PAPELÃO DO VELHO
Já tínhamos combinado o churrasco umas trinta vezes, todavia,
na hora da confirmação sempre havia um dos “craques” da turma que não poderia
comparecer e assim íamos remarcando “sine die”.
A muito custo ajustamos os ponteiros para domingo, 19 de
agosto.
Presença de todos confirmada, inclusive esposa e filhos para
congraçamento geral, pois é meio complicado programar um regabofe num domingo
sem levar “as respectivas” a tiracolo(eu pelo menos, não tenho esse alvará).
Como mais velho e patrono da turma do tênis, assumi a responsabilidade
pela compra das carnes, acessórios e bebidas, ficando também encarregado pelo comando
da churrasqueira.
Convem salientar, que nos três dias que antecederam ao
evento, não sei se por conta de umas salsichas ou de bocado de azeitonas pretas
que devorei com extrema gula, na quinta a tarde comecei a sentir uma revolução
em meu baixo ventre.
De madrugada iniciei minha via sacra rumo ao banheiro, “obrando”
umas cinco ou seis vezes até o raiar do dia.
Com o fiofó em brasa iniciei na sexta pela manhã uma
rigorosa dieta, pois queria estar em plena forma no domingo, dia do encontro e
dos comes e bebes da turma.
Sábado transcorreu na mesma toada, uma cagada aqui, outra
ali, com o “jato líquido” transformando-se paulatinamente num bolo fecal mais
consistente, mas ainda arenoso, dando a entender que a merda iria endurecer(até
rimou).
Noite de sábado para domingo normal, sem visitas ao trono, e
de manhã apenas um expelição de dejetos razoavelmente sólidos, confirmando meus
prognósticos de melhora.
A partir das 10,00 horas, um leve jogo de duplas, pois
minhas pernas descarnadas sentiam ainda sintomas do esforço exigido nos dias
anteriores, devido penosa “curribamba”.
Após um rápido banho para retirar a “nhaca”, iniciei os
trabalhos por volta das 12,00 horas, acendendo o fogo, preparando espetos com
corações e drumetes, entremeando com algumas talagadas de Juggermeister,
aguardando a chegada dos parceiros.
Eis que logo depois surgem Miguelito, notório por seu “gancho
de direita indefensável” e Marcelo “formiga atômica”, o ligeirinho que vai em
todas, acompanhado de sua digníssima.
Pouco depois, todo de branco, cabelo engomadinho e cheirando
a lavanda francesa, surge Juarez, o bichado, que depois que apareceu no GNT
anda metido pra cacete, só anda nos trinques.
A turma toda já sacou que a dor na panturrilha era puro
fingimento, pois a dita cuja deslocou-se atualmente para o ombro e cotovelo.
A conversa, a cervejada e as doses de Jugger foram melhorando
num crescente, até que pintou no terreiro a “Síndica”, que instantaneamente
endereçou ao velho, seu célebre e controlador “olhar 43”, acompanhada da
carioquinha mais bonita do Brasil, Lelê e da primogênita Maria Silvia.
Em sequencia, chegaram a esposa de Miguelito; Paulinho explicadinho
também com a respectiva senhora; de contrapeso, como apêndices, meu genro Bruno
e minha filhota Fernanda, completando o grupo que marcou presença em tão
importante evento.
Ausentes, os tratantes
que inventaram desculpas esfarrapadas para justificar o absenteísmo, Edmar “mãos
de tesoura” e Carlos “cacetada” que gosta de castigar a bolinha.
Edmar embromou bastante, alegando por fim que tinha que
arrumar a bicicleta da sogra, e Carlos que estava trabalhando no Banco desde as
6,00 horas da manhã.
Desconfio que Carlos estava rasgando e destruindo
documentos, pois a Lava-Jato anda prendendo diretor de banco e sabe como é, “quem
têm, têm medo”.
Edmar utiliza sempre a mesma desculpa, quando não é a sogra,
é o cunhado, ou a obrigatória visita a suas “vitimas”.
Mesmo lamentando a ausência dos dois sacanas, tudo corria
bem e a manguaça corria ainda mais solta.
Depois de encher exageradamente o bucho, após três dias de
dieta, de tomar algumas(muitas) doses de
Juggermeister e copos e copos de cerva, senti repentinamente que baixou sobre
mim uma certa tristeza, um torpor no ventre, um arrepio nas tripas.
Mal tive tempo de levantar e chegar a porta do banheiro,
onde despejei praticamente tudo que havia gulosamente ingerido; pedaços semi
digeridos de lingüiça, drumete e carne, regados ao ranço de bílis e vapores alcoólicos,
que certamente incomodou os convivas, pois hoje de manhãzinha constatei que
haviam limpado minha sujeira.
Ainda bem que as mulheres e convidados já haviam se retirado,
não presenciando o papelão e o vexame do velho síndico, que tem pavor de
vomitar, pois após esse ato humilhante fica imprestável, completamente
entorpecido.
Recordo que lá pelas tantas, já escuro, fui gentilmente rebocado
ao meu apartamento pelo pequeno Marcelino, pequeno em tamanho mas com braços
fortes, um gigante na quadra e em cortesia.
Me lembro “en passant” que Peter, o mais novo participante
do grupo apareceu, mas já estava “pra lá de Bagdá” e nem mesmo sei se papeamos.
Cheguei em casa tão amarrotado, que até a patroa ficou preocupada
e nem mesmo deu qualquer bronca.
Acordei hoje por volta das três da matina, preocupado com
uma provável continuação da caganeira ou com um eventual enjoo, fruto da
ressaca.
No trono, constatei que minhas preocupações eram infundadas,
pois a textura do “moreno” estava razoável e o estomago em boas condições.
Uma das grandes besteiras que costumamos dizer, é que com a
idade vem a experiência.
Balela pura, pois vou ficando mais velho e não aprendo
nunca.
Continuo guloso e as vezes descuidado com a “marvada”.
Todavia, pelas mensagens que recebi agora de manhã, parece
que apesar dos pesares, valeu a pena.
No próximo encontro prometo ser mais cuidadoso.
Da mesma maneira que não acreditem em promessas de
políticos, fiquem desconfiados das promessas do Zé.
José Roberto- 20/08/18
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