RASGANDO A FANTASIA
Li ontem, uma crônica contundente do Arnaldo Jabor, sobre o
carnaval, mordaz, abordando uma faceta característica do brasileiro alienado, que se deixa seduzir por migalhas de
“pão e circo”.
Se entrarmos no espírito do texto, na atual situação do país
não há mesmo motivos para comemorações e risos.
Inebriado por uma sensação surrealista, o povão, endividado
e sem emprego, deixa de lado suas aflições para cair na folia, cometendo em
quatro dias excessos, que aumentarão ainda mais sua penúria e arrependimentos.
A coisa chega a tal ponto, que até eu, zarolho, vou rasgar a
fantasia, de leve, aqui mesmo em casa, pois o chapéu de pirata já ganhei de
minha mulher.
Comprei também uns vinhos, umas cervas artesanais IPA, e um
montão de cajus(caros pra cacete), para preparar dezenas de “cajus amigo”, batida
de especial predileção de Dona Regina e Maria Silvia. Eu também não rejeito
esse maravilhoso drink.
No meio de toda essa pretensa farra, martelará na cabeça a
pergunta que não quer calar, “tá rindo
do que, otário”.
Apesar dos pesares, acho mesmo que temos que rir de nossa própria
desgraça, de nossa insensatez, de como permitimos que o país tenha sido
esculhambado, vilipendiado e saqueado por tantos e tantos anos?
Ao contrário da racionalidade do texto do Jabor, não sei se
vale a pena ser tão objetivo e sério, nesses dias que se avizinham e que causam
uma amnésia agradável na maioria dos brasileiros?
Sóbrios ou manguaçados temos mesmo é que desopilar, rir de
nossas falhas e burrice , pois amanhã será outro dia, e alem da ressaca teremos
que continuar encarando os problemas de sempre, tropeçando, caindo e sacudindo
a poeira, “pois acima de tudo o
brasileiro é um forte”(parodiando Euclides da Cunha).
Eu, meio fraquinho, vou ficar na varanda vendo os blocos
passarem, sambando com Dona Regina, devidamente paramentado, tomando e
misturando todos os tipos de manguaça.
E viva a insensatez!
Até quarta-feira de cinzas...
José Roberto- 01/03/19
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