COISAS DE PORTUGAL
Meu filho postou no Facebook um vídeo interessante, sobre o
lançamento do primeiro “drone”(aviãozinho não tripulado) português, programado
com pompa e circunstância, num local as margens do Rio Tejo, em Lisboa.
Com a presença de autoridades, da mídia, do povão e dos
orgulhosos engenheiros que projetaram e construíram a magnífica nave, tudo
estava pronto.
Um gajo, tirou o pequenino do solo e o soltou pelos ares.
O drone executou o “vôo da galinha”, curto e trágico. Planou
uns poucos metros antes de dar uma cambalhota e embicar dentro do Tejo.
O porta-voz do Centro de Pesquisas Espaciais de Portugal
explicou, meio sem graça, que as vezes, a primeira tentativa não dá certo.
Esse caso engraçado me fez lembrar de outro, que me foi
relatado há muito tempo, por um bom amigo português.
Corria o ano de 1975 quando apareceu na CESP o Proença, um
portuguesinho que havia sido o Alcaide de Leiria, forçado a se mandar as
pressas para o Brasil após a Revolução dos Cravos, que derrubou o longo regime
Salazarista.
Nessa época já estava trabalhando na capital, depois de ter
passado quatro anos em Atibaia.
Fiquei meio invocado quando soube que o tal de Proença, que
havia sido admitido com assessor da nossa diretoria, com um ótimo salário(maior
que o meu), seria destacado para trabalhar em alguns projetos que estavam sendo
desenvolvidos por minha área.
Recebi o portuguesinho com um pé atrás, cheio de marra, pois
ele não era do ramo e teria de “colar na minha aba” , seguindo meu ritmo e meu
humor.
Toda minha aparente má vontade na resistiu ao nosso primeiro
encontro.
O portuguesinho logo de cara, demonstrou ser ótima pessoa,
vivo, perspicaz e dono de uma grande inteligência que pude comprovar ao longo
da nossa convivência.
Era um matemático porreta! Conseguia provar por a + b , que 2 + 2 era igual a
cinco.
Forçado a sair as pressas de Portugal, deixou na “terrinha”
mulher e dois filhos adolescentes, com os quais se comunicava eventualmente.
Proença, acostumado a conviver numa sociedade com padrões
rígidos de moral e costumes, adaptou-se de imediato a nossa liberalidade,
caindo literalmente na gandaia.
Não resistia a uma mulata. Mulheres de peles mais escuras
eram sua perdição.
Como previa uma longa estada em nosso país, passou a
procurar um pequeno apartamento nas imediações da Avenida Paulista(próximo a
Cesp), para comprá-lo.
Depois de alguma pesquisa, encontrou um bem a seu molde,
cuja proprietária era uma jovem senhora, por acaso, moreninha e recém
desquitada,
Em pouco tempo fechou a negociação, comprando o apartamento
“com a porteira fechada”, com todos moveis e utensílios, inclusive com a
ex-proprietária, que continuou morando no apê.
Viveu nessa boa vida quase uns dois anos, período durante o
qual “a poeira assentou” e as coisas voltaram a normalidade em Portugal.
Provavelmente desconfiada, a esposa e os filhos de Proença
vieram para o Brasil, a fim de recambiar o português para solo pátrio.
Antes porem da chegada da família, Proença, tratou de passar
a frente seu apartamento, para outro “patrício”, que de quebra, levou também a
antiga proprietária.
Semanas após a chegada da família, Proença se despediu dos
amigos brasileiros, e retornou a Leiria.
Deixou muita saudade, pois era um ótimo companheiro, como já
disse anteriormente, inteligentíssimo e dono de uma prosa cativante e gaiata,
repleta de histórias pitorescas.
Uma dessas histórias, que fiquei de mencionar antes das
divagações e recordações, era sobre a inauguração dos novos equipamentos
adquiridos pelo Corpo de Bombeiros de Leiria.
Para mostrar a eficácia e modernidade dos equipamentos, num
praça da cidade foi construída uma pequena casa rudimentar, onde foram
colocados, ao invés dos tradicionais bonecos, 2 ou 3 voluntários.
No dia da demonstração, a praça estava lotada, também com
autoridades e a mídia.
Atearam fogo na casa, mas por uma falha dos equipamentos, ou
por falta de pressurização nas mangueiras, o fogo se alastrou rapidamente,
matando os infelizes voluntários.
Parece mesmo uma piada de mau gosto, mas segundo Proença, o
fato realmente ocorreu, resultando numa triste tragédia.
Há uns três ou quatro anos atrás, soube por intermédio de um
conhecido da Eletrobras, que também havia se relacionado com o Proença, que ele
havia sido reeleito para o cargo de Alcaide, em Leiria.
Depois que os conhecemos, constatamos que os portugueses são
grandes e leais amigos, não se incomodando com nossas gozações, pois fazem o
mesmo, nos dando o troco, com o brasileiro no papel de gaiato.
José Roberto- 28/04/14