Mas
cada um escolhia o que achava melhor, e ninguém brigava. Pode-se dizer que
todos viviam felizes.
Um dia, desembarcou um forasteiro na ilha. Ele
subiu em um caixote e começou a discursar. Os moradores daquela ilha estavam
desprotegidos, disse ele. Não havia ninguém que cuidasse deles e evitasse que
eles sofressem injustiças. Era necessário criar regras, e normas, e era preciso
haver pessoas encarregadas de fiscalizar se as regras e normas estavam sendo
cumpridas.
O forasteiro era “bom de papo”, e em pouco tempo
havia convencido a maioria das pessoas. Criou-se então o cargo de fiscal de
melancias, que ficou encarregado de medir, pesar, avaliar e carimbar todas as
melancias antes que estas pudessem ser comercializadas. De cada cem melancias,
ele ficava com uma, como pagamento pelo seu serviço.
Também surgiu o fiscal de plantações, que garantia
que os pés de melancia fossem plantados da forma considerada correta; o fiscal
de chapéus, que exigia que todos ao trabalhar na plantação, usassem o modelo de
chapéu previamente aprovado, para evitar que o pescoço ficasse queimado de sol;
o fiscal de horários garantia que ninguém trabalhasse mais do que o número de
horas permitido; e o fiscal de transporte inspecionava as carroças e concedia
licenças para que se pudesse transportar as melancias.
Como nenhum destes fiscais plantava nada, todos
eles recebiam uma parte das melancias plantadas pelos demais. Para garantir que
ninguém estava deixando de contribuir, surgiu o fiscal de arrecadação de
melancias. Para definir quantas melancias cada um deveria pagar, criou-se um
comitê. Para fiscalizar o comitê, criou-se uma assembléia, e para definir
normas para a assembléia criou-se um conselho. às vezes o conselho não
concordava com a assembléia, e então criou-se uma justiça, com tribunais de
primeira, segunda e terceira instâncias.
Neste ponto, algumas pessoas começaram a reclamar.
Diziam elas que havia cada vez mais gente comendo, mas cada vez menos gente
plantando melancias, e que se as coisas continuassem assim, não haveria
melancia para todos.
A moral da história é a seguinte:
Algumas pessoas acham bom ter um governo grande,
outras não. Mas não se pode negar um fato: governos não produzem melancias,
eles vivem às custas das melancias que os outros produziram.
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