QUARESMAS DE ANTIGAMENTE
Não esqueço, que pequenino, há muitos e muitos anos atrás,
ficava meio desconfiado quando via todos os santos da igreja que
freqüentávamos, cobertos com um pano roxo.
Pacientemente, minha mãe tentava explicar que se tratava de
um rito da quaresma, seguido por toda igreja católica. As capas somente seriam
retiradas no sábado ou domingo de aleluia, após a ressurreição de Jesus.
Já maiorzinho, também há muito tempo atrás, ficava meio
invocado com a quaresma, quarenta longos dias onde as rádios somente tocavam
musicas lentas, sacras, as festas eram limitadas ou mesmo proibidas.
Algumas mães mais rígidas e carolas, tentavam impor aos
filhos, mesmo aos pequenos, restrições quanto a brincadeiras e folguedos
durante o período, porem esse não era meu caso.
Sofria apenas um pequeno contingenciamento na sexta-feira
santa, mas mesmo assim, conseguia driblar minha mãe, saindo escondido para pescar
e nadar, sabendo de antemão, que minha ousadia custaria mais tarde, alguns tabefes
e puxões de orelhas(bem leves).
Não tenho certeza, mas acredito que raríssimos católicos
casavam nesse período de contrição.
Entre as crianças, talvez até amedrontadas por adultos
ignorantes, corria o boato de que na quaresma o “diabo andava solto”, pronto
para aparecer e tentar os ímpios e descrentes.
Lá pelas minhas bandas, os mais medrosos, acreditavam que no
centro dos redemoinhos de vento, estava o capeta, pronto para aprontar para os
meninos incautos.
Nunca acreditei nessas sandices, mas sempre que via um
pequeno redemoinho e a poeira levantando, prontamente me benzia com o Sinal da
Cruz e o Nome do Pai.
Prevenir sempre foi melhor que remediar.
Essa ingenuidade extinta, é realmente coisa do passado,
somente pendente no “arquivo morto” da memória dos sessentões.
Crianças e adolescentes de hoje nem sabem o que é a
quaresma, palavra que caiu em desuso.
O Mundo evoluiu, os costumes evoluíram, o respeito com a
tradições foram caindo como castelo de cartas, face ao avanço da tecnologia e
as exigências de um cenário mais agressivo, onde a perversa concorrência
esquece os limites da ética e do bom senso.
O pesado ônus da vida moderna não deixa espaço para essas
“minúcias”.
Aguardando a bacalhoada de amanhã, desejo a todos uma feliz
travessia, uma ótima Páscoa.
José Roberto- 17/04/14
Parabéns velho amigo, foi como se eu tivesse escrito. Mesmas sensações.
ResponderExcluirFeliz Páscoa!
Luizinho.
Caro Zé
ResponderExcluirMais uma de suas crônicas singelas, simples mas comoventes, retratando os bons tempos de outrora.
Parabens e feliz Pascola
Pedro paulo
Ótimas recordações. Lembro muito bem das procissões e das missas da Semana Santa. Naquela época, praticamente a população não viajava como hoje, as famílias permaneciam juntas e as comemorações da Páscoa eram muito mais importantes. Hoje, neste momento, as estradas já começam a ficar lotadas e o povão quer mesmo é viajar, deixando de lado as comemorações como no nosso tempo. E assim vai seguindo a vida!
ResponderExcluirFeliz Páscoa para todos.
Vanderlei