CARAVELAS 2020- PARTE 2
Encerrei o texto de ontem mencionando a radical
transformação dos meninos tarados, Lucas e Gabriel Pinguelo, que devidamente
catequizados retornarão a Itanhaém como exemplos sadios de nossa juventude,
pensando inclusive em tornarem-se coroinhas.
Caso optem por esse caminho, repeti o conselho de meu velho
pai que vem sendo transmitido de geração em geração: “Para traseira de burro e frente de padre nunca se deve dar as costas”.
Ao final de nossa estada, os galalaus já estavam tão
bonzinhos, que brincaram e conviveram socialmente com “El Pentilhito” numa boa,
independente da diferença de idade.
Dá boca suja de Gabriel Pinguelo deixaram de sair palavrões,
apenas orações, pois o endiabrado foi realmente convertido com os sábios conselhos
do titio Beto.
Tenho que mencionar a tradicional visita que fizemos ao “grande”
mercado municipal de Caravelas, exemplo de higiene e limpeza, onde pode-se
adquirir carnes de primeira, alem de uma grande variedade de produtos locais.
Meus sobrinhos, para experimentar, compraram uns 100 kg de
farinha de mandioca, alegando como sempre a qualidade inigualável do produto,
que eu particularmente jamais percebi a diferença.
Yellow como sempre, fez questão de comprar dúzias de
caranguejos destinados a Mario Moreno que depois de limpos e congelados, serão
degustados com a família em Piracicaba; comprou ainda com sádico prazer,
algumas dúzias de guaiamuns, que os leva vivo para Itanhaém, onde após um período
de engorda são consumidos pela família Barbi.
Acredito que tem o prazer de comprar os guaiamuns para
encher o saco do tio, pois várias vezes os danados escapam e ficam andando pela
camionete durante a viagem. Esclareço que não meu dou bem com caranguejos,
siris e guaiamuns.
Já ressaltei os dotes culinários de Lucas Trator , que nos
surpreendeu com sobremesas apetitosas; de Gabriel o genro n. 1, churrasqueiro
de primeira e um corisco na arte de cortar legumes, bacon e outros
acompanhamentos, me deixando com uma bruta inveja, pois apesar de tentar ser um
cozinheiro razoável desde longa data, não chego aos pés do danado na aptidão
dos cortes.
Todavia, relato com prazer um macarrão que fiz para deleite
de todos.
A ideia inicial era fazer um fetuccini a gorgonzola, mas
como não foi possível encontrar o queijo em Caravelas, optei por uma mistura de
tudo que tínhamos em casa, a saber: bacon, presunto(o pouco que sobrou), ervilha,
ovos, pimenta do reino, creme de leite e não lembro o que mais.
Posso afirmar que ficou uma delícia, pois até houve uma
disputa para raspar a panela. O acepipe foi batizado de “Macarrão a Caravelas”.
Tentarei repetir o grande feito no Rio.
De Ricardo não preciso falar ou escrever, pois o “Amarelo” é
foda na cozinha, no mergulho, em limpar peixes, filetando como os mestres
japoneses. Teve uns dias de folga, cedendo o espaço para metidos como eu e
outros que já mencionei.
Mas ao invés de moquecas memoráveis, Yellow nos brindou com
um feijão inigualável, manjar dos deuses, feito com ingredientes secretos que
rejubilaram nosso paladar.
Infelizmente tudo que é bom dura pouco, chegando finalmente
o dia da partida, antecipada devido as chuvas que vieram do sul e estacionaram
na acolhedora cidade.
Marcelo e Digão, partiram na quarta, antecipando-se as
chuvas e atendendo ao chamamento do dever(dentes a arrancar e futucar).
Mario Moreno, Renê El canadiano e Pentelhito partiram logo
após o almoço, carregados de peixes e camarões comprados do atravessador Julio.
Logo após, a dupla de genros resolveu pegar a estrada, pois
pelo que consta, Lucas Trator tem o pé pesado e não gosta de andar em comboios.
Saiu zunindo.
Restaram apenas eu e Ricardo, e Renato Dada, Carlinhos Peba
com sua barriga de baiacu ovado, e os convertidos Lucas e Gabriel Pinguelo.
Nossa saída estava prevista para as 15,00 horas.
Escaldado com os problemas intestinais e com a contaminação
do banheiro do restaurante em Ibiraçu, tomei os cuidados necessários para
evitar nova tragédia.
Azeitado pelo consumo elevado de pimenta, dei logo cedo duas
belas cagadas, daquelas de mais de quilo. Antes da partida dei a terceira, que
nada deixou a desejar as anteriores.
Tripas limpas e zeradas, após Ricardo fazer as últimas
compras, camarão seco e catado de siri, finalmente partimos, para a viagem que
viria a ser uma verdadeira odisséia.
Saímos por volta das 15,30 horas, com chuva mediana que iria
nos acompanhar durante toda a viagem. Devo frisar que Ricardo, com sua tara por
arrastar rabichos, resolveu de última hora a levar uma das lanchas de volta
para Itanhaém. Esse Amarelo não tem jeito!
Puxando a fila, pusemos o pé na estrada, com a pista escura,
molhada e com um bom movimento.
Depois de algumas horas Ricardo notou no celular, diversas
chamadas não atendidas feitas por Renato. Conseguimos contato com dificuldade,
pois a recepção no local era ruim. Peba ao telefone, pregou-nos um grande susto
informando que tinham batido a camioneta.
Restabelecendo a ligação parados no acostamento, para nosso
alívio ficamos sabendo que foi apenas um pequeno raspão, dado por um “barbeiro”
que tentou uma ultrapassagem em local inadequado, fechando meu sobrinho para evitar
o pior.
Aguardamos sua chegada, verificamos a insignificância dos
danos e continuamos a viagem.
Alguns minutos depois cruzamos lentamente um posto da Polícia
Federal que parou o carro do Renato vindo logo atrás do nosso, para
inspeção.
Estacionamos um pouco a frente e ficamos acompanhando os eventos,
pois o teimoso Dadá sempre carrega algo que não deveria, mas graças a presença
dos meninos o guarda foi boa praça, olhando de leve as bugigangas e apetrechos
de pesca na caçamba da camioneta.
Dadá confessou que ficou com as pernas bambas, quase se
borrando de medo. Talvez agora aprenda e não persista nessa costumeira cagada.
Como desgraça pouca e bobagem, algum tempo depois Ricardo
percebeu que um pneu da carreta havia furado, pois são inúmeras as lombadas ao
longo do caminho. Por sorte estávamos próximos de um posto, onde chegamos com o
pneu total estraçalhado.
Trocamos o pneu da carreta com alguma dificuldade, com
Ricardo dando duro e eu solidário, apenas olhando.
Fomos ultrapassados por Renato que seguiu viagem, nos
reencontrando na parada em Ibiraçu.
Temendo ser reconhecido, entrei de boné e cabeça abaixada
evitando as câmeras de segurança. Tive sorte, pois a equipe de plantão devido
ao horário, deveria ser outra e pude utilizar o mictório normal sem problemas,
dando apenas uma grande mijada.
Seguindo viagem com chuva incessante, cansado, Ricardo, com
algum receio, me passou o volante ao atingirmos trecho com pista dupla.
Dirigi apenas uns 5 minutos, pois com a chuva, asfalto
escuro, centenas de olhos de gato, mesmo a 60 por hora era difícil. Quando
notei estava dirigindo pelo acostamento e no mesmo instante, Ricardo
completamente desperto e assustado, assumiu a direção do veículo.
Constatei, que com ou sem rabeta, a noite, com chuva, não dá
mais para o velho lobo do mar.
Seguindo em frente após tantos imprevistos, chegamos ao Rio
por Volta das 06,30 horas, pois dessa vez haveria entrega em domicilio.
Estacionando, Ricardo notou que a carreta estava inclinada,
pois a mola do lado em que trocamos o pneu estava quebrada, gerando atrito do
pneu com a madeira da carreta, só não estourando devido a chuva, que
provavelmente evitava que o pneu superaquecesse.
Se não tivesse entregado “o pacote “ no Rio, Yellow teria tido sérios
problemas, pois certamente ocorreria a pane na Dutra, sem estepe e sozinho.
Após acionar o pessoal do prédio para conseguir um soldador,
saímos em busca de uma borracharia aberta, localizada a duras penas no Leme.
Com tudo finalmente nos conformes, Ricardo partiu com a
obrigação de ir mantendo contato ao longo da viagem(540 Km).
Graças a Deus tudo correu bem nessa etapa derradeira.
Aos poucos fui monitorando e recebendo informações que todos
chegaram bem.
Apesar dos contratempos foi uma boa semana, onde desopilamos
nossos fígados, nossas mentes, recarregando as baterias para cada um enfrentar
sua jornada.
Eu, para continuar coçando o saco.
Já ansioso, aguardo a próxima viagem à nossa querida
Caravelas.
José Roberto- 28/01/19
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