Minha
mulher fica fula de raiva quando recheio meus textos de palavrões, sacanagens e
similares.
Alega
contrariada, que esses escorregões devem-se a minha infância de “quase moleque de rua”, e apesar das orientações que
recebia em casa, a influência das ruas
foi mais marcante.
Convem
esclarecer, que na época da minha infância não existiam “meninos de rua” da
forma que estamos acostumados a ver, nas esquinas, nos sinais, esmolando ou
vendendo doces e balas.
Em
Piracicaba havia poucos carros, o índice de criminalidade era praticamente
zero, conhecíamos todos os bêbados, os loucos, as prostitutas e até o gays(que
eram raros). A molecada era a verdadeira dona das ruas, que era utilizada para
todos os tipos de brincadeiras, até mesmo para rachas de futebol.
A
inexistência da televisão fazia que procurássemos nossos amigos nas ruas,
permitindo uma perfeita integração, sem distinção de classe social, cor,
religião, ou qualquer outra coisa.
Éramos
apenas meninos.
Talvez
já tenha contado essa passagem em outro texto qualquer, porem sempre me vem a
memória, principalmente nos momentos em que são evocados os meus velhos laços
de “street kid”.
Foi
nos idos de 1954/1955, quando seria inaugurada a famosa “Casa Portuguesa”, na
rua Governador, próximo a Treze de Maio.
Essa
casa comercial seria a maioral em artigos para casa, cristais importados,
talvez cama, mesa e banho, a ultima palavra em novidades para o lar. Coisa fina
e chique(como se dizia).
Aguardávamos
com ansiedade a inauguração, pois conhecendo o filho do dono que também
perambulava pelas ruas, sabíamos que haveria farto comes e bebes.
Na
tarde do grande evento, casa lotada de convidados, autoridades, padres e bispo,
lá estávamos nós, eu, Toninho Pretinho, Zelão, Milton Gambá(e seu inseparável
sobrinho de uns 5 anos), e mais um ou dois que não me recordo.
Naqueles
bons tempos não havia esquema de segurança, mas mesmo assim, sempre aparecia um
empregado para nos botar para fora, pois mal surgia um garçon e já o cercávamos,
atacando as bandejas sem pudor.
Minutos
depois, voltávamos sorrateiramente até nova expulsão, num circulo vicioso até
nos empanturrarmos.
Bons
e inesquecíveis momentos, somados a tantos outros vividos numa realidade, que
aos meninos de hoje, pareceria ficção cientifica ou pré-história.
Obviamente
nas ruas, jogando futebol e convivendo com os mais velhos, aprendíamos todos os
tipos de sacanagens, com as celebres ilustrações das revistas suecas, o sonho
de todo jovem e a “mãe das masturbações”.
Essas
influências, sem duvida moldaram boa parte do meu caráter e libido.
O
caráter pode ter melhorado com o passar do tempo, graças ao esforço dos meus
pais, com a instrução, mas o libido e o secreto gosto por palavrões e sacanagens
permanecem latentes e imutáveis.
Realmente
tenho muito mais prazer quando escrevo sobre coisas mundanas, besteiras,
sacanagens puras, do que quando escrevo sobre corrupção e as sacanagens
espúrias de nossos políticos.
Como
sou patrulhado por minha mulher, tento não cometer muitos excessos, mas não
consigo resistir a um palavrão ou uma expressão chula.
É
o lado “menino de rua” que insiste em
aflorar.
Sou
um boca suja assumido, mas tenho e tive amigos que me botam no chinelo.
Perto
deles, meu linguajar é franciscano.
Cito
o querido Norberto, já falecido e o Tácio, que apesar de sua aparência de
noviço, era e ainda deve ser, um poço de obscenidade e sacanagens.
Basta
prestarmos atenção na conversa dos jovens de hoje, inclusive das moçoilas, para
ficarmos de cabelos arrepiados, pois é um tal de porra pra cá, caralho pra lá,
escroto, viado, corno e outros adjetivos qualificativos desse mesmo naipe, que
fariam nossos avós morrer de vergonha.
Repito,
sou um boca suja, mas como dizia o inesquecível personagem criado por Chico
Anysio, pau d’água, cujo nome não recordo, noiva da Biscoito: “Sou, mas quem
não é?”
José
Roberto- 05/07/12
NOTA;
PARA CUMPRIR COM MEUS DEVERES DE DONO DE CASA, SEGUINDO ORDENS DE DONA REGINA,
VOU AGORA CEDO AO SUPERMERCADO. POR PREMÊNCIA DE TEMPO, REPLICO UM TEXTO
SAUDOSO, DOS MEUS BONS TEMPOS DE MOLEQUE, EM PIRACICABA, QUE RESULTARAM NO ZÉ
ATUAL.
JOSÉ
ROBERTO- 14/09/22
Nada melhor do que recordar a nossa infância. Principalmente nós que já passamos dos setenta. Os jovens de hoje não conseguem ter a infância que tivemos nas ruas. Não podem nem sair com os sues celulares. Aprendem tudo na escolas e em circuitos fechados. Tem amigos da minha filha, que só abrem a boca com palavrões. Cada um pior que o outro e uns até que não entendo. Por isso, é bom lembrar de Ataulfo Alves: Meus Tempos De Criança
ResponderExcluirCanção de Ataulfo Alves
Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança
Aos domingos, missa na matriz
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?
Eu igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia
Querido Vandeco
ExcluirMuito bom como sempre. Que saudades da professorinha...
Abcs.
Gima