PENÚRIAS DA IDADE AVANÇADA
Já li essa frase um milhão de vezes e sou forçado a
reconhecer sua profundidade: “A Velhice é Uma Merda”.
A medida que envelhecemos, depois de trabalhar duro por anos
e anos, justamente quando nos preparamos para desfrutar madorramente da
merecida aposentadoria, é aí que justamente aperta o calo.
Ao invés de nos deleitarmos preguiçosamente numa rede,
pescar num final de tarde ensolarada, jogar futebol e brincar com os netos, viajar
por locais que sonhávamos quando o dinheiro era curto, desperdiçamos parte
preciosa do tempo útil que nos resta, nos salões de espera de médicos,
laboratórios, hospitais e dentistas.
Inclui dentistas em cima da hora, porque devo a eles a razão
deste texto.
Quando o sortudo atinge os cinqüenta/sessenta, é obrigado a
se submeter a um “porrilhão” de exames, sendo subtraído de litros e litros de
sangue, de garrafas e garrafas de xixi, latas de fezes e todos os fluídos
pensáveis e impensáveis, capazes de serem extraídos de um corpo humano já
bastante depauperado.
Sobre esses exames e muitos outros, pretendo escrever
qualquer dia, um texto específico, pois o assunto que quero abordar é sobre
dentes.
Desde que me reconheço por gente, sempre tive um “cagaço”
danado de dentistas, portanto, sempre cuidei da dentadura com carinho e esmero,
evitando ao máximo, as sofridas visitas aos boticões assassinos.
Sempre tive orgulho de ter mantido, a duras penas, todos os
dentes, apesar dos desgastes causados pelo tempo e excesso de uso.
Orgulho que desmoronou no final do ano passado.
Desde que meu sobrinho Ricardo, companheiro de pesca e
mergulho, se formou no sádico ramo da odontologia, tenho abusado de seu tempo e
paciência, pois tratar de um velho cagão dever ser um saco.
Em julho/13, com uma irritação na gengiva, procurei uma
dentista do meu plano de saúde, a quem recorro algumas vezes para limpeza e
remoção das cracas, que solicitou uma montanha de radiografias para poder
diagnosticar o problema.
De posse das fotos, alertou que deveria ser um problema de
canal, recomendando que procurasse um especialista.
Juntei e a papelada e me mandei para Itanhaém, para que meu
sobrinho, atualmente o melhor dentista da baixada santista, desse o seu
veredicto.
Na cadeira de sacrifícios, depois de mais radiografias com
equipamentos de ultima geração e alguns futucões, o terrível diagnóstico: Não
era problema de canal, mas sim de perda óssea. Meu pobre dente estava com os
dias contados.
Essa incerteza durou até dezembro, quando fomos passar o ano
novo em Itanhaém.
O dente, velho e frágil, não resistiu a gula e a comilança
da data festiva.
Coube a meu querido sobrinho, a tarefa inglória de extrair
meu orgulho dentário.
Como não quis saber de implante, Ricardo optou por fazer um
dente falso, apoiado no siso e no antepenúltimo, que ainda se encontravam em
boa forma.
Ainda bem, que o extraído era lá do fundão, área
esteticamente menos afetada.
Foi feita de imediato um trio provisório, que deveria ser
usado até a moldagem do definitivo.
Evitando uma viagem Rio/Itanhaém, essa moldagem foi feita em
Caravelas, meio nas coxas, mas com a reconhecida competência do meu sobrinho,
que teve a paciência de levar uma caixa com todos equipamentos e medicamentos
necessários, inclusive um motorzinho porreta e intimidador.
Esperava que o provisório agüentasse até a semana santa,
quando em companhia de toda a família, inclusive da netinha, pretendíamos
curtir nossa casa no litoral paulista.
Quis o destino que as coisas fossem diferentes.
Na quinta-feira, antes do Carnaval, estava almoçando quando
notei que minha mordida estava diferente.
Terminei o almoço com cuidado e ao escovar os dentes percebi
que havia engolido a danada da “perereca”.
Apavorado liguei de imediato para meu sobrinho.
Fui aconselhado a manter o “buraco” muito bem escovado e
limpo, para evitar contaminações e alguma carie, até a instalação das próteses
definitivas, o mais rápido possível.
Ensaiei peneirar minhas fezes para recuperar a perereca.
Depois de examinar com muito cuidado, minhas três primeiras
“cagadas” após o infausto acidente, chegando até a me animar, quando vi um
“marinheiro” de tamanho médio boiando na latrina, o único dentre os demais
depositados no fundo, perdi a coragem.
Já estava com um pedaço de cabo de vassoura na mão, pronto
para agredir o balouçante “marinheiro” quando fraquejei, pois sei que a
fedentina seria de amargar.
Quando se rompe a película invisível que protege o cocô, um
cheiro horrível emerge das fezes nauseabundas, num fenômeno físico/químico que
deveria ser estudado mais a fundo.
Pise no cocô de cachorro para tirar a prova dos nove.
Intocado fede muito pouco, mas depois de pisoteado, eliminar a catinga é
dureza!
Cheguei a temer que a perereca ficasse entalada na saída do
fiofó, talvez, enroscada na “prega rainha”, ainda entocada.
Felizmente, deve ter escorregado sem nenhum dano a minhas
partes baixas.
O resultado do fracasso na recuperação do “provisório”,
foram duas semanas comendo com extremo cuidado, mastigando devagar, apenas de
um lado, prejudicando a degustação dos alimentos.
Problema finalmente eliminado na terça-feira, em Itanhaém,
pelas mãos cuidadosas de meu sobrinho.
Embora desvirginado em minha dentição, já posso comer e
morder sem maiores cuidados.
Volto a ser um novo velho homem,
José Roberto- 13/03/14
Zé
ResponderExcluirConcordo que ficar velho é uma barra muito pesada.
Porém, como você, jamais deveremos perder o humor diante do nosso calvário.
Bom e divertido texto.
Pedro Paulo
Se o Ricardo é o melhor atualmente, o Renato segue de perto os passos do irmão. Um caso típico de DNA familiar...
ResponderExcluirLuizinho.