A MOQUECA CAPIXABA
Fui apresentado a deliciosa moqueca capixaba, se não me falha
a velha e cansada memória, em 1976.
Nessa época trabalha na Cesp em São Paulo e fui participar
de uma reunião na Escelsa-Cia de Eletricidade do Espírito Santo, em Vitória,
patrocinada pela empresa anfitriã, sob coordenação do então jovem amigo Sérgio
Pereira(atualmente meio velho, mas firme como uma rocha).
Após exaustivo dia de trabalho, Sergio nos levou para um
pequeno restaurante na Barra do Jucú, local simples com chão de terra batida,
mas com uma comida que era o verdadeiro jantar dos deuses.
O prato básico era a moqueca, de peixe, camarão e de lagosta.
Confesso que fiz feio, demonstrando ser um verdadeiro
caipira, pois recordo que comi pratos imensos dos três tipos, feito um
verdadeiro esganado morto de fome.
Achei a moqueca uma delícia, em especial a de camarão e de
peixe, pois como matuto de origem, não sou muito chegado a lagosta, prato
chique para metidos que fingem ter paladar refinado.
Não que desgoste do crustáceo, mas prefiro o camarão.
Alguns anos depois, já morando no Rio, trazendo para minha
equipe o amigo Pedro Paternost, que até então morava em Vitória e trabalhava na
Escelsa, fiquei ainda mais chegada ao prato típico capixaba, pois Pedro, glutão
inverterado, era também amante desse apetitoso manjar.
Pedro sabia inclusive os locais onde a famosa panela de
barro era fabricada, indispensável para o preparo do rico acepipe. Todas as
vezes que passávamos pela cidade durante nossas incursões de mergulho à
Caravelas, na volta, comprávamos algumas para nosso uso e deleite.
Antes de usar a panela pela primeira vez, era necessário
queimá-la, colocando um pouco de óleo de cozinha em seu interior, levando-a ao
fogo, até que todo óleo fosse absorvido pela panela, impermeabilizando-a e
fazendo com que tudo que nela fosse cozido, tivesse um sabor específico.
Esse ritual causava uma fumaceira danada. Depois da primeira
vez, impregnando o apartamento durante horas, passei a realizá-lo em Itanhaém, num
barracão nos fundos da casa da minha sogra.
Tínhamos o hábito(eu e Pedro), de tempos em tempos juntar mais um ou dois amigos e fazer uma
noitada de moqueca e manguaça.
Ou era no apartamento do Pedro que morava sozinho, ou no
meu, quando Regina estava passando alguns dias em Itanhaém.
Iniciávamos os trabalhos tomando uísque durante todo o
preparo, entremeado com algumas cervejas.
A moqueca capixaba não leva dendê, apenas azeite de
oliveira, que rega e dá um toque especial
nos ingredientes, tomate, cebola, pimentão, coentro ou salsa, alho e
obviamente camarão ou peixe, ou um mix de ambos.
Inebriados pelos odores durante o cozimento, e meio alegres
pelas bebidas, nos preparávamos para atacar o celestial manjar, acompanhado de
arroz branco e do pirão que é outra delícia.
Passávamos então para o vinho, digno acompanhante dessa
magistral refeição, tomado sem qualquer moderação até ficarmos com o bucho completamente
lotado.
Eu comia para valer, bebendo de forma relativamente
moderada, exceto quando a reunião era em casa, quando entornava o caldo de vez,
porem Pedro era sem qualquer sombra de duvida o campeão, motivo pelo qual sua
vasta barriga estava sempre em constante evolução.
Muitas vezes nem lembrava das despedidas e de como cada um
conseguiu chegar bem em suas casas. Bons tempos sem a pentelha Lei Seca.
Agora que Pedro se foi, recordo com saudade desses tempos
despretensiosos, curtindo momentos agradáveis, papeando sobre mergulhos e
outras besteiras, desfrutando um da companhia do outro, atitudes que alegraram
e aqueceram nossas almas.
Atualmente continuo fazendo as moquecas,o pirão e até o
arroz que acho delicioso, agora tudo mais incrementado, pois com o tempo
aprimorei meus dotes culinários e adoro cozinhar.
Sinto apenas falta dessas reuniões calorosas e informais,
pois os amigos do grupo se dispersaram, Pedro no céu e outros mais longe, ou
distanciados por novas atividades.
Reavivar essas boas lembranças faz bem a nossas almas
envelhecidas.
José Roberto- 12/07/17
Recordar é Viver.
ResponderExcluirUm abraço ao amigo
Excluirgimael,meus dotes na cozinha ,pratico em UBATUBA ,quando com amigos de CAMPINAS ,fazemos 1 semana de TENIS e bebidas .Sua memoria ,lembrando encontros de trabalhos nos idos de 70 ,está impecavel.Abraços.
ResponderExcluirCaro amigo
ResponderExcluirAvelha memória rateia, mas dá pro gasto.
Abcs
Gima