OBESA
Confesso que venho me corroendo de vergonha, pois cometi uma
grande injustiça, provando mais uma vez, que vou ficando velho e não aprendo e
que experiência pouco vale ou vale nada.
Reconhecer erros não é tarefa fácil, mas mesmo a duras penas
e com o rabo entre as pernas, é a única forma de expiar nossas cagadas, aliviar
a consciência e tentar aprender com mais essa derrapada.
Estávamos em plena comemoração de ano novo no alto da serra,
em Araras(Petrópolis), numa ótima casa alugada por meu genro, com alguns poucos
parentes e amigos, quando, após degustarmos deliciosos regabofes e tomar algumas, num
canto da mesa jogávamos conversa fora.
Não me lembro exatamente como e a razão, mas uma das
convidadas mencionou a palavra obesa,
pronunciando o “é” bem aberto,
dizendo que aquela era forma correta de se pronunciar a palavra.
O metidão aqui, que se julga sabichão e conhecedor da língua
pátria, retrucou na mesma hora, discordando, afirmando que a pronúncia correta
da palavra “obesa” era com o “e” fechado, arrotando pretensa sabedoria e
dizendo que jamais, desde que se conhecia por gente, tinha ouvido essa palavra
ser pronunciada de forma aberta.
A jovem senhora, meio sem graça, replicou dizendo que havia
feito um curso e lido alguns livros que explicavam a forma correta de se
pronunciar a palavra.
Ao invés de deixar o assunto morrer piorei a situação, exorbitando
e sendo pretensioso ao extremo, a ponto de afirmar que livros, já os tinha lido
aos milhares, palpitando que a querelante não teria lido nem dez por cento do
meu montante.
Essas frases infelizes, eivadas de orgulho inescrupuloso e vazio,
devem ter escapado pela mania de pré-julgar as pessoas sem conhecê-las mais a
fundo, alem de ser induzido a cretinice pela influência de Baco, pois já havia
tomados umas e outras.
A jovem senhora realmente devia conhecer o assunto, pois um
pouco acima do peso talvez tivesse consultado o dicionário para se instruir
sobre a denominação e uso correto da palavra(outro pré-julgamento).
Recebi até um leve
apoio de uma amiga que a contragosto ouvia o irrelevante debate, dizendo que também acreditava que a pronúncia correta
da palavra era com o “e” fechado.
Felizmente, minha filha Fernanda, anfitriã e bem mais safa
que o pai, matou o assunto, acabando com o mal estar passageiro que pairava
sobre o grupo.
Aparentemente, nos dias subsequentes tudo voltou a
normalidade e quaisquer arestas foram aparadas.
Retornando ao Rio, a primeira coisa que fiz foi consultar o
Google, ficando com cara de merda, pois embora muito pouco utilizada em nosso
país, segundo Aurélio e Houaiss , a palavra “obeso”, grafada corretamente sem
acento, deveria ser pronunciada com o “e”aberto.
Por sorte, fui salvo fugindo do rebaixamento para a segunda
divisão, por Caldas-Aulete, explicando que
apesar de originariamente a pronúncia ser aberta, no Brasil, é
normalmente usada na forma fechada(serviu de consolo).
As vezes é bom levar alguns trancos e cacetadas para que deixemos de ser arrogantes e metidos, pois
a pretensão de ser um expert em nossa língua já é um exagero desmedido.
A vida vai nos ensinando.
Precisamos apenas ter a inteligência e sensibilidade de
armazenar e recordar esses ensinamentos nos momentos oportunos, evitando que
nossas cretinices tomem a frente e nos conduzam a labirintos difíceis de serem
contornados.
A verdade nua e crua desse triste episódio, é que fui metido
a besta e presunçoso, e que deveria aprender de uma vez por todas, evitando
cair em novas esparrelas.
O problema é que sei, menos dias, mais dias, entrarei em
outra fria, pois como diz o ditado “burro velho não perde a barda”.
José Roberto- 10/01/18
Talvez não fosse tão enfático, mas também defenderia a forma fechada.
ResponderExcluirnossos ouvidos estão acostumados a isso.