ESPELHO, ESPELHO MEU.
Desde sempre gostei de fotografias.
Recordo, que nos idos de 1964, comprei a muito custo, uma máquina
fotográfica Kodak Rio 400, acredito, a primeira câmera fabricada no Brasil.
Era uma carroça, sem recursos, mas foi utilizada durante muitos
anos, pois a segunda, comprei em 1978, uma Olimpus Reflex, na primeira viagem
que fiz a Manaus, a trabalho.
Talvez, por sentir falta de fotos da minha infância, pois
tenho pouquíssimas, documentei com fartura todas as fases e o crescimento de
meus filhos.
Álbuns e mais álbuns povoam os cantos escuros dos armários,
de vez em quando requisitados, para matar saudades e reavivar antigas
lembranças.
Lembro, que aos poucos, fui trazendo da Zona Franca,
objetivas, lentes, filtros e até mesmo comprando alguns livros práticos, para
melhorar minhas técnicas, mas reconheço que nunca cheguei a ser um bom
fotografo.
A bamba da família é minha mulher, que talvez cansada da
minha falta de inspiração, entrou firme no ramo, se especializando para valer,
antes da chegada da era digital.
Reticente de início, Regina logo se adaptou as câmeras
digitais, que em pouco tempo tomaram conta do mercado, banindo o velho sistema
de filmes e revelações.
Em paralelo, tornou-se perita em fotoshop, adotando como
hobby a recuperação de fotos antigas, mas o que realmente fez sucesso, foi o
retoque nas fotos pessoais, transformando amigas e conhecidas em verdadeiras
pitéus.
O assédio e volume de pedidos era grande até a chegada da
neta, para a qual todas as atenções foram dirigidas.
Após a entrada triunfal da pequena Letícia em nossa família,
as fotos se multiplicaram, tanto pelos Iphones, quanto pelas câmeras modernas
da minha mulher, que mostram os mínimos detalhes de tudo que foca.
A chegada do maldito HD realmente deve ter mexido no ego das
pessoas.
Eu mesmo, que nunca fui vaidoso, quando me vejo numa foto
tirada com uma dessas malditas câmeras HD, fico meio constrangido ao constatar
de forma nua e crua, os estragos causados pela idade avançada.
Até que no espelho me enxergo mais jovem, em melhor forma,
mas na foto HD todas as imperfeições, manchas, pintas, cicatrizes, espinhas e
poros abertos, são realçados com destaque.
Sempre brinquei que espelho de barbeiro é especial, melhora
o corte, deixa o caimento bonito, diferente de quando vemos nosso reflexo na
primeira vitrine, ao sairmos do salão onde fomos tosquiados.
Essa é a dura realidade.
Os espelhos são até bem generosos, mostrando talvez aquilo
que queremos ver.
Já essas câmeras HDs, com seus milhões de Mega Pixels,
enxergando mais que o olho humano, são inclementes, retratam até o que não
deveriam, chegando perto até mesmo da nossa alma.
Se sinto algum desconforto, imagino as mulheres, vaidosas e
competitivas por natureza.
Devem odiar esse tal de HD impiedoso, se recusando a serem
fotografadas por essas geringonças que machucam o ego e causam desconforto.
Só se devidamente retocadas, com um fotoshop caprichado.
Os modernos celulares já estão entrando nessa fase de
propiciar ótimas fotos, porem, mais cuidadosos, dispondo de recursos automáticos
para “ajeitar” as imagens, reduzindo os duros impactos em seus usuários.
Temos a mania de nos comparar com colegas de faculdade, do
trabalho e sempre que vemos fotos desses velhos amigos pensamos: “pô, estou bem
melhor que esse cara, mas inteirão, mais conservado”.
Essa é nossa válvula de escape, se bem que muitos machões
não gostarão de admitir que percam tempo com essas mesquinharias.
Se pensamos assim, difícil imaginar o vai pela cabeça das
mulheres!
Um terrível dilema.
Espelho, espelho meu....
José Roberto- 04/06/14
Zé
ResponderExcluirBom texto, filosofia barata mas encarada de forma inteligente.
abraços