(EU, RICARDO, MARIO E CARLINHOS-ULTIMO A ESQUERDA)
ATÉ A PRÓXIMA,
CARLINHOS.
Ao contrário
das muitas narrativas gloriosas e exageradas, após retornos de Caravelas-BA,
dessa vez está sendo difícil encontrar palavras para relatar a dor que oprime
meu velho coração.
Após uma
viagem agradável, iniciada em Itanhaém, com meus sobrinhos me apanhando no Rio
por volta da 03,30 da madrugada do dia 21, sexta-feira, partimos felizes e despreocupados
para Caravelas, antegozando a comilança, a manguaça, os mergulhos(poucos), as
pescarias de robalo, que nessa época são fartos na imensa foz do rio que nomeia
a velha e pequena cidade, enfim num clima de camaradagem que só quem conhece e
participa de eventos semelhantes, sabe a importância desses “breakes”, para recarregar
as baterias do coração e da alma.
Com a
comitiva reduzida, pois dessa vez éramos apenas seis, Eu, Ricardo, Renato,
Mario, Chupeta e Carlinhos, enchendo a pança com exagero, degustando os 300(trezentos)
salgadinhos variados, deliciosos, encomendados por Carlinhos de uma famosa quituteira
de baixada santista, aportamos em Caravelas por volta das 17,00 h da
sexta-feira.
Nossas paradas
técnicas e estratégicas limitaram-se apenas para encher os tanques e esvaziar
as bexigas. Embora alguns de nós(eu principalmente) com a barriga convulsionada necessitasse desentocar
o bagre, desistindo da empreitada ao constatar a péssima higiene dos sanitários,
deixando com algum sacrifício, para desovar no final da jornada.
Os
deliciosos 300 salgadinhos foram praticamente devorados durante a viagem, com pouquíssima
sobra.
Após
descarregar as tralhas com ajuda do caseiro Ditinho, tomamos algumas cervas
para relaxar, se ajeitando na confortável casa do meu sobrinho, onde desfruto
da mordomia de ter uma suíte exclusiva, cortesia do querido Yellow.
Conforme
previsto por Ricardo, que adquiriu um forninho especial para o preparo de
pizzas, caríssimo, Carlinhos/Peba, encarregado de trazer a massa já pronta,
iniciou o preparo dos demais ingredientes, pois embora não estivéssemos com
muita fome, estávamos ansiosos para provar e constatar a qualidade das pizzas
cozidas no forninho a gás, cuja temperatura atinge 500 graus.
Confesso,
como glutão convicto e irrecuperável que comi demais, pois as pizzas ficaram realmente
deliciosas, muito melhor que aquelas habitualmente compradas pelo I Food.
Devido ao
cansaço, comemos muito, mas bebemos moderadamente. Me recolhi por volta da
21,00 h, enquanto Carlinhos e os demais, ficaram acordados até um pouco mais
tarde.
Seguindo a
tradição, as manhãs de sábado são reservadas para visitar a feira em Caravelas,
esclarecendo que estamos alojados na Barra, situada aproximadamente a uns 10 km
do núcleo central da cidade.
Eu e Ricardo,
como de hábito, acordamos cedo, preparamos o café e saímos para comprar pão,
enquanto o resto da turma ia despertando.
Por volta da
08,00 h, como Carlinhos não havia levantado, estranhando o atraso, Ricardo foi
acordá-lo, encontrando-o deitado, aparentemente dormindo, com as dois braços
sobre a nuca. Chamou por ele diversas vezes, sem sucesso, tocando em seu braço e
levando um tremendo susto, constatando que estava gelado, talvez em virtude do
ar condicionado.
Acendendo a
luz, verificou que Carlinhos embora com aparência serena, tinha um tom de pele
branco opaco, aproximando-se para averiguar com mais cuidado, constatando que
nosso querido amigo tinha partido durante a madrugada, sem qualquer alarido,
talvez para um descanso maior e merecido.
Chocado,
deu-nos a notícia e alguns não acreditaram, achando que era brincadeira. Eu
notei pela expressão transtornada de meu sobrinho, que o caso era de extrema seriedade,
entrando no quarto para dar uma olhada no querido amigo, tocando em seu pulso e
sua jugular, constatando pela temperatura corporal e falta de sinais vitais,
que Carlinhos, desafortunadamente “havia nos aprontado, partindo sem alarde,
para aventuras mais amenas nas águas plácidas do céu”.
A tristeza
desabou sobre nós feito uma tormenta em alto mar, como tripulantes de uma
pequena traineira enfrentando ondas violentas, estarrecidos, engolfados por uma
imensa dor e tristeza.
Carlinhos/Peba
é um velho e querido parceiro, grande amigo de meu sobrinho Ricardo, convivendo
próximos desde os tempos dos bancos escolares.
Carlinhos
completou apenas o segundo grau, tendo começado a trabalhar, tentando se firmar
com uma pequena relojoaria. Casou e teve uma filha, atualmente com 25 anos.
Após Ricardo
graduar-se em Odontologia, firmando-se na profissão, estimulou e deu ajuda a
Carlinhos para que fizesse o curso de Protético.
Após conclusão
do curso técnico, recebeu guarida e local de trabalho na clínica de Ricardo,
onde aprimorou seus conhecimentos protéticos, prestando serviços aos família Barbi
e a outros dentistas de Itanhaém.
Inicialmente
um grande pescador de robalos, daí seu apelido, Peba, juntando-se a turma, aprendeu
a mergulhar tornando-se um bom caçador, companheiro presente em todas as
aventuras, tanto em Caravelas, quanto em Itanhaém, onde os mergulhos são mais
constantes.
Carlinhos
era uma boa alma, grande companheiro, alegre, prestativo, com um jeito especial
de narrar suas aventuras subaquáticas, descrevendo com precisão e muitos
gestos, seus movimentos para rastrear e abater os preciosos bodiões, garoupas e
robalos.
Costumava
imitá-lo na gozação, amplificando o movimento de suas mãos, sugerindo que com
as mãos amarradas, teria muitas dificuldades de se expressar. A meu ver,
deveria ter como segunda profissão, a carreira de “intérprete de libras”.
Com o peso
da tristeza em nossos ombros, tivemos um trabalho insano para vencer a burocracia
e falta de recursos do Samu e Polícia de Caravelas, tentando obter o atestado
de óbito e liberar o corpo para translado com a máxima urgência. Mulher e filha
angustiados com a infausta notícia.
O corpo de
Carlinhos teria que ser removido para Itamaraju, onde seria feita uma autopsia
simplista, pois era evidente que a morte foi súbita e fulminante, pois com
outros dois companheiros dormindo no mesmo quarto, nenhum gemido ou grito de
dor foi ouvido, fato como já dito, comprovado pela expressão serena de seu
rosto.
Foram longas
e penosas horas, aguardando a chegada do rabecão, a ida a Itamaraju, as negociações
para liberação rápida do corpo, a espera, os desgastantes acertos com a polícia
e funerária, calvário concluído provisoriamente as 19,00 horas, pegando o
caminho de volta, com um pouco de chuva e com o peso extra da tristeza em nossa
bagagem.
Temos
certeza que Carlinhos partiu rapidamente e sem dor, de um local tranquilo onde
pretendia fazer o que muito apreciava.
Talvez, por
uma graça concedida por Deus, evitando problemas mais sofridos no futuro, arranjou-se uma forma confortável de Carlinhos
encontrar um novo porto seguro, em local paradisíaco, com fartura de peixes e
outros benefícios, livre dos problemas de saúde que o vinham incomodando,
conforme soube após sua passagem.
Seu corpo já
deve estar em Itanhaém, onde será rapidamente velado pelos amigos e parentes.
Estarei ausente,
porem já rezei e rezarei ainda mais por meu querido amigo Peba, que sorridente,
lá do alto, acompanha nossos passos, aguardando sem pressa a chegada dos amigos,
para grandes alegrias e aventuras, em campos e mares celestiais.
Descanse em
paz e vele por nós, enquanto estivermos por aqui.
José
Roberto- 24/04/23
Abraços à família dele.
ResponderExcluirPuxa, que triste! Mas parti para sua próxima aventura da melhor forma; junto com os amigos, se divertindo…
ResponderExcluirMeus sentimentos!
ResponderExcluirQue a sua fé guie você e que esta dor profunda se torne força para que você possa continuar. Forte Abraço, Paulo.
ResponderExcluirAGRADEÇO AOS AMIGOS O APOIO NESSA HORA DIFÍCIL, UM ABRAÇÃO A TODOS
ResponderExcluirZÉ